Autoritarismo na Turquia
O governo turco vem promovendo, desde julho de 2016, uma ampla “caça às bruxas no país”. Aprisionamentos em massa e perseguições políticas à direita e à esquerda erodiram completamente a democracia turca que, afinal, foi substituída por um regime autoritário, que caminha a passos largos para a implementação de um regime puramente ditatorial.
Recep Tayyip Erdogan é o polêmico presidente do país que neutralizou e marginalizou praticamente toda a oposição política existente contra o seu governo. Na esteira de uma suposta – e suspeita – tentativa de golpe militar, Erdogan praticamente aplicou o seu próprio golpe político, concentrando e acumulando poder em suas mãos.
O resultado foi a transformação da Turquia num país dominado pelo autoritarismo do Estado, sob a batuta de Erdogan, que não respeita os direitos políticos e sociais dos seus cidadãos. A Turquia vive, pode-se dizer, um verdadeiro Estado de Exceção.
Mais de 50.000 pessoas foram presas desde julho de 2016, muitas delas sem acusação formal e sem direito a defesa. Professores, juízes, promotores, bancários, empresários, militares, policiais, jornalistas, religiosos, ninguém na Turquia está a salvo das medidas autoritárias do governo Erdogan.
Com a escalada autoritária no país, mais de 4000 juízes e promotores foram demitidos, assim como mais de 44.000 professores (ensino fundamental e médio), mais de 8.000 professores universitários, mais de 200 jornalistas, dentre outros inúmeros profissionais. Milhares de servidores públicos também foram demitidos.
Esses números nos dão uma ideia da escalada autoritária na Turquia. Internamente as perseguições continuam, inclusive com muitas prisões ocorrendo esporadicamente. Muitos turcos, milhares, tiveram que sair do país para evitar perseguições e prisões.
Embora exista uma notória insatisfação externa com os rumos políticos do país desde 2016, as democracias ocidentais não vêm criticando consistentemente as repetidas violações dos direitos humanos e da supressão da democracia no país. Pelo menos não a ponto de ameaçar o regime com sanções internacionais ou outro tipo de punição. Assim, há uma certa conivência internacional com o governo autoritário de Erdogan.
Em parte, isso é reflexo da posição estratégica da Turquia, tanto em termos globais como regionais. Vale lembrar que o país é membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e conta com bases militares norte-americanas em seu território. É também um ativo ator regional que se envolve diretamente na política de países para lá de instáveis, sobretudo com a Síria.
Portanto, a importância estratégica da Turquia acaba favorecendo uma certa aquiescência dos principais atores globais com o cada vez mais ilegítimo governo Erdogan. Nesse sentido, apesar das graves violações aos direitos humanos e da supressão de direitos civis, a pressão internacional sobre o governo é mínima.
Infelizmente para o povo da Turquia os movimentos do governo Erdogan apontam para uma escalada autoritária, com tudo de negativo que vem embutido nisso. Ou seja, mais repressão, mais violência, mais prisões.
De toda forma, regimes autoritários e ditaduras não costumam ter um final feliz.
Pio Penna Filho é professor do Instituto de Relações Internacional da Universidade de Brasília (UnB)e pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
Originalmente publicado em: http://www.gazetadigital.com.br