Voz da Turquia

Na sequência do ataque violento do Hamas em 7 de outubro, desencadeando uma ofensiva intensificada de Israel em Gaza, a Turquia está testemunhando protestos contínuos contra Israel e os Estados Unidos, organizados por grupos radicais apoiados pelo governo. O aumento na retórica antissemita, agravado por um ataque aéreo na terça-feira a um hospital em Gaza, está cada vez mais permeando o cenário midiático. Notavelmente, veículos de mídia pró-governo adotaram um tom mais estridente em relação a Israel, chegando até a acusar jornalistas de oposição de serem agentes israelenses.

Após o incidente de terça-feira, com palestinos e israelenses se acusando mutuamente de realizar um bombardeio a um hospital que causou a morte de centenas, a Turquia testemunhou protestos do lado de fora das missões diplomáticas de Israel e dos Estados Unidos.

O jornal Sabah, dirigido por membros da família do Presidente turco Recep Tayyip Erdogan e supostamente afiliado à Inteligência turca, direcionou jornalistas e influenciadores das mídias sociais em um artigo publicado em 17 de outubro, intitulado “Agentes israelenses em ação”, afirmando: “No ataque aéreo ao Hospital Batista Al-Ahli em Gaza, realizado por Israel, pelo menos 500 civis inocentes foram martirizados. Enquanto o mundo inteiro condena veementemente os ocupantes, os agentes de Israel estão tentando encobrir o massacre passo a passo.”

O Sabah acusou a jornalista Nevşin Mengü, a quem rotulou como apoiadora do partido de oposição principal, de tentar exonerar Israel ao compartilhar um vídeo enganoso no X, anteriormente conhecido como Twitter.

O jornal também criticou o streamer do Twitch, Jahrein, por sua mensagem ‘Estamos com Israel’ em relação aos ataques do Hamas, e acusou a personalidade do YouTube, Oğuzhan Uğur, de culpar os palestinos e ignorar os ataques de Israel a civis inocentes. Uğur também foi alvo de críticas por afirmar: “Os palestinos realizaram um ataque suicida a Israel, que foi estabelecido nas terras que seus avós gananciosos venderam.” Além disso, Ibrahim Haskoloğlu, que compartilhava manchetes de notícias de última hora em suas contas de mídia social, também se tornou um dos jornalistas visados.

Membros do Hezbollah turco, alguns deles usando mortalhas fúnebres, realizaram uma manifestação em frente ao Consulado Geral de Israel em Istambul em 8 de outubro.

Jornais pró-governo acusam jornalistas de oposição de espalhar notícias falsas, citando boletins divulgados pelo Centro de Combate à Desinformação, estabelecido dentro da Diretoria de Comunicações Presidenciais em 2022, como referência. Desde 7 de outubro, o centro tem divulgado boletins, incluindo nas mídias sociais, afirmando que notícias críticas à Palestina são imprecisas. No entanto, relatórios incorretos relacionados a Israel não estão incluídos nesses boletins.

Israel temporariamente retirou seu corpo diplomático da Turquia devido a preocupações de segurança decorrentes de extensos protestos anti-Israel e do sentimento público em resposta às operações de Israel na Faixa de Gaza.

Entre os diplomatas israelenses que deixaram a Turquia na quinta-feira está a Embaixadora Irit Lilian, de acordo com fontes locais.

Israel emitiu avisos aos seus cidadãos na Turquia, instando-os a partir “o mais rápido possível” devido a preocupações com possíveis represálias.

Enquanto isso, a Embaixada dos EUA anunciou o fechamento temporário de seu Consulado em Adana por meio de um comunicado em sua conta de mídia social. O comunicado diz: “O Consulado dos EUA em Adana permanecerá fechado ao público até novo aviso. Cidadãos dos EUA podem remarcar seus compromissos para a Embaixada dos EUA em Ancara.”

São esperadas grandes manifestações relacionadas aos eventos em Israel e Gaza em toda a Turquia nas próximas semanas. Qualquer reunião, mesmo aquelas destinadas a serem pacíficas, pode se intensificar e se tornar violenta. A atividade de protesto pode resultar em maior presença policial, bloqueios de estradas e interrupções no tráfego.

O pessoal do governo dos EUA na Turquia recebeu instruções para minimizar os deslocamentos e evitar viajar para o distrito consular do Consulado de Adana, no sudeste da Turquia.
Fonte: While antisemitism is on the rise in Turkey, media run by Erdogan family targets opponents as ‘Israeli agents’ – Nordic Monitor