O impacto do presidente turco nas eleições legislativas alemãs
Nas ruas de Colônia, a poucos dias das eleições legislativas, um retrato do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ilustra os cartazes eleitorais da Aliança de Democratas Alemães (ADD).
A intenção do presidente turco é clara: entrar no jogo político alemão, embora com isso piore a crise aberta com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, grande favorita a conquistar o quarto mandato à frente do país.
Desde o frustrado golpe de Estado de julho de 2016 na Turquia, as relações entre os dois países estão em uma complicada situação. Erdogan acusa a Alemanha de proteger os golpistas, e o governo de Merkel denuncia o enorme expurgo realizado pelo poder turco.
Em agosto, Erdogan voltou a tensionar as relações ao pedir aos 1,2 milhão de eleitores alemães de origem turca que votem contra a dirigente conservadora, seus aliados social-democratas (SPD) e o Partido Verde.
A ADD, composta unicamente por candidatos de origem turca, não tem nenhuma chance de entrar no Parlamento, mas o fato deste partido fazer campanha, sobretudo no oeste da Alemanha, não é insignificante.
– O impacto de Erdogan –
O partido quer aproveitar o descontentamento dos turcos, considerados durante décadas como uma simples mão de obra para as indústrias do oeste da Alemanha. A própria Merkel reconheceu que esse povo havia sido desdenhado e que o Estado não lhe havia proposto nenhuma forma de integração até os anos 1990.
“Essa mensagem de Erdogan, que defende uma Turquia forte, teve sobre os turcos da Alemanha um impacto positivo, especialmente naqueles que se sentem excluídos, discriminados”, explica o pesquisador Yunus Ulusoy, da Universidade de Duisburgo-Essen.
Tarik, funcionário de uma cafeteria e que mora na Alemanha há 15 anos, é um dos que irão se abster em 24 de setembro.
“Até agora votava no SPD, mas são todos uns mentirosos. Desta vez não votarei”, explica esse berlinense de 45 anos, que assegura que graças a Erdogan “a Turquia está mil vezes melhor do que antes, tão bem quanto a Europa”.
Os turcos da Alemanha distinguiram até o momento o que ocorre na Turquia e o que acontece em seu país de residência. Procedentes em sua maioria de classes populares, votaram em massa pelo partido islâmico-conservador de Erdogan durante as eleições turcas, enquanto se mantinham fiéis à esquerda nas eleições alemães.
Apesar disso, os ministros das Relações Exteriores e de Justiça, Sigmar Gabriel e Heiko Maas, não escondem a sua preocupação.
“Não devemos (…) subestimar os perigos que emanam das organizações estatais de Erdogan”, escreveram em uma plataforma, na qual demonstram o seu temor de que “as comunidades muçulmanas na Alemanha fiquem (…) sob a influência do presidente” turco.
– Uma comunidade dividida –
Os serviços de segurança alemães temem as consequências da transferência à Alemanha dos conflitos políticos turcos.
“A profunda brecha que divide a Turquia também atinge a comunidade germano-turca”, confirma Ulusoy. “A paisagem política turca sempre esteve dividida entre esquerda e direita, laicos e religiosos, curdos e nacionalistas. A novidade consiste na intensidade da divisão e na importância que adquire uma só pessoa: Erdogan”.
Diante destas tensões, os representantes dos turcos mantêm um discurso tranquilizador.
Erdogan deveria deixar de ter “uma atitude paternalista com os turcos instalados na Alemanha”, diz à AFP Gökay Sofuoglu, presidente da Comunidade Turca, principal organização germano-turco do país. “Não precisamos de lições de democracia”.
Dilmar Yilmaz, uma jovem vendedora de doces em Berlim, lhe dá razão, expressando a sua admiração por Erdogan, mas também a sua intenção de votar em função de suas opiniões sobre a vida política alemã.
Erdogan “situou a Turquia em um lugar melhor no mundo. A Turquia já não é a mesma: as estradas são melhores, tudo é melhor”, assegura. “Mas nem tudo o que diz é bom”, opina esta eleitora do SPD de 24 anos.
Originalmente publicado em: http://istoe.com.br/