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Grupo de trabalho da ONU declara alegações de golpe em 2016 infundadas, minando a narrativa de Erdogan

Grupo de trabalho da ONU declara alegações de golpe em 2016 infundadas, minando a narrativa de Erdogan
fevereiro 24
16:48 2025

O Grupo de Trabalho sobre Detenção Arbitrária do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas emitiu uma opinião contundente sobre a prisão do ex-comandante da Força Aérea da Turquia, general Akın Öztürk, declarando sua detenção ilegal e sem suspeitas razoáveis. Um oficial militar altamente condecorado, Öztürk foi comandante da Força Aérea Turca de 2013 a 2015 e posteriormente nomeado para o Conselho Consultivo Militar Superior. Ele foi acusado de ser a principal figura por trás da tentativa de golpe de 15 de julho de 2016.

A decisão também enfraquece a narrativa oficial do governo do presidente turco Recep Tayyip Erdogan sobre o golpe fracassado, no qual Öztürk foi apontado como um dos principais arquitetos.

De acordo com a opinião do grupo de trabalho, adotada em sua 100ª sessão entre 26 e 30 de agosto de 2024, o governo turco não apresentou provas suficientes para justificar a contínua prisão de Öztürk. A decisão exige sua libertação imediata, reparação pela detenção indevida e uma investigação sobre os responsáveis pelas violações de seus direitos.

As conclusões do grupo de trabalho lançam sérias dúvidas sobre a versão do governo turco sobre a tentativa de golpe de 2016. Öztürk, condenado a 141 penas de prisão perpétua agravada e milhares de anos de reclusão, foi mantido sob custódia sem provas credíveis, afirmou o órgão da ONU. A decisão também destaca que o sistema judiciário turco não seguiu padrões internacionais de julgamento justo, minando ainda mais a confiança nos processos legais das repressões pós-golpe.

A opinião detalha que Öztürk estava de férias no momento da tentativa de golpe e só retornou a Ancara devido a uma emergência familiar. Testemunhos, incluindo os de líderes militares turcos, indicaram que ele agiu sob ordens para tentar conter a crise, e não para fomentá-la. O painel da ONU observou que as autoridades turcas não conseguiram refutar essas alegações de maneira convincente.

O grupo de trabalho relatou inúmeras violações dos direitos humanos durante a detenção de Öztürk. Relatórios documentaram que ele sofreu abusos físicos, incluindo ser despido, espancado e privado de necessidades básicas enquanto estava sob custódia policial. Ele também foi impedido de ter acesso a uma defesa jurídica independente, sendo designado um advogado pelo Estado. A ONU classificou sua detenção como arbitrária, citando a falta de base legal e graves violações do devido processo legal.

Texto da Opinião do Grupo de Trabalho do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas sobre Akın Öztürk

De acordo com a opinião da ONU, ele foi despido, espancado repetidamente e forçado a permanecer de cócoras ou ajoelhado por longos períodos. Ácido foi derramado em suas unhas, e ele sofreu abusos verbais constantes. Ele foi privado de sono, alimento e acesso a saneamento básico, enquanto era mantido constantemente em um ambiente iluminado. Além disso, Öztürk foi privado de cuidados médicos e de representação legal, sendo que as autoridades teriam instruído os agentes a lhe darem um “tratamento especial”, o que resultou em mais abusos físicos e psicológicos.

Fotos tiradas em 17 e 18 de julho de 2016 mostram claramente que o general Öztürk foi submetido a tortura e espancamentos enquanto estava sob custódia.

O Nordic Monitor já havia relatado que Elif Uzun Sümercan, então vice-chefe da unidade antiterrorismo do Departamento de Polícia de Ancara em 2016, foi acusada de agredir fisicamente o general Öztürk. Testemunhas que passaram por tortura e maus-tratos no centro de detenção afirmaram que policiais precisaram intervir para interromper o ataque dela contra o general. No entanto, Sümercan foi posteriormente premiada pelo governo e nomeada chefe de departamento no Ministério da Cultura e Turismo.

Em 2023, um tribunal turco ordenou o bloqueio de sites e postagens em redes sociais, incluindo conteúdos da conta do Nordic Monitor na plataforma X, que mencionavam Sümercan e seu envolvimento nos abusos contra Öztürk em 2016.

Segundo testemunhos verificados pelo Nordic Monitor, soldados detidos no centro de detenção foram instruídos a atacar Öztürk sob ordens das autoridades. Foi revelado que ele, já despido, foi brutalmente espancado pelos soldados após receberem a ordem.

O General Akın Öztürk é visto na casa da filha entre 22h30 e 23h do dia 15 de julho de 2016

Novas evidências confirmam que Öztürk não teve qualquer envolvimento no golpe fracassado e que foi falsamente apontado como líder dos golpistas pela Agência Nacional de Inteligência da Turquia (MİT). Na realidade, durante os eventos da noite do golpe, ele estava na casa de sua filha, a vários quilômetros da Base Aérea de Akıncı, apontada como o quartel-general dos golpistas.

Além disso, o painel condenou os procedimentos judiciais, observando que juízes ignoraram os argumentos da defesa, excluíram provas exculpatórias e desconsideraram relatos generalizados de tortura usadas para obter confissões. A opinião destacou que evidências críticas, incluindo gravações de CCTV não editadas da noite do golpe, foram retidas ou adulteradas, comprometendo ainda mais a integridade do processo judicial.

O painel da ONU instou a Turquia a libertar Öztürk imediatamente e a oferecer reparações pelos danos causados. A opinião também pede uma investigação independente sobre os responsáveis por sua detenção arbitrária e maus-tratos. A recomendação reforça o crescente escrutínio internacional sobre as detenções em massa promovidas pelo governo turco após a tentativa de golpe, que já receberam críticas de organizações de direitos humanos e governos estrangeiros.

A Turquia ainda não emitiu uma resposta oficial à opinião. No entanto, em casos anteriores envolvendo decisões da ONU sobre detenções arbitrárias, Ancara tem descartado tais conclusões como motivadas politicamente.

Após a tentativa de golpe de 2016, Erdogan consolidou seu poder e se fortaleceu como um líder que controla os poderes judiciário, legislativo e executivo.

Apenas algumas horas após o início da tentativa de golpe em 2016, o governo Erdogan lançou uma ampla repressão, removendo 4.156 juízes e promotores do serviço público, o que sugere que eles já haviam sido previamente identificados. As vagas deixadas pela purga foram rapidamente preenchidas por aliados e leais ao governo, muitos deles recrutados dentro do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP).

Muitos acreditam que, durante o estado de emergência declarado após o golpe fracassado, Erdogan estabeleceu um regime de governo unipessoal por meio de decretos-lei que não estavam sujeitos a revisão judicial ou parlamentar. Grupos de oposição alegam que a tentativa de golpe foi, na verdade, uma operação de bandeira falsa, organizada para eliminar opositores do governo. Mais de 130.000 servidores públicos e 24.706 membros das Forças Armadas foram removidos de seus cargos.

Atualmente, indivíduos associados ao movimento Hizmet — um grupo crítico do governo, que a administração Erdogan acusa de estar por trás da tentativa de golpe — continuam sendo detidos e presos com base em acusações fabricadas.

Levent Kenez/Estocolmo

Fonte: UN working group declares 2016 coup allegations baseless, undermining Erdogan’s narrative – Nordic Monitor

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