Romancista exilada diz que Turquia tem um regime fascista
A romancista turca Asli Erdogan, que vive em exílio na Alemanha conforme arrisca uma prisão perpétua por acusações de terrorismo em seu país, acredita que está tudo muito óbvio: Seu país está escorregando para o fascismo.
Falando à AFP, a autora ganhadora de prêmios, ainda traumatizada pelos quatro meses que passou em uma prisão de Istambul, alerta que as instituições da Turquia estão “em uma estado de colapso total.”
No Presidente Recep Tayyip Erdogan — não são parentes — ela vê uma homem enrijecendo o controle sobre a vida do dia a dia dos turcos, encorajado por uma vitória total nas eleições de junho, avassaladores novos poderes e uma repressão sobre os oponentes.
“A extensão das coisas na Turquia está como a Alemanha nazista,” disse a mulher de 51 anos e cabelos de fogo em Frankfurt, seu lar temporário enquanto aguarda o resultado de seu caso no tribunal in absentia. “Acredito que seja um regime fascista. Não é ainda a Alemanha dos anos 40, mas dos anos 30,” disse Asli.
“Um fator crucial é a falta de um sistema judicial,” acrescentou ela, descrevendo um país de prisões superlotadas e juízes pró-Erdogan com seus 20 e poucos anos postos lá apressadamente para substituírem colegas depostos.
A própria Asli estava entre as mais de 70.000 pessoas pegas em uma onda de prisões sob um estado de emergência imposto após um golpe fracassado em 2016 contra Erdogan.
Ela foi mantida por 136 dias por suas ligações com um jornal pró-curdos antes de ser inesperadamente libertada sob fiança.
A detenção da autora de romances como “The City in Crimson Cloak” e “The Stone Building and Other Places,” famosos por suas rigorosas explorações da perda e trauma, atraiu condenação internacional.
O ganhador turco do Nobel de literatura, Orhan Pamuk, chamou ela de “uma escritora excepcionalmente perceptiva e sensível.”
O expurgo pós-golpe na Turquia voltou-se para não apenas supostos apoiadores do pregador Fethullah Gulen, culpado por Ancara pela tentativa de golpe, mas também a mídia de oposição e pessoas acusadas de laços com militantes curdos.
As autoridades turcas rejeitam acusações de violações em larga escala dos direitos, e o estado de emergência foi suspenso no mês passado, depois que Erdogan foi reeleito sob uma nova presidência no estilo executivo que lhe dá controle direto dos ministérios e instituições públicas.
“Erdogan é quase onipotente,” disse Asli.
“Ele decide sobre o preço dos remédios, sobre o futuro do balé clássico, os membros de sua família estão encarregados da economia… A ópera, que ele odeia, está também ligada diretamente a ele,” acrescentou ela, rindo.
“Essa é a coisa boa sobre o fascismo, ele é também pateticamente engraçado algumas vezes.”
Os legisladores turcos também aprovaram uma nova legislação que dá maiores poderes às autoridades na detenção de suspeitos e na imposição da ordem pública, que as autoridades dizem ser necessária para se combater múltiplos riscos de terrorismo.
“É uma estado de emergência feito permanente,” disse Asli.
Quanto a si mesma, Asli desistiu da esperança de ser inocentada e retornar para a Turquia a por enquanto.
“Eles não está blefando,” disse ela ter percebido depois que vários jornalistas foram sentenciados a prisões perpétuas.
Ela enfrenta acusações de espalhar “propaganda do terrorismo” por seu trabalho como uma conselheira literária do jornal Ozgur Gundem.
O próprio jornal foi fechado, acusado pelas autoridades turcas de ser um porta-voz para o ilegal Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), considerado um grupo terrorista por Ancara e seus aliados ocidentais.
As próximas audiências no caso de Asli estão agendadas para outubro e março.
A diminuta ex-física disse que a espera pelo veredito era “quase insuportável.”
“Uma das maiores torturas que se pode fazer a um ser humano é manter seu destino desconhecido.”
Solta da prisão no final de dezembro de 2016, Asli levou até este último mês de setembro para conseguir ser passaporte de volta das autoridades turcas.
Ela imediatamente foi embora para a Alemanha, semelhantemente a outros artistas e intelectuais turcos em exílio.
Ela agora vive em Frankfurt, a beneficiária de um flat e bolsa mensal como parte do projeto internacional Cidades de Refúgio.
O esquema tem o objetivo de fornecer a escritores perseguidos um porto seguro de onde podem continuar trabalhando.