Mustafa Yeşil responde a questões sobre o Movimento Gülen
Neşe Düzel, do jornal Taraf, entrevistou Mustafa Yeşil, presidente da Fundação de Jornalistas e Escritores, sobre o Movimento Gülen. A entrevista foi publicada em 7 de maio de 2012. O Movimento havia sido exposto a outra difamação naquela época. Düzel fez todas as perguntas que todos gostariam de fazer sobre o Movimento e sua dinâmica.
Por que Mustafa Yeşil?
Ultimamente, um tópico muito debatido, na Turquia, tem sido o conflito entre o governo e o Movimento (também conhecido como “Hizmet”). O fato de o presidente do Serviço Nacional de Inteligência (MIT) ter sido convocado para interrogatório, por procuradores especialmente autorizados, devido às negociações de Oslo com o PKK prejudicou ainda mais esta relação. Como resultado, o Movimento foi coagido a publicar dois longos comunicados. Tendo aparecido na mídia, anteriormente, para discutir suas conquistas, pela primeira vez, considerou-se necessário dar uma explicação sobre sua relação com o estado e a política; especificar sua posição; e explicar o que está tentando alcançar. Assim, conversamos com Mustafa Yeşil, um dos precursores do Movimento, sobre o que é o Hizmet, como funciona, suas escolas e alojamentos, quem são seus membros, se alguns deles podem ser encontrados entre policiais e procuradores públicos, nomeações da força policial e alegações de monitoramento. Também perguntamos sobre o papel do Movimento na prisão de Ahmet Şık, a convocação do secretário do MIT, relações estado-política-Movimento, a crise do MIT, o conflito entre o governo e o Movimento, por que Fethullah Gülen critica o Partido AK e o Primeiro-Ministro Erdoğan, e se o Movimento apoia a política do governo com relação aos curdos. Desta forma, pela primeira vez, um jornal entrevista alguém, além de Fethullah Gülen, em nome do Movimento. Mustafa Yeşil, presidente da Fundação de Jornalistas e Escritores, uma das instituições mais importantes dos Movimento, é graduado pela Faculdade de Teologia da Universidade Marmara e foi representante do jornal Zaman, em Londres.
NEŞE DÜZEL: Você é um membro [participante]* do Movimento Gülen?
MUSTAFA YEŞİL: Se este termo é usado para definir pessoas que se beneficiaram dos sentimentos e ideias do Sr. Gülen e que as adotaram como princípio e ideal, então sim, eu sou uma destas pessoas.
Como você se juntou ao Movimento?
Eu comecei a participar ativamente do Hizmet após minha graduação na universidade. Antes disso, eu frequentava uma escola Imam-Hatip. Durante meus anos no ensino médio, fiquei sabendo sobre Hocaefendi (respeitado professor, Fethullah Gülen). Ouvi falar sobre suas fitas cassetes, as ouvi, li seus livros. Essas eram fontes sérias de nutrição mental e espiritual para nós, naqueles dias. Para nós, Hocaefendi parecia ser um modelo extraordinário de pessoa ideal.
O que significa ser um membro do Movimento?
“Membro do Movimento” não é o termo correto, portanto não o usamos. Em vez disto, usamos “a pessoa que ama o Hizmet (Servir)”, pois este movimento não tem uma estrutura caracterizada por registros de afiliação, cerimônias de admissão-desligamento, reuniões regulares e outras atividades similares.
Os membros do Movimento não organizam reuniões?
Claro que sim. Eles se reúnem de acordo com as instituições, unidades ou projetos com os quais estão envolvidos, por exemplo, um diretor de escola com seus professores, uma associação empresarial com seu conselho de diretores e uma fundação com sua gerência. Porém, isto não significa afiliação.
Por que não?
É mais correto dizer “simpatizante” ou “voluntário,” pois este é um movimento construído por pessoas que amam e estão interessadas em Hizmet. Naturalmente, algumas pessoas assumem alguns papéis. Contudo, outras proveem apenas apoio material, ou não proveem apoio material nem tempo, mas amam o Hizmet. Aqueles nos círculos externos têm uma abordagem neutra dizendo “estas pessoas não têm más intenções.”
Há uma hierarquia?
Se você está perguntando sobre uma estrutura com instruções, anúncios, programas e projetos vindos de cima e sendo obedecidos palavras por palavra… não, não há. Talvez haja uma hierarquia relacionada às instituições e organizações que cooperam entre si em certos projetos. Cada organização tem um conselho de diretores legais e presidentes. Hocaefendi é um líder de ideias; ele não é um líder gerencial [ou de qualquer outro tipo] do Hizmet.
Vocês têm muitas instituições relacionadas à educação, meios de comunicação e outras áreas. Quem elege seus conselhos de diretores?
Tudo, incluindo indicações, nomeações e seleção, é conduzido pela fundação ou companhia sob a qual se localiza a instituição relacionada. Nossas fundações não são fundações de afiliação; em vez disso, elas foram fundadas por conselhos de curadores. Assim, não há afiliação, mas somente doadores voluntários. Tome como exemplo as instituições mais conhecidas do Hizmet: suas escolas. A primeira escola, fundada em 1982, em Izmir, foi aberta pela Fundação Akyazili de Izmir. Assim o conselho de curadores da fundação determinou as indicações, nomeações e descrições de trabalho dos diretores e professores da escola.
O Movimento tem pessoas responsáveis por cidades?
O Hizmet pode ter uma escola, universidade, associação empresarial, fundações e associações em uma cidade… mas não da maneira que você intenta. No entanto, há pessoas que conhecem Hocaefendi muito bem, com profundidade científica e intelectual. Suas opiniões e ideias são consultadas de forma que os pensamentos sejam refrescados e os princípios do Hizmet sejam explicados. Estes indivíduos dão palestras e, também, organizam conferências e seminários para o benefício emocional e espiritual das pessoas. Nós chamamos os chamamos abi (irmão mais velho). Assim como Hocaefendi, estes abis não são parte de qualquer estrutura gerencial.
Quem decide sobre como ou onde as reuniões ocorrem?
Isto requer uma longa resposta… Por exemplo, seria mais conveniente se você perguntasse como organizamos reuniões para os jornais, escolas ou alojamentos, pois cada um tem seu próprio esquema gerencial que funciona independentemente.
Quem gerencia os alojamentos?
Eles são gerenciados pelas companhias e fundações que os estabeleceram. Uma companhia pode ter vinte alojamentos. Para compartilhar suas experiências, estes alojamentos podem organizar seminários em comum, fazer programas de treinamento de diretores e ter reuniões internas para buscar novos funcionários e fazer os funcionários atuais mais efetivos. O conselho da companhia planeja todas a reuniões e programa de seu alojamento. Contudo, desde que os gerentes dos alojamentos são nutridos pela mesma fonte de princípios, seu funcionamento é praticamente o mesmo em todo o país.
Quantos participantes há no Movimento?
É impossível dizer. Mesmo se você considerar apenas os professores… hoje há um total de 1.000 escolas, na Turquia e no exterior. Se cada uma delas tiver 10 professores, há 10.000 professores, no total. Além disso, há associações empresariais. Há, também, pessoas nos meios de comunicação que amam o Hizmet. Num todo, milhões de pessoas amam o Hizmet.
Qual o propósito do Movimento?
O Movimento tem um objetivo local e um global. Seu objetivo local é ajudar à Turquia a assumir seu lugar de direito em ciência, economia, política e educação por meio de pessoas bem educadas e qualificadas.
Vocês têm escolas, alojamentos, companhias industriais e comerciais e empresários para elevar a educação e economia da Turquia. Contudo, vocês também têm jornais, canais de TV e revistas. Por que vocês os têm?
Por que não? A mídia é uma linguagem importante da consciência pública. Você pode imaginar que tem algo a dizer, mas não tem língua para falar? As primeiras escolas foram abertas em 1983-84. O jornal Zaman foi estabelecido em 1986. Além disso, estas boas atividades precisam ser anunciadas ao público. De que outra forma seria possível responder àqueles que difamam suas boas ações e tentam manchar sua reputação? Como você poderia expressar a si mesmo? Assim, um movimento precisa de meios de comunicação para se expressar, da mesma forma que uma pessoa precisa de uma língua para expressar a si mesma.
Qual é o seu objetivo global?
Hocaefendi diz, “Com tudo que fazemos em nossos projetos, devemos formar uma cultura de vida conjunta no mundo, já que suprir o mundo com paz e alegria só pode ser alcançado com a formação de uma cultura de vida conjunta.” O Hizmet tem mais de 1.000 escolas em 140 países; cerca de quinze delas são universidades.
Quantas universidades vocês têm na Turquia?
Há cerca de 300-350 escolas na Turquia, oito ou dez das quais são universidades. Além disso, claro, o alcance global de nossos programas educacionais contribuirão para a promoção da Turquia no futuro, pois amigos da Turquia florescerão nestas escolas. A habilidade destes indivíduos ao redor do mundo ajudarão a Turquia a alcançar um reconhecimento global.
Quantos jovens já graduaram em suas escolas, até o momento?
Dezenas de milhares…
Vocês os encorajam a buscarem trabalho no governo?
Naturalmente, por que não? Hoje em dia, um estado só pode competir com outros estados se tiver recursos humanos qualificados.
Dizem que a força policial tem muitos membros do Movimento. Você sabe quantos de seus simpatizantes estão na polícia?
As pessoas trabalhando para a polícia são os filhos e filhas deste país. Elas são as crianças do povo da Anatólia vindos das raízes deste país. Eles são os filhos de nossos vizinhos. Quando falamos de um grande número de pessoas que amam o Hizmet… não somente na força policial, eles estão presentes na economia, turismo, agricultura e, também, na administração pública.
Nosso governo ainda não pode ser auditado, inspecionado ou questionado. Além do mais, ele ainda não é transparente. Nós vimos o que saiu do estado durante o processo Ergenekon. Este estado ainda precisa ser salvo de se tornar uma ferramenta nas mãos de alguns indivíduos ou grupos, pois ainda não se tornou um estado democrático. Assim, a batalha para possuir o estado continua. Em sua opinião, este não é um estado assustador?
O pânico do estado termina quando este começa a se tornar transparente. Quando as pessoas assustadas por ele encontram trabalho nele, em algum momento, podem dizer “este é o meu estado agora,” então, o estado não é mais assustador.
O estado deixa de ser assustador somente quando é transformado em uma estrutura que não pode ser possuída, ou seja, um estado de leis democráticas. Deixa de ser importante qual comunidade, círculo, movimento ou ideologia os funcionários do estado apoiam ou se afiliam, pois ninguém pode tomar o controle do estado. Nós não temos tal estado! Ainda temos uma estrutura estatal em que todos tentam se agrupar para tomar o controle. Visão Pró-Nacional, Pró-Movimento, Nacionalistas e Kemalistas – todos eles estão na polícia e em conflito mútuo. Você sabe quantos simpatizantes vocês têm na polícia?
Como posso saber? Se alguém na polícia tem seu coração voltado ao Hizmet e expressar isto é arriscado… se a pessoa não compartilha sua inclinação com ninguém, como você pode saber se ela o apoia ou não?
Por que seria arriscado?
No passado, algumas pessoas foram listadas como policiais Gülenistas. Em 1992 e 1996, assim como durante algumas operações no sudeste, em 2008, listas de policiais Gülenistas foram reveladas. Como resultado, eles foram removidos de seus postos e transferidos pela administração.
Recentemente, houveram alegações de que policiais não-Gülenistas têm sido desligados. Você acha que isto é verdade?
Se isto acontece, não pode ser aceito. Assim como os direitos daqueles que foram tratados injustamente por serem policiais Gülenistas, no passado, foram defendidos, os direitos destas pessoas também deveriam ser defendidos. Ouça… o Hizmet não é uma estrutura com objetivos políticos. Se o Hizmet for abusado durante problemas políticos… O Hizmet pode ser abusado em alguns problemas pessoais de alguns indivíduos. Caso contrário, há apenas uma obrigação para o policial pro-Hizmet, que é trabalhar com justiça aderindo às leis e regulamentos do estado. Se alguém que se diz pro-Hizmet é injusto, viola o direito de outras pessoas e atribui isto ao Hizmet, então, ela está cometendo um crime. Certamente, justiça deve ser feita.
Na sua opinião, o que está acontecendo com a polícia?
A Turquia está passando por um de seus maiores julgamentos. Aparições assustadoras estão surgindo da caixa fechada do estado. Alguns grupos efetivos não querem que o estado seja transparente, e por isso estão criando esta apreensão na força policial. As pessoas culpam a polícia por esta percepção. Isto leva a criação de uma noção pública sobre a presença de pessoas agindo em nome do Movimento dentro da força policial e do sistema judiciário.
Não é verdade que alguns policiais e procuradores públicos apoiam o Movimento?
Naturalmente, há alguns procuradores que o apoiam. Estas pessoas estão, também, nas forças policiais. Porém, o que o Hizmet quer? O Hizmet diz, “O estado deveria ser transparente. Transações secretas e obscuras deveriam ser reveladas.” Neste ponto, não há conflito entre a polícia e aqueles trabalhando no judiciário e na política.
Os membros do Movimento empregados pelo estado participam das reuniões do Movimento?
Já vi governadores e chefes de polícia se juntarem a estes painéis, seminários e reuniões de empresários, quando são abertos ao público.
Eles recebem tarefas específicas?
Não. Que tarefas eles deveriam receber? A única tarefa que recai sobre as pessoas do Hizmet é servir a outras pessoas tão bem quanto possível, de acordo com suas respectivas posições.
Os policiais que prenderam Ahmet Şık e Nedim Şener e os transferiram para o procurador estão entre os membros do Movimento?
Para que eu dissesse “sim, eles estão”, eu precisaria de evidência. Neste momento, eu não tenho esta informação.
Você pode dizer que eles não estão entre os seus membros?
Eu não sei. Eu perguntei ao Hocaefendi, “O senhor conhece estas pessoas, estes procuradores?” Ele respondeu, “Não, não os conheço” Ainda perguntei, “o senhor não conhece estas pessoas, estão elas entre aqueles que ouvem os seus conselhos?” Hocaefendi respondeu, “Aqueles que ouvem meus conselhos não deveriam ir contra a justiça ou além dos limites do direito. Acima disto, eu não conheço nem reconheço estas pessoas.”
E agora?
Sim… Agora, com relação àqueles que dizem “estas são pessoas pro-Movimento,” eles têm alguma evidência sólida para provar suas alegações? Certamente, há pessoas que amam o Hizmet, o Movimento. Se elas estão dispostas a algo que não é bom, a lei e seus regulamentos lidarão com elas. O Hizmet não pede que alguém preste contas disto. Como um movimento cívico poderia fazê-lo? Assim, ninguém poderia culpar o Hizmet por isso, assim como a lei deveria impor os regulamentos relevantes. Além disso, não é correto classificar as pessoas com relação à sua religião e opiniões. Da mesma forma, não é correto questionar ninguém sobre sua identidade antes de olhar suas ações.
Não é ilegal se organizar em torno de uma identidade dentro do estado?
Claro que sim. Se tal organização existe, o estado deveria reprimi-la da mesma forma que está fazendo com o Ergenekon. O estado fará o que for necessário se alguém estiver abusando do Hizmet para seus próprios fins.
Há membros do Movimento entre os procuradores?
Podem haver, naturalmente. Por que não? Por que isto não seria correto? As leis, regulamentos e regras deste país são de conhecimento público. Trabalhadores do estado deveriam agir de acordo com elas.
Não há uma probabilidade de que os membros do Movimento, no estado, possam agir de acordo com sua ideologia?
As pessoas que põe o serviço ao país à frente de tudo não podem servir a outra coisa. Se eles o fazem, então, não podem dizer que são leais e pertencem ao Hizmet. Como você pode dizer “Eu apoio o Hizmet” e ainda assim apoiar outras organizações? Isto só pode ser chamado “abuso do Movimento”
Como você interpreta a prisão de Ahmet Şık and Nedim Şener?
Eu não aprovo a prisão de pessoas por causa de suas ideias e discursos. Se o judiciário interferiu com a liberdade de imprensa, isto não é correto. Contudo, se há outras conexões, eu não as conheço. Tudo será revelado pelo sistema judiciário, pois é sua obrigação investigar e encontrar todas as evidências relevantes. Eu li a acusação contra Ahmet Şık.
Você se convenceu?
A acusação alega que: em vez do conteúdo do livro, há um problema em como e por quem o livro foi formado. Há especulação de que estas conexões são um braço do Ergenekon na mídia, tentando desacreditar o caso Ergenekon. Se o conteúdo do livro for a razão de sua prisão, então, não é convincente, já que o livro não diz nada de novo. Na verdade, seu conteúdo já está disponível nos livros escritos por Zübeyir Kındara e Saygı Öztürk. O livro não contém nada que constituiria crime ou perturbaria o Hizmet.
O que você acha dos rumores que se espalharam de que o Movimento é responsável por estas prisões?
Há alguma evidência de que aqueles que os prenderam o fizeram porque pertencem ao Movimento?
Os promotores que convocaram o secretário do MIT para interrogatório são membros do Movimento?
Eu não sei. Também estou curioso sobre o porquê eles convidaram o secretário do MIT para interrogatório. Com base em que isto está sendo feito e com que intenção? Eu não sei porque este incidente aconteceu e qual era o objetivo.
Então, por que o os meios de comunicação do Movimento defenderam tanto a decisão dos procuradores?
Durante o processo Ergenekon, os jornais e a TV sempre apoiaram a polícia, o sistema judiciário e o governo em geral. Talvez seja o mesmo reflexo. Talvez, eles tenham pensado em linhas de: “Neste país, os chefes de gabinete e comandantes das forças armadas foram convocados para interrogatório. Se há algo errado com o MIT, eles podem pedir um interrogatório e uma investigação.”
O secretário do MIT foi chamado para interrogatório, também, como “suspeito” em relação às negociações de Oslo. O Movimento é contra estas negociações entre o estado e o PKK?
A opinião geral do Hocaefendi com relação à política do estado e os métodos de combate ao PKK nunca se opôs às diretrizes do estado. Ao contrário, ele têm, consistentemente, aprovado e apoiado os programas e projetos escolhidos pelo estado dentro de seus próprios órgãos. Contudo, frequentemente, têm-se afirmado o oposto. Eles dizem que o “estado, na verdade, prefere negociar com o PKK, para mediar suas demandas, e entrar em acordo sobre elas. O Hizmet, por sua vez, apoia um estilo linha dura com relação às Operações KCK.” Isto não é correto.
No entanto, os meios de comunicação do Movimento têm defendido esta política linha dura…
O Hizmet não é responsável pelas opiniões pessoais de nenhum de seus colunistas.
Esta política foi defendida, também, como a política da mídia do Movimento. No início de nossa entrevista, você disse que vocês explicam suas opiniões e atividades através da mídia. Desta forma, por que a veiculação desta política em seus meios de comunicação, agora, não são responsabilidade sua com relação à questão mais fundamental: o problema curdo?
Todos os tópicos escolhidos pelos colunistas, naturalmente, não são nossa responsabilidade. Eu sei disso. Até o momento, o Sr. Gülen sempre aprovou a política e progresso do estado com relação a este assunto.
Gülen aprovou as negociações de Oslo?
Eu falo do princípio geral. O Sr. Gülen acredita que, “Qualquer estilo, método e estratégia na luta contra o PKK pertence ao estado e suas instituições.” As palavras que ele usa quando é questionado sobre o problema curdo são, sempre, as seguintes: “A luta com o PKK é um problema de segurança. As estratégias com relação a isto são decididas pelas unidades de inteligência do estado, estruturas e instituições policiais. Incluindo as negociações de Oslo, o assunto da luta contra o PKK pertence ao estado. Isto [a luta contra o PKK] está acima do nosso controle.”
Há algum conflito entre o Movimento e o MIT?
Tal conflito não é possível. Naturalmente, pode-se esperar que pessoas trabalhando no estado, assim como nos sistemas judiciário e policial tenham ideias diferentes.
O secretário do MIT foi considerado suspeito devido à sua participação nas negociações de Oslo, a qual foi solicitada pelo primeiro-ministro. Um grande conflito, conhecido como “A crise do MIT”, existe agora entre o governo e o sistema judiciário, pois procuradores trabalharam com a polícia. O apoio ao Movimento é forte entre os procuradores? Se o apoio ao Movimento é forte, isto explicaria a crise do MIT? Há alegações antigas de que “o Movimento é forte dentro do sistema judiciário e da polícia,” contudo, vocês não fizeram nenhum esforço para mudar esta percepção tão difundida. Por quê?
Tantos tipos diferentes de acusações e difamações foram feitas contra o Hizmet nos últimos quarenta anos! Elas vão desde alegações de que a sharia será estabelecida até uma suposta cristianização da Turquia. Recentemente, nós provemos uma explicação extensa sobre esta percepção difundida e a posição declarada do Hizmet.
Eu estou curiosa sobre isto, também. Por que vocês fizeram uma declaração apenas agora? Quando disseram que o Movimento teve participação no caso de Ahmet Şık e Nedim Şener, vocês não deram uma resposta oficial. Porém, quando o secretário do MIT foi convocado e rumores sobre um conflito entre o governo e o Movimento surgiram, vocês publicaram esta longa declaração à imprensa. Alegações sobre o Movimento são antigas. Este novo conflito com o governo os perturbou?
A visão sobre este suposto conflito e sobre os esforços de algumas pessoas em se beneficiar disto… é óbvio que qualquer conflito do tipo enfraquecerá ambas as partes. O poder político perderá força à sua maneira, assim como o Hizmet – apesar de ser inocente.
Você acha que é correto convocar o secretário do MIT por causa das negociações de Oslo?
Intervenções que prejudicam a integridade e harmonia do poder político, e que causam problemas em suas operação, não são corretas. Contudo, em geral, os dirigentes do MIT podem, naturalmente, ser interrogados.
Recentemente, você passou uma semana com Fethullah Gülen. Ele apoia a política curda do governo?
Ele apoia os esforços sérios do governo em resolver este problema. Contudo, são eles suficientes? Na minha opinião, não, pois uma solução permanente só é possível se garantida por uma nova constituição; Hocaefendi disse isso. Ele, também, enfatizou que alguns dos problemas fundamentais da Turquia só podem ser resolvidos por meio de uma nova constituição.
Gülen acredita que o problema curdo pode ser resolvido por meio de negociações?
Ele diz que “é muito natural que o estado enfrente armas com armas, enquanto as pessoas com armas não as deixem para trás. Ao mesmo tempo, negociação é outra solução. Se haverá algum resultado, depende do estado.”
Na verdade, prender o secretário do MIT faria com que o próximo passo fosse o interrogatório e prisão do primeiro-ministro. O questionamento sobre o processo de Oslo atingiria o primeiro-ministro, correto?
Este assunto chegaria a isto… iria tão longe… Eu entendo isto pela reação deste último. Assim, ambas as partes (o governo e o Movimento) seriam prejudicadas no processo, que, em contrapartida, beneficiaria muito outras pessoas, na Turquia. Num momento como este, quando a Turquia está se equilibrando em um caminho muito sensível e delicado, nos preocupamos muito que o governo atual possa se enfraquecer e que os projetos razoáveis e inocentes do Movimento possam ser manchados. Nós publicamos nossa declaração para lançar uma luz sobre isto.
Há algum membro do Movimento na política?
Algumas pessoas que gostam do Hizmet e o aprovam podem estar envolvidos com política. Contudo, se você está perguntando se há alguma organização do Hizmet na política, não, não há nada disso.
Há deputados do Movimento na Assembleia?
Há deputados que gostam do Hizmet.
O Movimento recomendou suas candidaturas?
Só sei disso: Quando eles visitaram Hocaefendi para perguntar se ele recomendaria algumas pessoas…
Eles eram do Partido AK?
Acredito que sim… Hocaefendi mencionou dois nomes depois de muita insistência. Há apenas duas pessoas, que eu saiba.
Quem são estes deputados?
İlhan İşbilen e Muhammet Selçuk.
Como você vê a declaração de Fethullah Gülen sobre o Mavi Marmara?
Hocaefendi chamou atenção para o fato de que as atividades de uma organização civil, conduzidas dentro de uma estrutura civil não deveria causar uma crise entre dois países. Naturalmente, ajuda humanitária é importante e valiosa. Contudo, ele apontou que qualquer ajuda destinada a Gaza não deveria se tornar uma questão de animosidade entre dois países. Um lado é uma organização civil; o outro lado é o estado. Um estado ou é justo ou injusto em sua posição. Nós não estamos em posição de julgar isto. No entanto, quando este estado diz, “não venha”, então, como organização civil, não é possível transpor esta barreira.
Por que um Movimento religioso adotou uma atitude num caso diplomático?
Não creio que ele [Sr. Gülen] tenha pensado diplomaticamente. Alguém neste país dá ou pode dar sua opinião sobre os assuntos relacionados ao seu próprio país?
Durante o referendo constitucional de 2011, o Movimento empenhou um bom tempo trabalhando por um voto “sim”. Por que vocês apoiaram o referendo?
Hocaefendi prestou muita atenção ao referendo porque isso sugeria que vinte e seis itens seriam mudados. Ele previu que para derrotar o militarismo e avançar com a liberdade, o referendo oferecia uma grande oportunidade para Turquia. Ele queria que o país tivesse mais liberdade e quebrasse a tutela militar. Pense sobre isso: Nos quarenta anos da história do Hizmet, Hocaefendi nunca fez uma declaração do tipo. Porém, uma oportunidade destas nunca havia existido antes.
O que você acha das diretrizes do Partido AK?
A Turquia tem dado grandes passos. Vemos que quando empresários são ouvidos com relação à economia, muitas pessoas ficam felizes. Nós, como Hizmet, passamos por um período muito confortável e pacífico. Temos apenas uma expectativa para que tudo isso se torne permanente: a nova constituição! Se a situação atual não for garantida pela lei sob uma [nova] constituição democrática, o poder político pode mudar, no futuro, e tudo voltaria à estaca zero.
O que você acha sobre a nomeação de policiais que supostamente são participantes do Movimento?
O governo faz estas nomeações.
O que você acha da alegação de que o Partido AK está fazendo uma lista negra de membros do Movimento e os impedindo de servir ao estado?
Não acredito que o Partido AK, que esteve numa lista negra no passado, faria o mesmo hoje, pois a criação de listas negras anteriores têm sido questionadas, hoje em dia, e todos veem como tais esforços, um dia, são revelados e questionados.
As pessoas do Movimento são incluídas numa lista negra pelo governo?
Eu não sei. Acredito que não.
Há rumores de que, nos próximos meses, os policiais que, supostamente, são membros do Movimento serão indicados [a outras localidades]. Você antecipa esta situação?
Na minha opinião pessoal, aqueles que não conseguiram atingir os objetivos desejados a partir do conflito entre o governo e o Movimento estão tentando interpretar as atividades do governo com relação à polícia e o sistema judiciário como um tipo de repercussão. Eles tentam apresentar as atividades do governo como uma atitude contra o Movimento, eles alegam que o governo está indicando policiais simpatizantes ao Movimento para locais diferentes.
Contudo, havia um conflito sério entre estas duas partes durante a crise do MIT, certo?
Alguns partidos tentaram provocar um conflito, mas o Movimento não se envolveu.
Bülent Arinç [vice primeiro-ministro] se encontrou com Fethullah Gülen?
Eu sei tanto sobre este encontro quanto você. Não sei o objetivo.
Ouvimos que jornalistas que frequentam estes encontros disseram que Fethullah Gülen criticou o Primeiro-Ministro Erdoğan diante de um grande grupo de jornalistas. Por que ele critica Erdoğan e o Partido AK?
Hocaefendi não mira ninguém diretamente, incluindo nós. Ele, frequentemente, fala sobre as qualidades e atributos das pessoas em termos gerais. Assim, algumas vezes ele cita uma qualidade ou atributo indesejado de uma pessoa querida para que seus comentários alcancem seus ouvidos e a pessoa se corrija, para seu próprio bem, Hocaefendi mantém isto em sua agenda. Por exemplo, se ele não gostar de algum dos meus atributos, ele põe isto em sua agenda com palavras impessoais. Eu sei que o primeiro-ministro tem muitas qualidades e atributos que o Hocaefendi aprecia, mas algumas vezes ele pode fazer comentários.
O que ele pode dizer?
Ele diz, “É importante que aqueles que carregam a responsabilidade da nação sejam abrangentes e inclusivos em suas expressões e declarações” e “É importante abranger e incluir a todos; adotar um estilo e usar expressões e interpretações suaves o suficiente para agradar ao coração de todos.” Estas palavras não querem dizer que ele não goste de alguém; ao contrário, ele está tentando proteger aqueles que ele ama de cometerem erros e se machucarem.
Não seria mais fácil dizer isto diretamente à pessoa?
Quando ele encontra a pessoa, compartilha suas opiniões com ela.
Como estão as relações entre o governo e o Movimento?
O Hizmet não espera nada das autoridades políticas. Nossas únicas expectativas são que, para o bem do país, o processo na UE seja mantido e a democratização seja alcançada; que os direitos e liberdade sejam melhorados; e que a nova constituição se materialize. Não queremos nem imaginar sobre esta última não ser bem-sucedida, pois isto representa um passo muito importante para o futuro da Turquia. Afinal, ela busca preservar tudo o que foi conquistado até o momento.
Alguma vez, o Movimento entrou em contato com o primeiro-ministro sobre a crise mencionada acima?
O primeiro-ministro tem amigos dentro do Movimento. Ele pode ter se encontrado com eles. Ele recebeu este assunto [crise do MIT] com muita calma, pois ele escolheu não aumentar a tensão ao falar contra isto.
Alguma vez, o Movimento entrou em contato com o governo?
Sempre há reuniões com oficiais do governo de maneiras diversas. Eles comparecem aos nossos programas. Além disso, a maioria dos ministros tem conhecidos dentro do Hizmet. Eles provavelmente ouvem seus comentários. A opinião geral sempre foi: “Um conflito entre o governo e o Movimento nunca deveria ter iniciado. As boas relações deveriam ser preservadas. Se alguns estão colocando lenha na fogueira para criar problemas, nenhuma das partes deveria proferir palavras ou fazer declarações que permitam que mais tensão seja causada.
Algum intermediário do governo visitou Fethullah Gülen?
Não sei.
Algum intermediário de Gülen visitou o governo?
Talvez não haja necessidade para estas reuniões, desde que estas discussões ocorrem em um processo natural. Acredito que elas podem acontecer durante comunicações regulares.
Você tem consciência que o Movimento é visto com temor, especialmente nos círculos midiáticos?
Sim. Jornalistas dizem isto, de vez em quando. A questão de Ahmet Şık, grampos telefônicos pela polícia… no fim, estas são todas questão de opinião.
Dizem que os Estados Unidos têm uma opinião negativa de Fethullah Gülen e do Movimento. Qual a base destes rumores?
Primeiro, vários artigos publicados no Herald Tribune e no New York Times refletem a percepção daqueles na Turquia em vez da visão americana. Estes podem ser sentimentos que correspondentes trucos compartilham entre si. Segundo, nossos amigos servindo nos Estados Unidos se tornaram mais conhecidos e visíveis devido a suas atividades. Crescer e se tornar visível tem resultados tanto negativos quanto positivos.
Quem sabe quem são os membros do Movimento?
Ninguém sabe…
Anteriormente vocês foram chamados “Gülenistas.” Vocês se sentiram perturbados por isto e começaram a usar “cemaat” (congregação). Depois escolheram “camia” (comunidade) e, mais tarde, “hareket” (movimento). Agora vocês preferem “Hizmet.” Por que mudar a definição ou nome do Movimento com tanta frequência?
Nunca usamos os termos “Gülenista” ou “cemaat.” Ambos foram atribuídos a nós por aqueles que não são parte do Movimento. Hocaefendi disse, “Dar o crédito a uma pessoa pelo trabalho executado por milhões de voluntários não é certo.” O termo “cemaat” é usado na cultura geral da Turquia, porém uma “cemaat” é também uma estrutura homogênea. Assim não pode definir o Movimento, que presta serviços em 140 países, atualmente. Poderia ser chamado “camia.” Decidimos usar “Hizmet” em nossas últimas declarações porque as pessoas [do Movimento] têm usado este termo por anos. Também queríamos promover o nome “Hizmet.”
Publicado, em turco, no jornal Taraf, 7 de maio de 2012.