Manifestantes exigem justiça no Tribunal Europeu de Direitos Humanos para as vítimas da repressão pós-golpe na Turquia
Mais de mil expatriados turcos e ativistas de direitos humanos se reuniram em frente ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH) em Estrasburgo na terça-feira para exigir justiça para as vítimas de violações dos direitos humanos na Turquia.
A manifestação teve como objetivo chamar a atenção para os contínuos abusos de direitos na Turquia e instar o TEDH a agir rapidamente contra eles.
O principal órgão europeu de revisão dos direitos humanos é acusado pelas vítimas de violações dos direitos humanos na Turquia, que se intensificaram após uma tentativa de golpe em 2016, quando o governo lançou uma repressão contra cidadãos não leais sob o pretexto de combate ao golpe, de não processar de forma expedita os pedidos das vítimas ou de emitir decisões favoráveis ao governo turco em alguns casos.
A Plataforma de Ações Pacíficas, uma organização guarda-chuva composta por 24 grupos da sociedade civil, organizou o protesto e o transmitiu ao vivo no YouTube.
O protesto ecoa uma manifestação similar realizada em junho de 2022, que contou com a participação de centenas de vítimas da repressão pós-golpe na Turquia, ativistas e parlamentares da União Europeia.
O ex-astro da NBA Enes Kanter Freedom, que tem sido um crítico vocal dos abusos dos direitos humanos em todo o mundo, estava entre os manifestantes. Kanter está na “Lista de Procurados pelo Terrorismo” do Ministério do Interior turco, que oferece uma recompensa de até 10 milhões de liras turcas por informações que levem à captura da pessoa procurada.
Melek Çetinkaya, que tem defendido a libertação de cadetes militares, incluindo seu filho Furkan, que acredita terem sido injustamente presos sob falsas acusações após a tentativa de golpe de 2016 na Turquia, também estava entre os manifestantes.
A multidão marchou em direção ao prédio do TEDH em Estrasburgo, entoando slogans e carregando faixas que diziam: “TEDH, pare a injustiça na Turquia” e “Justiça adiada é justiça negada”.
A manifestação visava destacar a inação do TEDH e do Conselho da Europa (CdE) em relação à repressão pós-golpe na Turquia. A Plataforma de Ações Pacíficas enviou cartas ao CdE e ao tribunal europeu, expressando frustração com a falta de progresso na abordagem da situação dos direitos humanos na Turquia.
Jeremy Corbyn, ex-líder do Partido Trabalhista do Reino Unido e membro atual do parlamento britânico, fez um discurso apaixonado durante a manifestação. Corbyn condenou a demissão e prisão ilegal de funcionários públicos, professores, policiais, jornalistas e advogados pelo governo turco. Ele enfatizou a importância de defender os direitos de grupos étnicos minoritários, como os curdos e armênios, e pediu solidariedade internacional para promover os direitos humanos e a democracia.
Andrej Konstantin Hunko, membro do Partido de Esquerda da Alemanha, do Bundestag e da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa (APCE), assim como Odd Anders With, ex-político norueguês, jornalista e ativista, fizeram discursos em solidariedade aos manifestantes.
O protesto também contou com mensagens em vídeo de figuras proeminentes, incluindo o jornalista cubano Abraham Jiménez Enoa, o líder da oposição venezuelana Leopoldo López, os políticos belgas Viviane Teitelbaum e Simone Susskind, o político cipriota Costas Mavrides e a membro belga do Parlamento Europeu Marie Arena. Essas mensagens expressaram solidariedade com os manifestantes e destacaram a necessidade de responsabilização e proteção dos direitos humanos na Turquia.
Além dos discursos em solidariedade às vítimas, houve pequenos concertos de cantores turcos e uma música de rap dedicada às vítimas da repressão foi apresentada por Grifon.
Também foram realizadas performances teatrais com adereços como barcos infláveis para destacar a situação dos refugiados que tiveram que fugir da perseguição, grades de prisão e algemas para aludir aos que foram injustamente presos.
Durante o protesto, um participante vestido com uma fantasia de Diógenes segurava uma lanterna, aludindo ao famoso ato de Diógenes de Sinope de procurar por um homem honesto ao iluminar os rostos dos cidadãos de Atenas. Outra representação impactante apresentou três manifestantes vestidos com fantasias dos três macacos sábios, simbolizando aqueles que escolheram não ver o mal, não ouvir o mal e não falar do mal em relação às violações dos direitos humanos na Turquia.
Após a tentativa de golpe, o governo turco declarou estado de emergência e realizou uma purga massiva das instituições estatais sob o pretexto de combate ao golpe. Mais de 130.000 funcionários públicos, incluindo 4.156 juízes e promotores, além de 24.706 membros das forças armadas, foram sumariamente demitidos de seus cargos sob alegação de pertencerem ou terem relações com “organizações terroristas” por meio de decretos-leis de emergência que não estavam sujeitos a revisão judicial nem parlamentar.
De acordo com um comunicado do então ministro do interior, Süleyman Soylu, em 5 de julho de 2022, um total de 332.884 pessoas haviam sido detidas, enquanto cerca de 101.000 outras haviam sido presas devido a supostas ligações com o movimento Gülen, um grupo religioso banido por Ancara, desde o fracassado golpe. O ministro afirmou que havia 19.252 pessoas nas prisões da Turquia na época que estavam detidas por supostas ligações com o movimento, enquanto outras 24.000 estavam em liberdade.
Além dos milhares que foram presos, muitos outros seguidores do movimento Gülen tiveram que fugir da Turquia para evitar a repressão do governo. Algumas dessas pessoas tiveram que fazer jornadas ilegais e arriscadas em barcos até a Grécia, pois seus passaportes haviam sido revogados pelo governo.
Fonte: Protesters demand justice at ECtHR for victims of Turkey’s post-coup crackdown – Stockholm Center for Freedom (stockholmcf.org)