Papa presenteia presidente turco com medalhão contra a guerra
O papa recebeu nesta segunda-feira (5) no Vaticano o presidente turco Recep Tayyip Erdogan e lhe ofereceu um medalhão com “um anjo estrangulando o demônio da guerra”, num momento em que o regime de Ancara bombardeia os curdos na Síria.
O chefe do Estado turco, muito sorridente e atrasado, foi recebido pelo pontífice, que parecia mais tenso. A atmosfera melhorou no momento da troca de presentes e da despedida, segundo dois jornalistas presentes.
“Este é um anjo da paz, que estrangula o demônio da guerra”, comentou Francisco, oferecendo um medalhão de bronze de cerca de 20 centímetros de diâmetro. “É o símbolo de um mundo baseado na paz e na justiça”, acrescentou.
O medalhão representa um anjo místico aproximando os hemisférios norte e sul, enquanto luta contra um dragão.
Erdogan trouxe para o pontífice um grande retrato panorâmico em cerâmica de Istambul, onde é possível distinguir a cúpula da basílica de Santa Sofia convertida pelos otomanos em uma mesquita no século XV, bem como a famosa mesquita azul.
Durante a reunião privada de 50 minutos com Erdogan, esperava-se que o Papa Francisco – que não hesita em expressar seu horror diante das guerras e armas de destruição – falasse da ofensiva conduzida desde 20 de janeiro na Síria na região de Afrin.
Erdogan planejou agradecer o Papa por ter contestado a decisão do presidente Donald Trump de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel.
“Somos a favor do status quo e temos a vontade de protegê-lo”, comentou o líder turco ao jornal italiano La Stampa no domingo.
Palácio de mil quartos
O papa argentino, defensor do diálogo interreligioso, viajou à Turquia em novembro de 2014. Erdogan, um muçulmano fervoroso, reclamou na ocasião sobre a denúncia da “islamofobia”.
Ele também revelou a Francisco, que prega a simplicidade, seu suntuoso palácio presidencial de mil quartos e 200 mil metros quadrados, quase metade do tamanho do Vaticano.
Em junho de 2016, durante uma viagem à Armênia, o papa usou a palavra “genocídio” armênio, provocando a ira de Ancara, que reclamou de “uma mentalidade de cruzada”.
O presidente turco foi acompanhado nesta segunda-feira por uma delegação de 16 pessoas, incluindo sua esposa e uma de suas filhas, mas também quatro ministros, incluindo o responsável pelas relações com a Europa.
Erdogan deve visitar a Basílica de São Pedro antes de deixar o Vaticano.
Protestos
Um grande perímetro no centro de Roma foi fechado a manifestantes por 24 horas e 3.500 policiais foram implantados.
No entanto, cerca de 30 pessoas se reuniram perto do Vaticano, por iniciativa de uma associação italiana curda. “Em Afrin, um novo crime contra a humanidade está em andamento”, denunciou a associação.
O presidente turco também deve se encontrar com o presidente italiano, Sergio Mattarella, e com o primeiro-ministro, Paolo Gentiloni, para discutir a imigração ilegal, a indústria da defesa e a adesão à UE.
No domingo, ele rejeitou nas colunas do jornal La Stampa qualquer alternativa à uma adesão da Turquia à UE, varrendo a proposta francesa de uma mera “parceria”.
Nenhum encontro com a imprensa está previsto em Roma. Erdogan foi fortemente criticado no início de janeiro em Paris por atacar um jornalista francês que o questionou sobre a suposta entrega de armas por Ancara ao EI em 2014.
Originalmente publicado em: https://g1.globo.com/