Por que dizem que Gulen é um terrorista?
Gulen é uma figura influente com suas ideias sobre as pessoas. Por isso, políticos na Turquia sempre quiseram o apoio dele, inclusive Erdogan.
Para Gulen, o mundo todo deve se reunir envolta dos valores universais e tem que respeitar as diferenças, promovendo uma cultura de convivência. Precisamos disso como nunca, porque agora vivemos em um mundo global onde não existem mais fronteiras físicas, com desenvolvimento dos veículos de comunicação e do transporte. Neste novo mundo, a própria religião pode ser um motivo forte para manter a paz universal, pois quando uma pessoa respeita a crença/pensamento do outro, ele receberá em retorno respeito a sua fé/ideologia. Ele acredita que a democracia é o melhor sistema para concretizar isto.
Do lado do Erdogan, ele quer transformar a sociedade turca em uma sociedade de linha islamista que exige uma obediência total ao líder do país. Assim ele pretende reunir outros países muçulmanos sob o teto de um “califa/líder religioso/líder forte que tem influência no mundo islâmico” para formar um bloco forte a frente dos países não muçulmanos. Então, a teoria dele está baseada em uma separação total entre o mundo oriental e o ocidental, enquanto que Gulen defende a integração/colaboração de dois diferentes mundos.
Gulen sempre teve o mesmo discurso desde sua juventude e nunca mudou a sua postura liberal/democrata. Mas Erdogan chegou ao poder prometendo “respeitar a todos os grupos étnicos e religiosos, abrir mais espaço para a liberdade de expressão e a democracia em um país pluralista.’ No seu primeiro e segundo mandato de 8 anos ele realmente fez o que prometeu, mas no decorrer de tempo ele mudou seu caminho e se tornou autoritário.
Neste cenário político da Turquia, as duas ideias não se alinharam e Erdogan decidiu tirar o papel de Gulen na Turquia para executar os seus planos. Apesar de ter uma base forte e apoio popular na sociedade, Erdogan não conseguiu “vencer” o clérigo turco porque ele não é um político mas sim um intelectual.
Para conseguir substituir “o efeito do Gulen na sociedade” com a força do estado. No início tentou copiar as ideias/projetos do Gulen. Abriram escolas e centros culturais dentro e fora da Turquia mas eles não foram um sucesso.
Para um líder político que não tem capacidade de superar ou controlar as ideias do Gulen e de uma sociedade civil forte, unida e inspirada pelas ideias dele, então o único jeito de vencer este grupo/movimento seria desacreditar a imagem do erudito islâmico turco perante o povo.
Assim, ele começou uma campanha para manchar Gulen e o movimento Hizmet, usando a mídia que ele controla. Ele apontou Gulen como responsável de todas as maldades que aconteceram e estão acontecendo na Turquia.
Em 2013, surgiu um escândalo de corrupção que envolvia ele junto com seu filho e quatro ministros do seu partido, incluindo seus filhos. Ele considerou esta investigação policial como “uma tentativa de golpe” e negou a ser investigado e processado. A partir deste momento ele começou chamar Gulen de “terrorista e traidor”, acusando ele de “liderar seus seguidores na criação um estado paralelo”.
Começou a fazer uma “caça às bruxas” dentro e fora da Turquia, fechando as escolas, multando os empresários, dominando os veículos de mídia do movimento etc.
Até hoje ninguém acredita que Gulen seja um “terrorista”, pois ele é um clérigo que nunca radicalizou as pessoas e seu discurso sempre trouxe uma mensagem pacífica.
Após a tentativa de golpe que aconteceu no dia 15 de julho, Erdogan encontrou uma oportunidade única para apresentar Gulen como terrorista. Sem provas concretas, mas com uma mera acusação, ele disse que foi Gulen quem incentivou este golpe. Apesar de tantas suspeitas de um autogolpe, as pessoas acreditaram em Erdogan. No seu primeiro discurso, sorrindo para as câmeras, Erdogan considerou esta tentativa de golpe como “um presente de Deus” e declarou “uma limpeza total” no país.
O Gulen está condenando qualquer tipo de golpe, negando veementemente a participação. Gulen convida Erdogan a criar uma comissão internacional para investigar a tentativa de golpe.