Voz da Turquia

Assim que escapou do hotel em chamas no resort de esqui, Necmi Kepçetutan soube que precisava ajudar aqueles que ainda estavam presos, gritando por socorro — incluindo vários de seus jovens alunos.

O incêndio, que destruiu o luxuoso Grand Kartal Hotel no resort de esqui Kartalkaya, no norte da Turquia, na madrugada de terça-feira, matando 76 pessoas, começou nas altas horas da noite, quando todos dormiam.

Acordado pelos funcionários do hotel, que bateram em sua porta no segundo andar, o instrutor de esqui de 58 anos saiu facilmente, mas percebeu rapidamente que muitos não conseguiram.

“Saímos e vimos as chamas no quarto andar e pessoas nas janelas gritando por ajuda”, contou ele à Agence France-Presse (AFP).

Como era muito perigoso voltar para dentro, ele e outros instrutores encontraram uma escada e tentaram alcançar as janelas.

“Com os outros, encostei uma escada na parede frontal e ajudei 15 a 20 pessoas a saírem”, disse à AFP, explicando que conseguiram chegar até o sétimo andar.

“Tentei entrar, mas era difícil respirar”, disse Kepçetutan, que sabia que várias crianças de suas aulas estavam hospedadas nos sexto e sétimo andares.

Mas elas não sobreviveram.

“Perdi cinco dos meus alunos”, lamentou Kepçetutan, o mais novo deles com seis anos. Ele também perdeu um colega.

“Minha amiga enfermeira que trabalha no hotel pulou da janela em pânico e morreu. Isso foi o que mais me abalou.”

‘Ela entrou em pânico e pulou’

Em uma manhã gelada e nebulosa, com bandeiras a meio-mastro, outras testemunhas relataram o horror de ver pessoas saltando para a morte.

“Quando cheguei, havia chamas por toda parte e ouvíamos gritos”, disse Cevdet Can, dono de uma escola de esqui próxima.

“Vi uma pessoa pular da janela — quando ela viu as chamas, entrou em pânico”, contou à AFP, afirmando que a pior parte foi ver crianças presas dentro do hotel em chamas.

Além da profunda tristeza pela tragédia, que vitimou famílias inteiras, havia também crescente raiva.

A mídia turca publicou alegações de negligência no hotel de luxo, localizado a cerca de duas horas de carro de Ancara.

Sobreviventes relataram à imprensa turca que não havia alarmes de incêndio, detectores de fumaça ou saídas de emergência — uma alegação contestada pelo ministro do Turismo, que afirmou haver duas saídas.

‘Criança pendurada na janela’

Islam, que trabalha em outro hotel da região, disse que, ao ser acordado pelo som de um helicóptero, foi direto para o local.

“Vi uma criança pendurada na janela do hotel pedindo ajuda. Foi tão perturbador que não ousei olhar”, disse à AFP.

“Não consigo esquecer aquela imagem.”

Ele não quis revelar seu sobrenome.

Apesar do trauma, ninguém quis falar sobre a possibilidade de negligência ter causado o incêndio.

“Não sei nada sobre negligência”, disse Aykut Aysal, instrutor de esqui de 35 anos de outro hotel.

“Sou instrutor de esqui há muitos anos, mas nunca vi nada assim antes.”

Fonte: ‘She jumped out and died’: Witnesses recall horrific hotel fire in Turkey – Turkish Minute