UE pede investigação transparente sobre referendo na Turquia
BRUXELAS — Após a apertada vitória do “sim”, defendido pelo presidente Recep Tayyip Erdogan, no referendo constitucional na Turquia no último domingo, a Comissão Europeia pediu às autoridades do país que iniciem uma investigação transparente sobre a votação, marcada por denúncias de irregularidades. O Partido do Povo Republicano (CHP, na sigla em turco), principal legenda de oposição, apresentou uma apelação formal para anular a votação, e reiterou que levará sua denúncia ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos caso necessário.
Os protestos da oposição ganharam força com as declarações de membros da missão de observadores do Conselho da Europa, que relatam o desaparecimento de milhares de cédulas e dizem terem sido impedidos de visitar centros de votação em cidades de maioria curda, como Diyarbakir, no Sudeste do país.
Uma das principais irregularidades apontadas foi a decisão, já com a votação em andamento, de aceitar cédulas eleitorais sem o selo oficial. Uma integrante austríaca da missão disse à rádio ORF que até 2,5 milhões de votos — o dobro da margem de vitória obtida pelo “sim” à reforma constitucional que aumentou os poderes de Erdogan — podem ter sido manipulados.
A associação nacional de advogados turcos também afirmou que a decisão de última hora do organismo eleitoral sobre as cédulas sem selo foi uma violação da lei, que evitou a manutenção de registros adequados e impactou o resultado final da consulta popular.
— Estas reclamações devem ser levadas muito a sério e são, de todo modo, de tal magnitude que iriam inverter o resultado da votação — disse a observadora Alev Korun.
Com base no relatado pela missão, a Comissão Europeia também cobrou providências.
— Levando em conta a visão dos observadores, o resultado apertado e as amplas implicações das emendas constitucionais, pedimos a todos os atores envolvidos que ajam com cautela e às autoridades que deem início a investigações transparentes sobre as supostas irregularidades apontadas pelos observadores — afirmou um porta-voz do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.
Na Turquia, poucos acreditam que os desafios ao referendo gerem uma nova contagem de votos ou a anulação do pleito. Juncker e o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, não conversaram com Erdogan após sua vitória no referendo, e a maior parte dos líderes europeus tem sido cautelosa no contato com Ancara, temendo colocar em risco o acordo migratório que faz com que a Turquia detenha milhares de refugiados a caminho do continente.
Fonte: http://oglobo.globo.com