Acordo entre Rússia, Turquia e Irã sobre zonas de segurança na Síria
Rússia e Irã, aliados do regime sírio, e a Turquia, que apoia os rebeldes, assinaram nesta quinta-feira um memorando sobre a instalação de zonas de segurança, chamadas de “zonas de desescalada”, na Síria, destinadas a fazer cessar os combates neste país em guerra.
Os chefes das delegações dos três países, avalistas dos porta-vozes da paz em Astana, no Cazaquistão, firmaram o documento “sobre a criação de zonas de distensão na Síria”, declarou o ministro cazaque das Relações Exteriores, Kairat Abdrajmanov, ao fim destas negociações.
De acordo com o texto do acordo, do qual a AFP consultou uma cópia, os três países avalistas terão que definir agora, antes de 4 de junho, os limites destas zonas.
Sua validade será de seis meses com possibilidade de prorrogação, afirmou o enviado especial do presidente russo, Vladimir Putin, à Síria, Alexandre Lavrentiev.
“Estamos contemplando a possibilidade de que não tenham limite de tempo”, acrescentou Lavrentiev, que considerou que este acordo “abrirá o caminho para a preservação da unidade da Síria”.
Um grupo de trabalho formado por representantes dos três países avalistas deverá ser constituído antes de duas semanas.
O enviado da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, que também estava em Astana, qualificou esta quinta-feira de “dia importante”.
Os emissários do regime de Damasco e os rebeldes presentes na capital cazaque não subscreveram, no entanto, o acordo.
Um dos membros da delegação rebelde levantou a voz, inclusive, para protestar contra a assinatura do documento pelo Irã, país que apoia o presidente sírio, Bashar al Assad. O indivíduo acabou deixando a sala, segundo uma jornalista da AFP presente no local.
“Não participamos deste acordo, é um acordo entre esses três países. Obviamente, não aceitamos que o Irã (…) seja avalista desse pacto”, denunciou Usama Abu Zeid, porta-voz da delegação rebelde.
‘Pacificação’
Os Estados Unidos, país observador em Astana, saudou com grande prudência este acordo e declarou em um comunicado “apoiar todo esforço que possa verdadeiramente reduzir a violência na Síria”.
“Estamos preocupados (…) com a implicação do Irã como pretenso avalista (já que suas) ações na Síria não fizeram mais que alimentar a violência”, comentou a nova porta-voz do departamento de Estado, Heather Nauert.
O plano russo veio à tona na terça-feira durante uma conversa telefônica entre o presidente russo e seu contraparte americano, Donald Trump.
O plano prevê “zonas de segurança”, também chamadas “de distensão”, um termo difuso que pode se aproximar da ideia de uma zona tampão, sem que isto implique, no entanto, uma mobilização maciça de soldados para assegurar o cessar-fogo.
Segundo o texto, as “zonas de distensão” serão criadas no conjunto da província de Idlib (noroeste), nas zonas delimitadas no centro pelas províncias de Latakia, Aleppo, Hama, Homs e de Damasco com Guta oriental, assim como nas zonas delimitadas pelas regiões de Daraa e Quneitra.
A primeira versão deste projeto, consultado em árabe pela AFP, previa a criação de quatro zonas unicamente.
‘Novo conceito’
Segundo esta versão, “as zonas de segurança” serão formadas arredor das “zonas de distensão” com postos de controle e centros de supervisão, controlados conjuntamente pelas “forças dos países avalistas sob a base do consenso”.
Os territórios abrangidos serão zonas de exclusão aérea “com a condição de que não haja nenhuma atividade militar nas zonas”, segundo Putin.
Este plano favorecerá “o diálogo político entre os beligerantes”, explicou Putin na quarta-feira. Além disso, afirmou que “este consenso político deve conduzir, no fim das contas, a um restabelecimento completo da integridade territorial do país”.
A luta contra as “organizações terroristas”, tais como o grupo Estado Islâmico e a Frente Fateh al-Cham, antigo braço da Al-Qaeda na Síria, será mantida apesar da constituição destas zonas.
Erdogan avaliou nesta quinta-feira que este “novo conceito” permitirá resolver o conflito sírio em “50%”, uma guerra que deixou mais de 320.000 mortos e um milhão de deslocados desde março de 2011.
AFP /Agence France-Presse
Fonte: http://www.em.com.br