Sedat Peker, líder de máfia aliado de Erdogan, está abrindo suas asas
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, contratou algumas de suas operações clandestinas a líderes de máfia que aparentemente juraram servir no avanço dos interesses menores tanto no país quanto fora em troca de cobertura política e imunidade legal para suas atividades ilícitas.
Um homem que se destaca do resto na aliança pró-Erdogan é Sedat Peker, um líder de máfia condenado que foi recentemente inocentado por um tribunal turco depois que ameaçou 1.128 acadêmicos e intelectuais com uma onda de assassinatos logo após o chamado deles a um acordo pacífico do problema curdo. Apesar de ele ter sido indiciado e enfrentado até 11 anos na prisão por fazer uma ameaça e incitação à violência por declarações em que disse: “Nós vamos fazer o sangue de vocês se derramar em rios e vamos nos banhar em seu sangue,” o 20º Tribunal Penal de Primeira Instância de Anadolu decidiu inocentá-lo. Peker nem sequer se importou em aparecer para uma audiência em 13 de julho de 2018, durante a qual o tribunal disse que suas ameaças não levaram a nenhuma ação e retiraram ambas as acusações. As declarações absurdas de Peker ocorreram um dia depois que Erdogan atacou acadêmicos e os rotulou como apoiadores de terroristas.
Isso aconteceu logo em seguida a outra absolvição do 41º Tribunal Criminal de Primeira Instância de Anadolu, que decidiu em 21 de junho de 2018 que as declarações de Peker devem ser consideradas expressões de patriotismo. O tribunal não achou nada de errado com a declaração de Peker em que disse que os membros do Movimento Gulen seriam enforcados em mastros de bandeira e árvores nas ruas e mais tarde que os que estavam na prisão seriam mortos também. Peker foi indiciado por um promotor sob acusações de incitamento à violência, mas o tribunal decidiu deixar ele livre, apesar de que ele estava enfrentando até cinco anos. Ele já ameaçou a Rússia no passado, advogando um ponto de de vista de que militantes chechenos deveriam ser treinados pela inteligência turca para serem soltos na Rússia. Ameaças semelhantes foram feitas contra a Europa e Israel por suas críticas a Erdogan.
Peker é um criminoso perigoso que age como um cachorro de ataque para Erdogan a qualquer instante que o presidente turco precisa chacoalhar seus oponentes. Já que ele não está ligado oficialmente ao gabinete de Erdogan, isso serviria como negação plausível quando ele trouxer tanto calor à sua presidência. As operações de Peker fora da Turquia representam um risco às alianças e parceiros da Turquia igualmente, considerando-se como ele esteve ligado a figuras jihadistas na Síria. Ele tem enviado coletes a prova de bala e picapes a bandidos militantes na Síria, onde eles estão alinhados com o governo de Erdogan como grupos que recebem ordens à distância.
Eu fiz um pouco de investigação sobre sua impalatável personalidade e encontrei alguns achados interessantes. Acaba sendo que ele havia trabalhado para grupos ultranacionalistas que operam dentro das forças militares e serviço civil turcos por anos. Nascido em 1972 na província de Rize, a cidade natal de Erdogan, Peker é um criminoso que foi detido numerosas vezes e enfrentou ações legais em uma gama de acusações, incluindo extorsão, crime organizado, sequestro e resgate, e danos corporais a outros. Ele foi preso formalmente em 2004 e condenado a 14 anos e 6 meses em um julgamento no 9º Supremo Tribunal Criminal de Istambul.
Ele foi recrutado como um agente em 1992 por Veli Kucuk, um general brigadeiro que montou o notório setor de inteligência chamado JITEM dentro da Gendarmeria turca e uma figura conhecida em matanças extrajudiciais na Turquia, especialmente no sudeste, onde os curdos têm sido oprimidos por décadas. Kucuk conhecia o pai de Peker, Ahmet, e lhe colocou sob suas asas durante seus anos de juventude. Depois da aposentadoria, o general turco foi preso, em janeiro de 2008, e sentenciado a prisão perpétua em um julgamento que foi concluído em agosto de 2013. Erdogan agiu para salvar Kucuk e seus associados depois que seu partido correu com um projeto de lei no Parlamento removendo a autoridade do tribunal que havia conduzido o julgamento. Também acredita-se que Kucuk ajudou Peker a obter um relatório de saúde que isentou o líder de máfia de servir seu serviço militar compulsório no exército turco. Os dois cultivaram laços próximos, tanto que até o salário do motorista Emin Caner Yigit, um dos homens de Peker, era pago pelo líder de máfia.
Em uma escuta interceptada em 21 de julho de 2004 às 17:56, Peker admitiu como estava envolvido em assassinatos tais como tiroteios de carro que visaram cafeterias na Turquia sob as ordens de figuras obscuras na inteligência militar. A investigação da polícia concluiu que Peker estava falando sobre um incidente em 12 de março de 1995, durante o qual três cafeterias e uma confeitaria sofreram disparos de um rifle automático durante um onda de tiroteios de carro. Halil Kaya, um líder religioso alevita de 61 anos, foi morto e dezenas de outros foram feridos. O distrito de Gazi, populado em sua maioria por grupos da minoria alevita, viu revoltas e protestos depois desses acontecimentos, levando a embates com a polícia e resultando na morte de 23 pessoas. Testemunhos oculares em 2008 também mostrou que o complô foi orquestrado por Kucuk em cooperação com Peker e Osman Gurbuz, outro agente que foi treinado pela gendarmeria em guerra especial e psicológica.
Peker também teve um manipulador na Organização Nacional de Inteligência (MIT) identificado como Yavuz Atac, que liderava o apartamento de operações estrangeiras da MIT. Atac foi forçado a renunciar depois que um escândalo irrompeu no final dos anos 90, mostrando que ele havia fornecido um passaporte diplomático a Alaatin Cakici, outro líder de máfia. O nome de Peker apareceu durante outra investigação sobre um complô de assassinato que visou políticos curdos e o autor turco e ganhador do Nobel, Orhan Pamuk.
A escuta interceptada por investigadores em 2 de outubro de 2007 às 20:26 horas mostrou dois suspeitos, identificados com Muhammet Yuce e Coskun Calik, conversando sobre o que aconteceria a eles se viessem a serem pegos depois dos golpes. Eles estavam dizendo que Peker se asseguraria que eles seriam transferidos para a prisão onde ele estava encarcerado e que ficariam lá confortavelmente e que seriam pagos maravilhosamente pelo contrato. Quinze minutos antes dessa conversa por telefone, Yuce enviou uma mensagem por SMS a Calik dizendo: “Nós vamos cuidar do jornalista Orhan Pamuk e receber 2 trilhões (de liras). Vamos fazer as preparações necessárias.” Na mensagem Yuce disse que seu associado já tinha conversado com pessoas que estavam envolvidas no assassinato de Hrant Dink [um jornalista armênio-turco que foi assassinado em 19 de janeiro de 2007] e enfatizou que Peker e Cakici ambos apoiaram seus planos.
A polícia interrogou Calik e perguntou sobre três conversas telefônicas. Em sua declaração, Calik disse que o primeiro contrato era o assassinato de político curdo e membro do Parlamento, Ahmet Turk, mas que se sentiu desconcertado com o assassinato e teve medo que sua família poderia enfrentar represálias do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). Quando ele contou isso para o Coronel Fikri Mehmet Karadag, outra figura obscura na rede ultranacionalista, o coronel lhe pediu para matar Pamuk em vez disso. Ele também acrescentou que no evento da captura deles, Yuce lhe disse que Peker asseguraria seu bem estar na prisão. Quando a polícia descobriu isso, o complô de assassinato foi frustrado.
Olhando-se para o passado desse homem e como ele esteve ligado a elementos obscuros no governo turco, incluindo a agência de inteligência turca MIT, deve-se presumir que suas ameaças tenham algum peso. Ele está claramente desfrutando de impunidade e imunidade de quaisquer processos graças à cobertura de proteção de Erdogan. Ele deve ser monitorado de perto quanto a como ele tem aberto suas asas para fora do país para se expor quaisquer acordos que ele esteja planejando executar em nome do ditador turco.
Escrito por Abdullah Bozkurt