Turquia remove teoria da evolução do currículo escolar
Autoridade da educação argumenta que teoria de Darwin é controversa e complexa demais. Aulas sobre o fundador da Turquia moderna e o secularismo também devem ser reduzidas, para maior ênfase nos estudos islâmicos. A Turquia vai retirar o estudo da evolução das espécies dos currículos do ensino médio. Segundo um alto funcionário do setor, a teoria de Charles Darwin é excessivamente controversa e de difícil entendimento.
O capítulo intitulado “Começo da vida e evolução” será eliminado dos livros curriculares de biologia adotados nas escolas, e o material só estará disponível para os estudantes universitários, a partir dos 18 ou 19 anos de idade.
“Estamos cientes de que os nossos alunos não possuem a base para compreender as premissas e hipóteses [da teoria da evolução]. Se não dispõem do conhecimento e do arcabouço científico, eles não serão capazes de entender algumas questões controversas. Então, as deixamos de fora”, explicou, em comunicado online emitido nesta sexta-feira (23/06), o presidente do Departamento Nacional de Educação, Alpaslan Durmus.
As mudanças são parte do novo currículo, a ser adotado no ano acadêmico 2017-2018, que foi formulado de acordo com “valores turcos”, acrescentou Durmus. Alguns meses atrás, o vice-primeiro-ministro, Numan Kurtulmus, declarara que a teoria darwinista seria “velha e podre”, não tendo necessariamente que ser ensinada.
Agenda antissecular
A teoria da evolução, publicada pela primeira vez em 1859, é rejeitada pelos criacionistas tanto muçulmanos quanto cristãos, para os quais Deus criou o mundo e todos os seres vivos em seis dias, como descrito na Bíblia e no Alcorão. A diferença é que para os islâmicos os “dias” são compreendidos não literal, mas sim simbolicamente, como longos períodos de tempo.
Entre outros, o grupo lobista Egitim-Is (Trabalho de Educação), que se engaja pela formação secular na Turquia, expressou apreensão pelas mudanças num total de 51 cursos, da escola primária à secundária. A seu ver, elas limitam os avanços alcançados por Mustafá Kemal Atatürk (1881-1938), fundador da moderna Turquia, que baniu o islã da vida pública.
Essa mudança de foco, contudo, não parece ser acidental: notícias da imprensa nacional, baseadas em vazamentos de reuniões dos grêmios escolares, vêm prevendo uma redução da parte do currículo dedicada ao estudo de Atatürk e do secularismo, compensada por mais horas para as matérias religiosas.
Durmus confirma que haverá mais ênfase nas contribuições dos cientistas muçulmanos e turcos, e que as aulas de história abandonarão a abordagem “eurocêntrica”.
Há bastante tempo a oposição secular vem argumentando que o governo do conservador islâmico Recep Tayyip Erdogan persegue uma agenda fundamentalista velada, contrariando os valores fundadores da república.
A educação é um tema especialmente polêmico, por seu potencial de formar gerações futuras. Têm ocorrido protestos em pequena escala nas escolas, por parte de pais que discordam da forma como a religião é ensinada.
AV/rtr/dpa