Voz da Turquia

Os EUA e a Turquia estão prontos para iniciar conversas abrangentes nesta quinta-feira para discutir se os aliados da OTAN podem superar profundos desentendimentos sobre questões como a Síria e os estreitos laços de Ancara com a Rússia.

Altos funcionários dos EUA e da Turquia devem se encontrar no Departamento de Estado para várias rodadas de conversas focadas em tópicos que vão desde a Síria, a invasão da Ucrânia pela Rússia, cooperação na defesa, energia, contraterrorismo e a guerra entre Israel e Hamas.

As conversas, denominadas Mecanismo Estratégico, prepararão o terreno para uma reunião na sexta-feira entre o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Hakan Fidan.

Os laços entre os EUA e a Turquia se distanciaram de uma parceria estratégica nos últimos anos, à medida que os desentendimentos entre as duas antigas nações aliadas aumentaram.

A aquisição pela Turquia, em 2019, do sistema de mísseis defensivos russo S-400 desencadeou sanções dos EUA contra Ancara e levou à sua remoção do programa do caça furtivo F-35. Enquanto isso, a Turquia permaneceu profundamente perturbada com o apoio dos EUA no norte da Síria à milícia curda, que ela vê como uma extensão do PKK, um grupo militante que considera uma organização terrorista.

Os EUA também ficaram irritados com o atraso de 20 meses de Ancara em aprovar a adesão da Suécia à OTAN, o que ocorreu em janeiro. O Congresso dos EUA aprovou desde então a venda de caças F-16 no valor de US$ 20 bilhões para a Turquia, algo muito desejado pelo governo turco.

Desde então, autoridades dos EUA começaram a descrever um desejo de ambos os lados de aprofundar as conversas em áreas nas quais os dois lados podem cooperar.

“Esta provavelmente será o mecanismo estratégico mais substancial e positivo que tivemos em anos”, disse um alto funcionário dos EUA sobre as próximas conversas.

No final de janeiro, os senadores dos EUA do Partido Democrata do presidente Joe Biden, Jeanne Shaheen e Chris Murphy, visitaram a Turquia e se reuniram com Erdogan. Murphy então disse que agora há “um momento significativo” nos laços bilaterais.

Em uma entrevista à Reuters, Shaheen descreveu sua visita como “bastante positiva em termos do potencial para redefinir as relações EUA-Turquia no futuro”.

CONVERSAS DIFÍCEIS

No entanto, não há ilusão de que a visita de dois dias vá resolver todas as tensões de longa data entre os dois aliados e algumas conversas difíceis são esperadas.

As conversas mais difíceis provavelmente ocorrerão sobre o rumo a seguir na Síria e os fortes laços econômicos de Ancara com a Rússia, que, segundo Washington, ajudaram o Kremlin a driblar algumas sanções dos EUA contra Moscou.

Shaheen disse que discutiu com Erdogan a relação de Ancara com Moscou, argumentando que não é do interesse da Turquia que o presidente russo, Vladimir Putin, “sinta que pode tomar o controle de qualquer país que queira”, uma aparente referência à invasão da Ucrânia.

“O potencial é muito maior para os EUA e a Turquia trabalharem juntos do que para a Turquia e a Rússia trabalharem juntas”, disse Shaheen.

Ancara se opõe às sanções ocidentais contra Moscou, mesmo tendo criticado a invasão da Ucrânia pela Rússia. Ela conseguiu manter estreitos laços com Moscou e Kiev durante o conflito.

Realizou as primeiras conversas entre as partes e ajudou a negociar um acordo para embarques de grãos da Ucrânia.

Enquanto isso, seu comércio com Moscou cresceu antes de uma ordem executiva dos EUA em dezembro complicar alguns pagamentos turcos por petróleo russo, bem como pagamentos russos por uma ampla gama de exportações turcas.

Altos funcionários dos EUA viajaram repetidamente para a Turquia para alertar empresas turcas sobre o risco de violar as sanções dos EUA.

“Eu acho que estamos vendo uma cooperação muito melhor lá”, disse o embaixador dos EUA na Turquia, Jeff Flake, na mesma entrevista.

Na Síria, qualquer avanço provavelmente continuará sendo elusivo depois de anos de desentendimentos.

A política dos EUA para a Síria está focada no combate aos remanescentes do Estado Islâmico e no treinamento de forças parceiras.

Lideradas pelas Unidades de Proteção Popular Curdas (YPG) e incluindo combatentes árabes, as milícias das Forças Democráticas Sírias têm sido um importante parceiro da coalizão liderada pelos EUA contra o Estado Islâmico na última década.

A Turquia quer que os EUA deixem de apoiar a milícia curda.

“Obviamente, vemos as coisas de maneiras diferentes em alguns aspectos, mas… nossos interesses se alinham quando se trata de derrotar o EI”, disse Flake. “Estamos tentando construir sobre as áreas em que temos um interesse coletivo, apesar de algumas diferenças que temos lá.”

Reportagem de Humeyra Pamuk; Edição de Lincoln Feast.

Fonte: US, Turkey kick off comprehensive talks to explore improving troubled ties | Reuters