O Encontro do Papa Francisco com Recep Tayyip Erdoğan
Retornando o gesto do papa Francisco, que levou a cabo uma Viagem Apostólica à Turquia entre 28 e 30 de novembro de 2014, Recep Tayyip Erdoğan, o presidente daquele país, encontrou-se com o papa Francisco na Sala do Tronetto do Palácio Apostólico, no dia 5 de fevereiro. A audiência privada durou 50 minutos, mais do que o habitual, pois este tipo de reuniões não costuma ultrapassar a meia hora. Ambos os dignitários discutiram “a situação da comunidade católica, os esforços para a recepção dos muitos refugiados e os desafios associados”. Também foi referida “a situação no Oriente Médio, com particular referência para o estatuto de Jerusalém, destacando a necessidade de se promover a paz e a estabilidade na região através do diálogo e a negociação, com respeito para os direitos humanos e a lei internacional”.
Esta visita de Erdoğan ao Vaticano, que viajou acompanhado por uma delegação de 16 pessoas, incluindo sua esposa e uma de suas filhas, mas também quatro ministros, incluindo o da Defesa e o das Relações Exteriores, foi a primeira de um presidente turco à cidade Estado sede da Igreja Católica em 59 anos. A presença do presidente turco em Roma, cujo centro foi fechado aos manifestantes por um período de 24 horas, tendo a presença de um dispositivo policial de 3.500 agentes, contou com protestos de curdos e de defensores dos Direitos Humanos, que tiveram início no dia anterior ao do encontro do dirigente turco com o sumo pontífice. Entre as principais críticas ao líder turco se encontravam os ataques contra os curdos e a perseguição a rivais políticos por conta do fracassado golpe de Estado de julho de 2016. Cerca de 200 curdos acamparam perto do Castelo de Santo Ângelo, na margem direita do rio Tibre, para organizarem uma manifestação, sentados. O ato tornou-se violento quando um grupo de 30 manifestantes tentou se aproximar do Vaticano, quebrando a linha de segurança. Resultaram duas prisões e pelo menos um dos manifestantes ficou ferido durante as contendas.
No final do encontro, o papa ofereceu a Erdoğan um medalhão com “um anjo estrangulando o demônio da guerra”, um dragão. Na ocasião, Francisco comentou: “Este é um anjo da paz, que estrangula o demônio da guerra”, tendo acrescentado que ele “é o símbolo de um mundo baseado na paz e na justiça“. Francisco também ofereceu exemplares de sua mensagem para a Jornada Mundial da Paz, deste ano, e da carta encíclica Laudato Si’. Erdoğan presenteou o vigário de Cristo com um retrato panorâmico em cerâmica de Istambul, onde se distingue a cúpula da Basílica de Santa Sofia convertida pelos otomanos em uma mesquita no século XV, bem como a Mesquita Azul.
De Itália, Recep Tayyip Erdoğan deveria deslocar-se à América do Sul, numa viagem que incluía o Brasil, o Uruguai e a Venezuela. No entanto, a viagem foi cancelada. O papa, defensor do diálogo inter-religioso, da autenticidade e da luta pela paz, depois do encontro com o presidente turco, recebeu os bispos caldeus, incluindo os responsáveis pela atenção aos católicos de origem iraquiana e síria, tanto naqueles países como na região curda da Turquia.
J. M. de Barros Dias
——————–
Imagem:
O encontro do presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, com o papa Francisco, durante a audiência privada.
(Fonte):
https://i.dawn.com/large/2018/02/5a785e6cd4615.jpg
Publicado em: http://jornalri.com.br