Voz da Turquia

A Turquia, juntamente com sua rival do Egeu, a Grécia, aderiu formalmente na quinta-feira a uma iniciativa de defesa liderada pela Alemanha que visa criar um sistema integrado de defesa antimísseis europeu.

O ministro da Defesa da Turquia, Yasar Guler, descreveu a Iniciativa Europeia de Escudo do Céu (ESSI) como “um passo importante para cumprir as necessidades da OTAN”, falando após a cerimônia de assinatura realizada à margem de uma cúpula da OTAN em Bruxelas.

“Estamos prontos para contribuir com esta iniciativa com nossa ampla gama de recursos nacionais”, acrescentou Guler.

Após a cerimônia de assinatura na quinta-feira, Guler também teve breves conversas com seu homólogo grego, Nikos Dendias, disse o Ministério da Defesa da Turquia.

O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, anunciou a iniciativa em 2022, logo após a invasão da Ucrânia pela Rússia, que completará dois anos na próxima semana, em uma tentativa de estabelecer um sistema integrado de mísseis de curto, médio e longo alcance para a Europa.

A iniciativa permitirá a compra de sistemas de mísseis não europeus, incluindo os Patriots fabricados nos EUA, bem como os sistemas de defesa aérea Arrow de Israel, de acordo com o órgão de defesa da UE, Agência Europeia de Defesa (EDA).

Incluindo Turquia e Grécia, o número de países europeus que aderiram ao projeto chegou a 17, disse a OTAN. Entre eles estão Áustria e Suíça, que historicamente mantiveram a neutralidade militar.

A França, por sua vez, se opõe ao projeto com o argumento de que ele permitirá aquisições não europeias, em vez de pressionar por um consórcio que consistiria apenas em sistemas de mísseis fabricados na Europa.

Antes de a Turquia aderir à ESSI, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan visitou Berlim em novembro, durante o qual os dois lados discutiram a cooperação em defesa.

De acordo com Sven Arnold, pesquisador visitante do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança, a Turquia queria aderir ao projeto antes, mas a presença de sistemas de defesa antimísseis S-400 da Rússia pode ter sido um obstáculo.

“Por enquanto, a Iniciativa Europeia de Escudo do Céu é uma iniciativa bastante política que visa preencher a lacuna de capacidade no domínio da defesa aérea baseada em terra (GBAD) por meio da aquisição de sistemas prontos para uso. Seu valor operacional agregado ainda está para ser demonstrado”, disse ele ao Al-Monitor. “Do ponto de vista alemão, faz sentido ter mais aliados a bordo e ter uma continuidade geográfica do Mar Báltico ao Mar Negro”, acrescentou.

Mas ele também é cauteloso sobre a presença dos S-400 na Turquia.

“A intenção de Berlim é integrar a iniciativa à IAMD (Defesa Integrada de Ar e Mísseis) da OTAN. Mas isso pode ser ainda mais desafiador com sistemas adicionais não pertencentes à OTAN.”

A Turquia implantou baterias S-400 no país em 2019, mas o sistema de defesa antimísseis ainda não está operacional. A Grécia também tem os S-300 fabricados na Rússia, mas sinalizou que estava pronta para desistir do sistema, já que busca adquirir os Patriots fabricados nos EUA.

Embora Ancara não tenha anunciado a intenção de abandonar os S-400, Arnold acredita que a integração conjunta de Turquia e Grécia pode ter a ver com a OTAN tentando adotar uma política equilibrada em relação aos dois Estados membros que tiveram relações tensas entre si. “Talvez houvesse um acordo de que, se um país aderisse, o outro também aderisse.”

Os dois vizinhos do Egeu viram escaladas militares entre 2019 e 2023 por causa de reivindicações territoriais conflitantes no mar Egeu. No entanto, os aliados da OTAN retomaram os laços bilaterais no ano passado e concordaram em resolver seus desacordos históricos por meio do diálogo.

Outra explicação para a mudança de opinião da Alemanha pode estar na negociação entre Turquia, OTAN e Suécia para a adesão sueca à OTAN.

Abandonando suas objeções de quase dois anos à adesão da Suécia à aliança, a Turquia ratificou a adesão sueca no mês passado.

“Não deve haver restrições, barreiras ou sanções ao comércio e investimento em defesa entre aliados. Trabalharemos para eliminar esses obstáculos”, dizia uma declaração trilateral assinada entre as três partes em julho, à margem da cúpula dos líderes da OTAN em Vilnius.

A Turquia supostamente buscava aderir à iniciativa, anunciada por Berlim em 2022, antes, mas não recebeu um convite.Fonte: Turkey, Greece formally join German-led defense shield project – Al-Monitor: Independent, trusted coverage of the Middle East