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O preço das medalhas das Olimpíadas Rio 2016 para a Turquia

O preço das medalhas das Olimpíadas Rio 2016 para a Turquia
agosto 01
14:11 2016

A Turquia competirá nas Olimpíadas de Verão no Rio de Janeiro com 103 atletas, 48 deles mulheres. Os jogos, marcados para ocorrerem entre 5-21 de agosto, foram um muito debatidos na Turquia antes da tentativa de golpe de 15 de julho.

Podia-se ouvir as pessoas debatendo pelo país se o time feminino de basquete poderia trazer uma medalha para casa, enquanto torciam para o time ao som da cantora pop Candan Ercetin. Em sua música contagiante, Ercetin, membro do conselho do Galatasaray Sports Club, fala das jogadoras de basquete como anjos do cesto, fazendo dessa música um jeito popular de reunir os entusiastas dos esportes para os jogos de 2016.

A Turquia tem participado das Olimpíadas desde 1908, 15 anos antes da nova república ter sido estabelecida. Contudo, seu progresso não tem sido impressionante. Dado que a Turquia coletou seu maior número de medalhas (12) nas Olimpíadas de 1948 em Londres e seu maior número de medalhas de ouro (7) nas Olimpíadas de 1960 em Roma, podemos dizer que a maioria das gerações mias jovens não pegaram a febre olímpica.

Com todas as notícias que estão se acumulando sobre os golpistas e vítimas do golpe, as Olimpíadas não são mais uma história de destaque. De fato, não está sequer claro ainda se os jogos irão ao ar em algum canal de TV turco. Por mais estranho que pareça, ao menos que a TRT assegure um acordo, não vai ter como assistir aos jogos na Turquia.

O Ministro da Juventude e dos Esportes Akif Cagatay Kilic não contribuiu para a atmosfera quando abaixou as expectativas para os Jogos do Rio ao anunciar em 1º de julho que: “O Rio e um palco de preparação; nosso real objetivo são as Olimpíadas de Tóquio em 2020”.

Portanto entusiasmo pelos jogos, apenas uma semana antes de começarem, é mínimo na Turquia.

As palavras de Kilic deixaram bravos muitos dos que escrevem sobre esportes e nacionalistas que já estavam descontentes com os atletas “devshirme” da Turquia. Devshirme foi um sistema em que meninos cristãos eram recrutados pelo exército otomano. O termo é usado agora para identificar atletas estrangeiros. Os debates acerca do alto número de atletas estrangeiros no time da Turquia tem dividido os aficionados pelos esportes.

A questão é uma ferida aberta porque a Turquia também usou atletas estrangeiros os Campeonatos Atléticos Europeus entre 6 e 10 de julho em Amsterdã. As reclamações são várias: não é que tenham nascido no exterior mas criados e treinados na Turquia – eles são basicamente mercenários. A maioria deles recebeu a cidadania e foram liberados para representarem a Turquia há apenas um ou dois anos. A maioria nunca sequer esteve na Turquia, mesmo assim eles dominam alguns dos times turcos tais como o do atletismo. Seus nomes são turcos, mas os turcos fazem piadas sobre como esses atletas provavelmente não conseguem pronunciá-los ou sequer encontrar a Turquia em um mapa.

Somando-se a isso, a imprensa europeia não pegou leve com o número exorbitante de estrangeiros competindo com uniformes turcos. No campeonato europeu, por exemplo, de 11 medalhas que a Turquia ganhou, nove pertenceram a atletas devshirme. Para o Rio, o maior grupo de atletas está no atletismo e a maioria deles são devshirmes de países como o Quênia, Jamaica e África do Sul. De um total de 103 atletas turcos, 25 devshirmes – quase um quarto do time – competiram com uniformes turcos no Rio.

Arif Kizilyalin, editor-chefe e colunista do caderno de esportes do jornal Cumhuriyet, contou ao Al-Monitor: “Suspeito que a IAAF [Associação Internacional de Federações Atléticas] revisará seu regulamento, dada a situação do alto número de atletas estrangeiros. Crio que certas restrições serão introduzidas em breve”.

Kizilyalin foi o primeiro colunista a trazer essa questão à atenção do público. A maioria dos turcos não sente muito uma conexão com os atletas para torcer por eles, não necessariamente porque são estrangeiros mas porque não são visíveis ao público turco. Os atletas não aparecem na televisão, e suas vozes não são ouvidas. Vários comentaristas e ex-atletas argumentaram que atletas que são celebridades são comuns no mundo, e que esses atletas não devem ser condenados ao ostracismo. No entanto, existe uma preocupação crucial quanto a “comprar medalhas olímpicas” ao pagar-se altos preços para atrair atletas que sejam nascidos, criados e testados em outros países.

Como que um país de 80 milhões de pessoas com uma população esmagadoramente jovem não consegue treinar com sucesso atletas em muitas áreas? Atletas Devshirmes fornecem uma solução rápida, mas devemos perguntar se também são um impedimento para que jovens atletas turcos compitam em plataformas internacionais.

Um historiador, que pediu para permanecer anônimo, contou ao Al-Monitor: “O termo devshirme não apenas engana, mas também é uma decisão um tanto quanto consciente da mentalidade neo-otomana. O termo leva a conclusões equivocadas porque devshirme significa que o indivíduo seria assimilado e integrado através de um treinamento adequado para serviços que requerem uma determinada habilidade. Esses devshirmes começariam como crianças e adolescentes e já na época em que se tornassem adultos teriam esquecido tudo sobre suas famílias [e] a cidade onde nasceram. Esse não é o caso com esses atletas estrangeiros”. Também, disse, as elites do governo gostam do que o termo lembra. Eles conseguem “dizer às massas que vão até o mundo e recrutam talentos cruciais, rejuvenescendo o orgulho nacional do país”.

Quanto dinheiro é gasto para recrutar esses atletas ainda não se sabe, mas custaram à Turquia o interesse de seu público nas Olimpíadas.

Uma organização não governamental – o Comitê Olímpico Turco (TOC) – ainda trabalha diligentemente para o sucesso de todos os atletas turcos nos jogos. Apesar de que a maioria de seus membros estavam viajando para o Rio e não puderam ser contatados para fazerem comentários, um representante do comitê contou ao Al-Monitor: “A Turquia vai competir nos Jogos do Rio em um número recorde de eventos. Temos representação em 21 diferentes áreas esportivas de 26 categorias nos jogos. Temos o objetivo de aumentar esse número no futuro e reforçar principalmente nossos esportes de equipe, como o futebol. Também esperamos expandir nosso sucesso nas áreas em que a Turquia é reconhecida como bem-sucedida – tais como nas lutas e levantamento de peso – a outras áreas também”.

O representante do TOC também foi atento ao tópico do doping ilegal. Ele disse: “O TOC estabeleceu uma Comissão Antidoping em 2011 seguindo as diretrizes da WADA [Agência Antidoping Mundial]. Nosso sucesso é imenso. Níveis de doping entre atletas turcos alcançaram 12% em 2010, enquanto que em 2015 – apesar de testes mais sensíveis e mais frequentes – o nível caiu para 1,5%. Hoje em dia, a Turquia tornou-se um dos casos exemplares da WADA”.

Além disso, comentadores esportivos e representantes do TOC demonstraram um grau forte de preocupação com a saúde e a segurança de seus atletas durante os Jogos do Rio. O vírus Zika, água suja, crescente instabilidade política e greves recorrentes preocupam os atletas, treinadores e suas famílias.

Contudo, na Turquia pós-golpe do momento, um motorista de táxi contou ao Al-Monitor que ainda está tentando se recuperar dos resultados da Associação de Futebol União Europeia de 2016.

Eu não sei nada mesmo do Rio”, disse ele.

Dada a situação tumultuada na Turquia, a maioria dos turcos não se importa com quanto os atletas devshirmes custam para eles, ou se seus sucessos devam ser celebrados como sucessos turcos. E por isso, mesmo se nenhum canal de televisão transmitir os jogos de 2016, poucas pessoas na Turquia provavelmente se importarão.

Pinar Tremblay

Fonte: www.al-monitor.com

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