Espiões de Erdogan planejam sequestros e assassinatos de críticos no exterior
Dado o histórico da notória Organização da Inteligência Nacional (MIT) da Turquia que contratou o assassinato de três mulheres curdas no coração de Paris em janeiro de 2013 perpetrado pelos espiões de Erdogan, crescentes ameaças contra críticos do governo turco e dissidentes que são forçados a viverem em exílio em outros países devem ser levadas a sério.
Entre os que são alvos, estão incluídos jornalistas proeminentes que não tem escolha a não ser furgir da Turquia para escaparem de serem presos, torturados e até assassinados. No entanto, julgando pelas ameaças proferidas publicamente por capangas que deixam desfilar nas telas de televisão e nas páginas de jornais, controlados pelo governo, essa nova leva de migrantes políticos da Turquia certamente não estão livres disso tudo. Em um dia desses ao aparecer em um canal de televisão, Cem Kucuk, o loquaz implante do presidente turco Recep Tayyip Erdogan na mídia, ameaçou o jornalista veterano Bulent Kenes, antigo editor-chefe do Today’s Zaman, que é procurado para ser preso por acusações ridículas assim como dezenas de outros que trabalham na mídia. Kucuk, que tem ligações com a agência da inteligência turca, disse que Kenes e outros como ele serão arrancados de onde quer que estejam e trazidos de volta para a Turquia em operações secretas. “Espero que esmaguem suas caras no caminho de volta”, contou ele.
Kucuk, cujo nome não era realmente conhecido para os profissionais da mídia turca há apenas alguns anos, emergiu repentinamente como um porta-voz para Erdogan, fazendo sua vontade suja de disseminar medo por todos os lados para os que trabalham na mídia turca. Ele recebeu generosamente um espaço para escrever nos jornais pró-governo, ofereceram-lhe abundantemente tempo livre na televisão. Esse capanga, cujo laço está aparentemente nas mãos de Erdogan, pediu pelo assassinato de Can Dundar, antido editor-chefe do Cumhuriyet, que teve que fugir da Turquia por preocupações legítimas sobre sua segurança. Kucuk pertence a um elenco de personagens que fizeram campanha pela apreensão de órgãos de mídia afiliados a Fethullah Gulen, ao movimento político curdo, aos alevitas e à base democrática social. Atuando como um informante interno, Kucuk revelou iminentes batidas policiais, prisões e apreensões contra órgãos de mídia turcos antes que de fato ocorressem.
Uma vez que está bem estabelecido que esse ajudante fala pelo Rei que governa a Turquia com poder absoluto, qualquer coisa que Kucuk disse deve ser tomado literalmente. Depois de tudo que o Presidente Erdogan disse em 14 de outubro que “aqueles que fugiram para o exterior, vocês não devem se sentir seguros. Eles não podem se safar com isso”. Kucuk tuitou na terça-feira que o governo havia formado uma unidade de operações especiais para atingir membros do movimento Gulen no exterior e que fundos para ações desse tipo já haviam sido fornecidos. Isso significa que agências policiais e serviços de inteligência estrangeiros devem estar vigilantes para qualquer movimento que possa perturbar a segurança dessas pessoas vulneráveis. Talvez isso seja um ato de desespero da parte de Erdogan que foi rejeitado ao conseguir o que quer através dos canais oficiais. A maioria dos países simplesmente relutaram quanto aos pedidos do governo turco para entregarem os dissidentes porque eles não acreditam em acusações falsas que o regime de Erdogan inventa. O mundo livre considera as ações de Erdogan como nada além de uma parte de uma charada politicamente motivada.
Tendo dito isso, deve-se ser cuidadoso com Erdogan que está disposto a fazer o que for preciso para conseguir o que quiser, inclusive destruir as instituições políticas, econômicas e judiciais da nação, arriscar uma guerra com os vizinhos, ajudar e incentivar grupos radicais, incluindo o Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS) e a al-Qaeda, para usar eles como representantes. Assim como o regime opressivo da Turquia sob este ditador não reconhece o estado de direito em casa, ele não sente obrigação alguma de cumprir com convenções internacionais ao atuar em uma território estrangeiro. A presença de tropas turcas no Iraque e Síria sem uma permissão de Bagdá ou Damasco é uma clara violação de soberania, no entanto Erdogan diz que vai fazer como achar melhor, não importando o que outros digam ou façam a respeito. Ele abertamente considera a ideia de anexar antigas terras otomanas à Turquia, questionando o Tratado de Lausanne ao aumentar a condição de ilhas gregas no Egeu. Portano, qualquer ameaça que se exporta para países estrangeiros deve ser considerada como sendo uma ameaça válida e uma ação deve ser tomada para impedir quaisquer operações clandestinas que provavelmente sejam lançadas por serviços da inteligência turca ou seus contratantes.
Eis o que sabemos até agora. A inteligência turca já raptou três cidadãos turcos na Malásia em outubro. Ela monitorou e fotografou jornalistas proeminentes nos EUA e no Canadá, entregou suas fotos à mídia do governo para que assim um alvo possa ser pintado em suas costas. Ao aparecer em um canal de televisão, Ersoy Dede, outro capanga no exército de trolls de Erdogan, ameaçou o jornalista Tuncay Opcin, cujas fotos nos EUA foram pintadas com ameaças de assassinato nas primeiras páginas da mídia do governo. Está claro que os operadores da inteligência turca, ou trabalhando de embaixadas e consulados sob cobertura diplomática ou usando empreiteiros dentro das comunidades de expatriados turcos, têm monitorado as atividades de críticos e dissidentes no exterior.
Isso não é surpreendente dado o fato de que Erdogan segue as táticas de mulás iranianos ao consolidar seu poder na Turquia, usando o manual do Aiatolá Khomeini ao se apropriar do poder, intimidando oponentes, usando um feroz zêlo religioso anti-Ocidente apara botar fogo em seus apoiadores. Sabemos que os serviços de inteligência clandestinos do Irã foram grandemente influenciados pelo secto do século 11 chamado Hashshashin, a raíz da palavra assassino, que usavam assassinatos para tomar fortalezas e que operava a partir do norte do Irã. Os mulás também tinham realizado companhas similares de assassinatos no exterior que focavam críticos e dissidentes por algum tempo após a assim chamada Revolução Islâmica de 1979. Erdogan, que chamou o Irã de sua segunda casa, e sua família foi lindamente subornado pelo operador iraniano Reza Zarrab (que está sendo julgado no tribunal federal americano por acusações de violações das leis de sanção do Irã), obviamente usou seu chefe da inteligência Hakan Fidan, um recurso pró-Irã conhecido, para planejar ataques e assassinatos de oponentes e críticos fora da Turquia.
Sem dúvidas de que as operações conduzidas pelos serviços da inteligência turca no exterior poderiam facilmente serem detectadas por seus colegas dos outros países em um trabalho de reconhecimento diário de rotina. Contudo, isso não é o suficiente por si só para responder ao desafio fundamental pois ele requer uma diretiva política com um foco e alvo específico para realmente rebater a penetração da inteligência turca. Alguns países europeus, especialmente aqueles que abrigam grandes comunidades turcas tais como a França, Alemanha, Áustria e a Holanda já adotaram uma contra-estratégia abrangente contra a Turquia. Tanto os EUA quanto o Canadá montaram um recolhimento de inteligência prioritário sobre as redes paralelas de Erdogan na América do Norte que tem o objetivo de recrutar pessoas não apenas com ascendência turca mas também de outras nacionalidades muçulmanas, uma jogada que consideram como parte da radicalização de suas populações. Eles estão bem conscientes do fato de que os espiões de Erdogan têm tentado se infiltrar nas comunidades turcas e muçulmanas, criando ONGs de fachada, dirigindo um maquinário de propaganda, financiando redes, organizando manifestações, disseminando campanhas falsas, tentando isolar dissidentes e assediando críticos.
Erdogan pensa que pode atuar muito mais confortavelmente no continente africano, onde membros do movimento Gulen estabeleceram redes de educação, saúde, inclusão social e trabalhos de caridade. Se o que dizem for verdade, o MIT orquestrou os assassinatos de seis professores em um ataque contra um ônibus escolar em Mogadíscio, capital da Somália, em março deste ano. Dois professores turcos que estavam trabalhando para uma escola afiliada a Gulen na Somália. Contudo, a maioria dos países africanos possuem fortes serviços de contrainteligência que podem muito bem responder a complôs fomentados pelo serviço de inteligência turco, mas mesmo apenas um que escape à investigação pode custar a vida de um homem ou mulher inocente.
Talvez seja a hora de declarar o serviço de inteligência turco, aparentemente transformado em uma agência de detetive particular que organiza grupos de busca e caça para Erdogan, como um serviço de inteligência hostil que representa uma ameaça direta à segurança de outras nações. A classificação de serviço de inteligência amigável não mais se aplica ao MIT, que está pronto para incitar conflitos em outros países para que assim Erdogan possa usar isso para alavancar seu poder e influência. Essa operação arriscada infringe as liberdades, viola o estado de direito e os direitos fundamentais de imigrantes que buscam segurança em outros países. Uma vigilância máxima, investigação mais minunciosa e definitivamente mais recursos são necessários para expôr e rastrear os espiões de Erdogan.
Com certeza, a Turquia retaliaria por quaisquer prisões ou a expulsão de agentes de inteligência ou recursos que foram descaradamente direcionados para subverter os estados de direito das nações afitriãs e quebrar as regras de compromisso não declaradas da comunidade de inteligência. Mas o benefício de enviar uma mensagem clara a Erdogan supera as potenciais repercussões negativas. Eu acredito que isso é o que a Alemanha fez a respeito do ajudante pessoas de Erdogan, Muhammed Taha Gergerlioglu, que foi detido em 2015 sob acusações de espionagem na Alemanha e estava sendo julgado em um tribunal de justiça antes de ser solto depois que a Chanceler Angela Merkel ter fechado um acordo quanto aos refugiados com Erdogan. Se baseando em registros de grampos, Gergerlioglu e seus associados são oponentes ferrenhos do Ocidente em geral, e da Alemanha em particular. Considerando a Alemanha com o inimigo da Turquia, Gergerlioglu e seus parceiros estavam identificando expatriados, conduzindo vigilância ilegal e manipulando e polarizando membros da comunidade alemã de descendência turca até sua prisão pelas autoridades alemãs.
Parece que Erdogan agora requer histórias de raptos de turcos no exterior para solidificar uma percepção de que não existe escapatória de sua ira. Para esse fim, uma campanha de intimidação, complôs de sequestro e até o planejamento de assassinatos ou diretamente pelos agentes da inteligência ou através do uso de criminosos em países estrangeiros estão sendo trabalhados. Uma notificação diplomática junto a embaixada turca ou apresentar uma reclamação oficial junto ao governo turco não resolverá essa questão. Elas serão tentativas fúteis para ajudar resistir às investidas de Erdogan. Esse grande desafio necessita de uma ação de força, talvez lançar um processo oficial para investigar o tamanho e escopo dessas atividades cladestinas feitas pelos capangas de Erdogan em solo estrangeiro e indiciar e condenar os culpados. Erdogan não cessará suas tentativas de infiltrar, mas a rede clandestina em que ele depende para as operações não estariam tão dispostas a assumir mais alguma missão se receberem lições duras além das linhas inimigas.
Abdullah Bozkurt
Fonte: www.turkishminute.com