Turquia se tornou uma das vitrines globais para práticas autoritárias, diz o Parlamento Europeu
O Parlamento Europeu (PE) aprovou um relatório detalhado examinando o relacionamento atual entre a União Europeia e a Turquia, dizendo que “afirma com pesar que a Turquia se tornou agora uma das vitrines globais para práticas autoritárias”, informou o Turkish Minute na quinta-feira.
O relatório do PE discute democracia e direitos humanos, política externa e estabilidade regional, conflitos regionais e relações internacionais, e esboça um roteiro prospectivo para as relações UE-Turquia no futuro.
O documento expressa profunda consternação com os persistentes desenvolvimentos negativos na Turquia, destacando uma escalada da erosão democrática no ano passado devido a mudanças legislativas que fomentam a censura online e limitam o acesso à informação supostamente para conter a desinformação. O PE abordou criticamente a repressão implacável do governo turco à dissidência, especialmente perceptível durante o período eleitoral mais recente.
Preocupações com a independência do sistema judicial, a supressão das liberdades fundamentais e a deterioração da situação dos direitos das minorias e das mulheres no país foram enfatizadas. O PE ressaltou a necessidade de um judiciário independente para sustentar um sistema democrático que sirva bem à população. Acusou as autoridades turcas de manipular estruturas judiciais para obter vantagem política, citando casos proeminentes como os de Selahattin Demirtaş e Osman Kavala. Exortou a Turquia a respeitar os julgamentos do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (CEDH).
O documento lamentou as incessantes restrições à liberdade de expressão e reunião, ao mesmo tempo em que criticava o assédio rotineiro a membros da oposição, defensores dos direitos humanos e jornalistas por meio de leis antiterroristas injustas e outras ações supressoras. Condenou os ataques desenfreados a jornalistas e mídia independente, enfatizando o papel fundamental de uma sociedade civil e imprensa livres na promoção de uma democracia vibrante e bem-estar social.
O PE notou um aumento da pressão sobre partidos políticos e figuras da oposição, temendo uma escalada após as eleições de maio em meio à situação econômica em declínio do país. O relatório citou as numerosas prisões pré-eleitorais e um caso de fechamento em andamento contra o Partido Democrático dos Povos (HDP) como indicadores desse desenvolvimento angustiante.
Destacou a deterioração dos direitos das mulheres devido ao aumento da violência baseada no gênero e femicídios, exortando a Turquia a tomar medidas decisivas para erradicar os “assassinatos de honra” e ajudar as sobreviventes. O PE criticou a retirada da Turquia da Convenção de Istambul, solicitando uma reversão de acordo com os compromissos internacionais.
O relatório criticou a discriminação persistente e o discurso de ódio contra a comunidade LGBTI+, denunciando a retórica depreciativa de altos funcionários, incluindo o presidente Recep Tayyip Erdoğan. Apelou para que a Turquia reviva sua dedicação à luta contra a discriminação contra indivíduos LGBTI+.
Detalhando a severa repressão contra a comunidade curda, particularmente nas áreas sudeste, o PE defendeu o restabelecimento dos direitos culturais e a incorporação da língua curda no sistema educacional, incentivando um discurso pacífico para abordar as questões curdas.
Expressou apreensão com a presença emergente de partidos islamitas de extrema direita no parlamento turco e a crescente influência nas esferas legislativa e administrativa. O PE expressou descontentamento com a excessiva concentração de poder na presidência e destacou os esforços decrescentes da Turquia para se alinhar com os valores e padrões da UE. Enfatizou o enfraquecimento da intenção de promulgar reformas significativas relativas ao estado de direito e aos direitos fundamentais.
O relatório abordou vulnerabilidades econômicas, incluindo inflação desenfreada, e instou à restauração da confiança em instituições cruciais, como o Banco Central da Turquia e o Instituto de Estatística da Turquia (TurkStat). Enfatizou os benefícios potenciais de impulsionar as relações UE-Turquia para melhorar os padrões de vida na Turquia.
O documento criticou a implementação pelo governo turco de legislação incluindo a Lei da Mídia Social de 2020, a Lei Antilavagem de Dinheiro de 2021 e a Lei da Desinformação de 2022, definindo-as como instrumentos que facilitam o silenciamento sistemático de jornalistas, ativistas, acadêmicos e artistas, fomentando um ambiente de intimidação e autocensura. Examinou o extenso controle sobre as mídias sociais e plataformas de notícias online estabelecido com a Lei de Desinformação de 2022, delineando medidas punitivas, incluindo prisão por distribuir “desinformação e notícias falsas”.
O PE apontou o aumento da propaganda estatal, identificando a agência de notícias estatal Anadolu como a principal culpada. Também reconheceu as recentes eleições presidenciais e parlamentares em maio, apreciando o comparecimento significativo dos eleitores e o ambiente predominantemente pacífico, apesar de incidentes isolados de violência contra partidários da oposição.
Ao mesmo tempo em que reconheceu esse ambiente, o PE criticou o favoritismo conspícuo mostrado ao partido no poder, documentado pela missão OSCE/ODIHR. Observou que a parcialidade da mídia e a retórica incendiária, incluindo preconceito contra minorias, comprometeram o procedimento democrático. O PE deplorou a utilização manipuladora de mecanismos estatais para ditar a cobertura das notícias e amordaçar vozes opositoras, uma tendência perceptível mesmo antes das eleições.
Expressando profunda tristeza pelos devastadores terremotos no sudeste da Turquia e na Síria em fevereiro de 2023, que ceifaram mais de 50.000 vidas, o PE transmitiu suas sinceras condolências às famílias enlutadas. Elogiou a rápida ajuda humanitária da UE e destacou a necessidade de solidariedade europeia na promoção das relações com a Turquia, pedindo esforços de reconstrução transparentes e seguros.
Na arena da política externa, o relatório reconheceu os esforços revitalizados da Turquia para reparar os laços com várias nações, incluindo Armênia, Egito, Israel e os estados do Golfo. No entanto, levantou alarmes sobre uma trajetória de política externa turca que aparentemente se desvia dos interesses centrais da UE, defendendo uma reorientação construtiva.
O relatório examinou as operações militares da Turquia na Síria e sua ocupação de territórios do norte, expressando ansiedade sobre as repercussões dos ataques aéreos turcos no norte da Síria e no Iraque sobre grupos suscetíveis como os yazidis. Defendeu o envolvimento da Turquia em iniciativas globais de paz na Líbia, incentivando a adesão ao embargo de armas existente.
Reconhecendo o papel crítico da Turquia no cenário político e econômico, o relatório considerou improvável a retomada do processo de adesão da Turquia à UE nas atuais circunstâncias, defendendo mudanças consideráveis na direção da política do governo turco. Apelou para uma aliança renovada ancorada na cooperação e na confiança, destacando a suprema importância dos princípios democráticos, direitos humanos e direito internacional na formação dos laços futuros.
O governo turco rejeitou o relatório como uma compilação de “alegações e preconceitos infundados” guiados por grupos anti-Turquia, de acordo com um comunicado de imprensa do Ministério das Relações Exteriores emitido na quarta-feira. A Turquia criticou o que chamou de “abordagem superficial e sem visão” do PE em relação às relações Turquia-UE, alegando que o relatório diverge de fatos históricos e jurídicos.
Nos últimos anos, a Turquia tem sofrido com uma economia em deterioração, com alta inflação e desemprego, bem como um histórico de direitos humanos precário. O presidente Erdoğan é criticado por administrar mal a economia, esvaziar os cofres do Estado e estabelecer um governo de um homem só no país, onde a dissidência é suprimida e os opositores são presos sob acusações politicamente motivadas.
A Turquia e a UE iniciaram negociações de adesão em 2005, mas o processo está paralisado nos últimos anos. Os países que aspiram a se tornar membros devem alinhar suas leis e legislação em 35 áreas de política, ou capítulos de negociação. Os líderes da UE concordaram em 2018 que nenhum novo capítulo nas negociações de adesão da Turquia deveria ser aberto ou fechado.
Fonte: Turkey has become one of the global showcases for authoritarian practices, EP says – Stockholm Center for Freedom (stockholmcf.org)