Depois de um ano tenso, Presidente da Turquia estende a mão à União Europeia
Ao diário “Hurriyet”, Recep Tayyip Erdogan garantiu na quinta-feira que tem mantido contatos “bastante bons” com os líderes de países da União Europeia como a Alemanha e a Holanda, com quem trocou ameaças e insultos no início deste ano por causa de um controverso referendo que veio reforçar os seus poderes. Para o líder, Ancara enfrenta um momento em que tem de “diminuir o número de inimigos e aumentar o seu número de amigos”
O Presidente da Turquia diz que está empenhado em melhorar as relações tensas com uma série de países europeus, nomeadamente a Alemanha e a Holanda, face ao que diz ser a necessidade de Ancara “diminuir o número de inimigos e aumentar o seu número de amigos”.
Em declarações ao diário turco “Hurriyet” na quinta-feira, Recep Tayyip Erdogan descreveu os atuais líderes da Alemanha, Holanda e Bélgica como “amigos de longa data”, com quem manteve contatos “bastante bons” nos últimos meses apesar das tensões registadas este ano, e sublinhou que, tal como a Turquia, também esses países se opõem à controversa decisão dos EUA de declarar Jerusalém a capital de Israel.
“Não temos problemas com a Alemanha nem com a Holanda nem com a Bélgica”, garantiu o líder turco aos jornalistas ao regressar de uma visita oficial a alguns países africanos. “Pelo contrário, aqueles que estão no poder [nesses países] são meus amigos de longa data. Fizeram-me mal mas isso é outra questão.”
As relações da Turquia com esses Estados-membros da União Europeia azedaram no início deste ano, quando governos nacionais e locais desses três países impediram ministros turcos de fazerem campanha junto de expatriados antes de um controverso referendo em abril, que veio reforçar e alargar os poderes do Presidente turco. Erdogan reagiu ao bloqueio com uma série de insultos aos aliados europeus, acusando-os de serem racistas, de apoiarem terroristas e de estarem a comportar-se “como os nazis”.
A par disto, a União Europeia também tem demonstrado uma frente unida nas críticas ao Presidente da Turquia por causa de violações de direitos humanos e de ameaças ao Estado de Direito no país, que têm vindo a amontoar-se desde o golpe falhado de 2016. No seguimento dessa tentativa de golpe militar, o governo de Erdogan lançou uma campanha sem precedentes de repressão de críticos e opositores, que até agora já conduziu a mais de 50 mil detenções e ao despedimento de mais de 110 mil funcionários do setor público.
O estado de emergência declarado após o golpe continua em vigor e permite a Erdogan governar através de decretos, na maioria das vezes sem ter de consultar o parlamento. Entre os milhares de detidos contam-se dezenas de jornalistas, um deles o repórter Deniz Yucel, com dupla nacionalidade turca e alemã, cuja detenção em fevereiro deste ano veio deteriorar ainda mais as relações de Ancara com Berlim.
“Temos tido problemas mas os nossos últimos encontros foram muito bons”, garantiu ontem Erdogan ao “Hurriyet”. “Pedi-lhes apoio na questão de Jerusalém e estamos todos no mesmo comprimento de onda. Já telefonei [ao Presidente alemão, Frank Walter] Steinmeier para lhe agradecer. [O primeiro-ministro holandês, Mark] Rutte enviou-me alguns sinais de que as nossas relações estão a melhorar. Isto é satisfatório. Nós queremos, naturalmente, ter boas relações com a UE e com os países da UE.”
Joana Azevedo Viana
Originalmente publicado em: http://expresso.sapo.pt