Basquete: Bate-papo exclusivo com Enes Kanter, promessa da NBA
Enes Kanter, pivô do Oklahoma City Thunder e promessa da NBA, conversou com a equipe Esportudo sobre sua infância, carreira, seus objetivos e sua nova fundação, inspirada no Movimento Hizmet, a Enes Kanter Light Foundation.
*Entrevista realizada antes do ataque militar ao governo turco e antes da saída de Kevin Durant para o G.S. Warriors
Início no basquete
Enes Kanter, 24 anos, nasceu na Suíça, no entanto assumiu sua identidade turca, por parte dos pais que viviam fora do país na época. Apenas nasceu na Suíça, se considera turco, pois, viveu a cultura e morou desde pequeno em Istambul.
Desde a infância chamava atenção pela altura, se tornou um fator muito relevante para sua carreira que estaria por vir, entretanto, sonhava em ser astronauta – “Queria ser, mas com minha altura é difícil entrar em uma nave e ficar no espaço por muito tempo”, comentou Kanter soltando um sorriso.
No colégio (13 anos) descobriu o basquete e aos 16 anos tornou jogador da base do Fenerbahce Ulker, importante equipe europeia, assim como da seleção juvenil turca. Mas não só a altura de Enes trazia diferença dentro das quadras, é forte, tem uma boa defesa e ajuda nos contra-ataques durante o jogo.
Com tantas qualidades, o jovem nascido em 20 de maio de 1992, se tornou profissional aos 17 anos, sendo revelado pelo mesmo clube que lhe deu a oportunidade na modalidade. Em suas participações pela seleção local renderam ao jogador mais experiência e foi considerado MVP (jogador mais valioso do torneio), melhor pivô e melhor jogador no Campeonato Europeu de Basquete Sub-18 levando a Turquia a conquista da medalha de bronze na época.
Recebeu propostas de seu clube para seguir carreira e de uma equipe grega, porém negou as ofertas. Enes tinha um sonho: atuar na NBA – “Eu não podia deixar de tentar, é a melhor liga do mundo, mesmo jogando como profissional tão jovem na Turquia precisava de um novo desafio e jogar com os melhores”, conta o jogador turco.
Carreira nos Estados Unidos
“Senti dificuldade no começo, o jogo é muito rápido, quase não tem defesa, é ataque constante e precisei treinar duro para acompanhar meus companheiros.” Quando foi aos EUA muitas universidades lhe queriam em suas equipes, porém recebia uma ajuda de custo do Fenerbahce Ulker, que lhe proibiu de jogar pela NCAA – principal liga de esportes universitários – mesmo assim, jogou pela universidade de Kentucky (fora da NCAA) e foi escolhido no Draft pelo Utah Jazz.
“Quando cheguei à NBA sabia de algo: se estou aqui devo dar o meu melhor a cada dia, não sei se vou conseguir chegar a 100%, no entanto, vou tentar e dando o meu máximo”, relembrou o jogador.
Fez sucesso em seu primeiro ano na equipe chegando aos playoffs; uma excelente temporada para um Rookie – apelido dado a quem joga a NBA pela primeira vez. Foram três anos e meio pelo clube até ser transferido para o Oklahoma City Thunder, clube em que está atualmente.
“A cada minuto jogado você sente uma confiança maior, a cada jogo ou temporada, você fica mais preparado para novos desafios”, afirmou o jogador.
No OKC, fez amizades com dois ídolos mundiais, Kevin Durant e Russell Westbrook, com quem apende muito nos treinos e jogos.
“Quando você joga ao lado deles, se sente mais confortável, pois são líderes dentro da quadra, além de astros mundiais”, comentou o jogador.
2015/16 foi uma temporada muito boa para Enes. Ele chegou à final da Conferencia Oeste e perdeu apenas para o Golden State Warriors de Stephen Curry e companhia. Para a próxima temporada almeja o título da liga, conquista que se tornou mais complicada com a perda de seu companheiro e amigo Kevin Durant para os Warriors.
O que aprendeu jogando ao lado das estrelas Durant e Westbrook?
“Nunca, jamais desista; mesmo que esteja perdendo por 30 pontos de diferença, não deixe de dar seu melhor, jogar firme, porque ainda que perca a partida ou o torneio não falarão que jogou mal e sim que persistiu”, afirmou o atleta.
Atleta Cidadão
Enes Kanter, adere ao Hizmet Movement que fez com que o nosso entrevistado tivesse um roteiro diferente nessas férias: viajar o mundo todo conhecendo projetos inspirados no Movimento Hizmet, auxiliando e criando sua própria fundação com base nos ideais do movimento a Enes Kanter Light Foundation.
Independente de qual país ou continente esteja sua fundação, ele mesmo afirma – “O que importa é estar em lugares onde as pessoas precisem, se há necessidade, é lá que vai estar”.
Conheça a história desse movimento e que faz ao redor do mundo em diferentes países. “Eu gosto do que eles fazem, ajudam muita gente no mundo todo em diferentes situações”, disse o jogador.
Movimento Hizmet
O Movimento Hizmet, ou Movimento Gullen, é uma ação transnacional de indivíduos que visam ao desenvolvimento da educação e do diálogo inter-religioso entre povos.
O fundador desse movimento é o clérigo turco Fethullah Gullen, que teve no início de sua vida uma preparação voltada a essa finalidade. Gullen, aos doze anos se tornou um hafiz – aquele que conhece todo o Alcorão de cor –, isso mesmo, com apenas 12 anos.
É um leitor de obras ecléticas desde obras ocidentais a orientais. Em sua adolescência, sentiu que era necessário ter conhecimento de outras áreas para pregar o islã de maneira atrativa aos jovens, que são seu principal foco.
Fethullah Gullen, pregava em toda a Turquia, o seu objetivo foi usar a ciência, a educação, a globalização e o diálogo inter-religioso como um instrumento de trazer a paz para o mundo. Gullen acredita serem esses os fundamentos necessários para compreender o mundo em que vivemos e torná-lo mais pacífico.
Por meio da ciência, encontramos soluções; pela educação respeitamos a vida de nosso próximo, independentemente de sua cultura; o diálogo inter-religioso nos auxilia a compreender melhor os indivíduos, nossos irmãos. Com isso poder ajudá-los no que necessário, olhando apenas suas necessidades e visando a integridade humana.
O movimento Hizmet – ajuda em turco – adquiriu adeptos em toda a Turquia por meio dos ideais citados. Participaram do movimento ajudando a propagar pelo mundo a educação e a importância do diálogo inter-religioso para formação de cidadãos pacíficos e empáticos na sociedade.
A ideia cresceu, em mais de 170 países existem em torno de 1.500 escolas e universidades inspiradas no movimento, que visa a ajudar aqueles que mais necessitam e carecem na sociedade. Além de centros culturais como o CCBT (Centro Cultural Brasil Turquia) que trabalha pelo diálogo intercultural, aproximando os brasileiros da cultura turca por meio de palestras, cursos e seminários e também difundindo os ideais de Gullen, ONG’s no mundo fazem trabalho voluntário ajudando pessoas carentes em diferentes locais.
Continuação…
Não à toa, Enes aderiu aos ideais de Gullen a sua fundação que tem como foco: órfãos, desenvolver a educação, o esporte e combater a fome.
Kanter falou com brilho nos olhos sobre a criação da Enes Kanter Light Foundation. A respeito, principalmente, de ajudar crianças ao redor do mundo pela educação e respeito ao próximo. “Quero ajudá-las a ter a melhor educação possível. Crianças são o futuro e vejo em seu sorriso a esperança de que com uma simples ajuda, podem fazer uma sociedade mais justa”, afirmou o jogador.
Impressionante como um atleta estrangeiro vem ao Brasil e traz um projeto dessa magnitude ao país, sendo que muitos brasileiros atuam na liga e não fazem ou realizam algo parecido.
“Eu sou turco, mas não importa de onde você é, existem muitas pessoas no mundo precisando de ajuda, como pobres e crianças. Todos nós temos que nos ajudar para tornar o mundo um lugar melhor”, comentou Enes.
O atleta está envolto a outros projetos inclusive com o aprendizado da língua turca em Oklahoma City.
Corte na Seleção
Enes foi cortado da seleção turca no último Campeonato Europeu de Basquete e muitos jornais turcos disseram que era porque adere ao Hizmet, o jogador deu sua versão: “Muitas pessoas não sabem o que é, você não consegue deixar todas felizes, eles tomaram a decisão e fiquei fora, sem receio se foi por decisões que tomei para seguir a vida”.
Turquia
Sente medo em viajar, sofrer represálias?
“Não, é meu país, meus amigos e familiares moram lá, as condições políticas podem não estar muito bem, entretanto continuo a visitá-los sempre que posso”.
* Não quis falar sobre questões políticas em seu país.
Jogadores brasileiros
“Eles têm muita energia, entendem muito de basquete, são muito bons”, afirma Enes. O seu favorito é: “Eu gosto de assistir o Nenê, do Washington Wizards, ele arremessa muito bem, é muito alto, sou fã dele!”, comentou o jogador.
Kanter já jogou contra nossos atletas na liga, veja algumas situações:
Leandrinho Barbosa – G.S. Warriors
Anderson Varejão – G.S. Warriors
Marcelinho Huertas – L.A. Lakers
Visita ao Brasil
O que conhece daqui?
“O futebol e o brasileiro é um casamento, o que me vem à cabeça é a Copa de 2002 com aquele cabelo do Ronaldo”, relata soltando um suspiro de ser um fã da canarinho.
“Meu jogador preferido é o Neymar, vi o Alex jogar no Fenerbahce, no entanto, Neymar é melhor e sou muito fã dele”, comentou o jogador.
O que mais lhe impressionou ao vir pela primeira vez ao Brasil?
“Foram as crianças, todas sorriam para mim mesmo sem saber quem eu era, alguns poucos sabiam que era jogador por conta da altura e em seu sorriso vi que trariam um futuro bom, acolhedor e mais justo”, disse Enes.
“Espero vir mais vezes aqui, gostei do clima, das pessoas. Elas são bem acolhedoras, me senti muito bem”, concluiu Enes para a reportagem do Esportudo.com.
Escrito por Evandro Almeida Jr
Artigo originalmente publicado em: http://blog.esportudo.com