Filme que retrata Erdogan como santo fracassa nas bilheterias da Turquia
ISTAMBUL — Mesmo com todas as características de um sucesso — orçamento de € 8 milhões (para a Turquia, é o valor de uma superprodução), história de superação e um ator extremamente semelhante ao personagem real — o filme que conta a trajetória do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, está sendo um fracasso de bilheteria.
O longa “Reis” narra a ascensão do atual presidente da Turquia, de origem pobre, para o estrelato político. Mesmo com ampla divulgação nos meios de comunicação, sobretudo naqueles controlados pelo governo, o longa não conseguiu emplacar. Durante as primeiras semanas em circuito, os dados oficiais apontam que pouco mais de 150 mil pessoas assistiram à película.
Esse cenário não se dá por conta da falta de público: só este ano, 3 milhões de turcos assistiram a outra produção local, “Recep Ivedik 5”, e 400 mil foram aos cinemas para conferir a última produção do diretor ítalo-turco, Ferzan Ozpetek, “Istanbul Red”. O filme sobre o político, no entanto, é exibido em salas praticamente vazias.
A produção foi lançada no dia 26 de fevereiro, aniversário de Erdogan. O título, “Reis”, é quase um cognato: significa “capitão”. O roteiro trata o presidente como uma figura próxima a de um santo e a estrutura se assemelha ao estilo de telenovela. O pequeno Tayyip, menino esforçado, trabalha vendendo roscas na rua. Bom aluno e devoto, é popular e atua como líder em seu grupo de amigos. Sua infância se dá em um bairro humilde, onde os habitantes religiosos sofrem com as injustiças de um Estado corrupto que defende somente o interesse dos poderosos.
— Se você for fraco, vão te comer — alertou um gângster a Erdogan.
Desde então, Erdogan não descansa até chegar ao poder. Com nota 1,9 de 10 no IMDb (66.954 votos), nem o diretor compareceu à estreia: Hüdaverdi Yavuz protestou que a produtora não havia pagado vários dos atores, além de tê-lo obrigado a terminar a produção antes, para que ela pudesse ser lançada durante a campanha eleitoral do referendo com o qual Erdogan pretende ampliar seus poderes políticos.
Por conta do referendo, atualmente Erdogan enfrenta uma crise diplomática com a Holanda e a Alemanha, que proibiram políticos turcos de participarem de atos eleitorais em seus países.
por Andrés Mourenza, do El País
Fonte: oglobo.globo.com