Turquia acusada de usar software espião alemão em membros do CHP durante ‘Marcha para a Justiça’
As autoridades turcas usaram software espião desenvolvido por uma empresa alemã para se infiltrarem nos smartphones de membros do principal partido de oposição, o Partido Popular Republicano (CHP), durante uma marcha lançada pelo líder do partido, Kemal Kilicdaroglu, no meio do ano passado em protesto da prisão de um deputado do partido, de acordo com vários veículos de mídia alemães.
O jornal alemão Suddeutsche Zeitung e as emissoras públicas NDR e WDR informaram a notícia baseados em um estudo pelo grupo dos direitos digitais Access Now.
De acordo com as descobertas do Access Now, as autoridades turcas usaram o programa “Finspy” da Finfisher, que fica em Munique, para espionarem membros do CHP primariamente durante a marcha, chamada a “Marcha para a Justiça,” que durou três semanas.
A Access Now encontrou evidências de que contas falsas no Twitter postaram links para websites que prometiam informar os manifestantes sobre a manifestação se baixassem um aplicativo de smartphone.
O aplicativo incluía software da Finspy e permitia que o governo turco ganhasse acesso em tempo real aos contatos, fotos e vídeos dos donos dos smartphones.
Um perito em segurança na Universidade de Bochum na Alemanha analisou independentemente o software e contou ao Suddeutsche Zeitung, NDR e WDR que “parecia ser uma versão mais nova” de um software Finspy anterior.
A FinFisher se recusou a comentar sobre a história quando contactada pelo Suddeutsche Zeitung, NDR e WDR.
Onursal Adiguzel, vice-presidente do CHP e deputado em Istambul, descreveu as descobertas da Access Now como “preocupantes” e disse que os que tentaram coletar dados sobre os membros do CHP devem ser investigados. O líder do Kilicdaroglu também considerou a discussão na terça-feira durante um discurso na reunião do grupo de seu partido no Parlamento, argumentando que se necessário eles dariam entrada em um processo contra o governo alemão.
A Marcha para a Justiça de Ancara a Istambul foi iniciada em protesto à prisão de Enis Berberoglu, deputado do CHP, que foi sentenciado a 25 anos em 14 de junho de 2017 por vazar informações para uma reportagem sobre o transporte de armas para jihadistas na Síria feito por caminhões da Organização Nacional de Inteligência (MIT).
Todo dia, milhares de pessoas acompanhavam Kilicdaroglu, que terminou a marcha com um enorme comício em Istambul em 9 de julho. A marcha começou em Ancara em 15 de julho.
De acordo com a Deutsche Welle, a Alemanha possui regras estritas para a exportação de software espião e no passado já jurou bloquear exportações para países autoritários.
Enquanto isso, respondendo a uma pergunta dos três veículos de mídia alemães, o Ministério da Economia alemão disse que não tinha aprovado quaisquer licenças de exportação para software espião desde outubro de 2014. Ele não respondeu a uma pergunta complementar sobre se o ministério havia aprovado quaisquer licenças de exportação para a FinFisher especificamente.