Autoridades turcas querem prender Gülen por assassínio de embaixador russo
Na véspera de receber Vladimir Putin, o Presidente turco, Recep Erdogan, acusa o clérigo muçulmano Fethullah Gülen de mandar matar o embaixador russo em Ancara em 2016 . O mesmo Gullen que Erdogan acusa de ser o mentor da tentativa de golpe de Estado para o depor. Agenda de Putin inclui também encontro com o seu homólogo iraniano, Hassan Rouhani.
Um dia antes da visita de Vladimir Putin à Turquia, as autoridades turcas ordenaram a detenção do clérigo muçulmano Fethullah Gülen e sete outras pessoas pelo assassínio do embaixador russo em Ancara, Andrei Karlov, avançou esta segunda-feira o jornal turco “Haberturk”.
O caso remonta a dezembro de 2016, quando Andrei Karlov, embaixador na Turquia desde 2013, foi assassinado por um polícia turco que não estava ao serviço enquanto discursava na inauguração de uma exposição de fotografia. Enquanto disparava sobre a vítima, o atirador, identificado como Mevlüt Mert Altıntaş, 22 anos, gritou, entre outras palavras de ordem, “Deus é grande!” e “Não esqueçam Alepo, não esqueçam a Síria”, referindo-se aparentemente à interferência da Rússia no conflito sírio que data de setembro de 2015.
Tanto Fethullah Gülen, clérigo que se encontra exilado nos EUA há quase 20 anos e que é acusado pelo Governo turco de ter orquestrado a tentativa de golpe de Estado de 2016 para destituir Erdogan, como as restantes sete pessoas que foram detidas terão estado por trás do homicídio de Andrei Karlov, acreditam as autoridades turcas. Outras sete pessoas já tinham sido detidas, incluindo três polícias, suspeitas de ligação ao mesmo homicídio.
Vladimir Putin chega a Ancara na terça-feira, no mesmo dia em que será inaugurada a primeira central nuclear turca, construída pela Rússia em Akkuyu, na costa do Mediterrâneo, segundo informações avançadas pela agência de informação financeira Bloomberg, que cita uma nota enviada pelo gabinete de Erdogan.
A agenda da sua visita de dois dias inclui uma reunião de cooperação com o Presidente turco, Tayyip Erdogan, onde serão discutidos acordos bilaterais e cooperação económica entre os dois países, e com Hassan Rouhani, Presidente iraniano, que se juntará aos dois chefes de Estado na quarta-feira para um encontro que servirá para discutir o conflito sírio. É a primeira vez que Vladimir Putin sai em visita oficial desde que rebentou o caso Skripal, ao qual se seguiu a maior movimentação diplomática da história, envolvendo cerca de 300 diplomatas e funcionários de embaixadas.
Esta semana, Donald Trump anunciou que os EUA vão sair da Síria “muito em breve”, não adiantando mais detalhes sobre o assunto. O jornal norte-americano “Wall Street Journal” avançou, contudo, que a Casa Branca terá ordenado ao Departamento de Estado o congelamento de fundos no valor de 200 milhões de dólares, os quais estariam destinados a “esforços de recuperação” na Síria. “Estamos lá por uma razão: encontrar o Estado Islâmico, acabar com o Estado Islâmico e voltarmos para casa”, afirmou Trump durante um discurso no estado do Ohio. “Chegou a hora de outros tomarem conta do problema”, sublinhou ainda Trump, não dizendo contudo a que “outros” se referia.
Os Estados Unidos têm mais de dois mil militares no leste da Síria, que colaboram com milícias locais, nomeadamente as Forças Democráticas da Síria, coligação de árabes e curdos sírios, no combate ao Daesh. A decisão agradou ao primeiro-ministro turco, que considerou a intenção de retirar tropas da Síria “muito correta”. “Chegam-nos diferentes declarações, mas damos por vinculativo o que diz o Presidente dos Estados Unidos”, afirmou Binali Yildirim.
Helena Bento
Fonte: http://expresso.sapo.pt