Turquia intensifica repressão e detém 2 mil pessoas em apenas uma semana
ANCARA — As autoridades turcas prenderam mais de duas mil pessoas apenas na última semana por suspeitas de ligação com grupos militantes ou pela tentativa de golpe do ano passado, informou o ministério do Interior nesta segunda-feira. Além das múltiplas ameças de segurança dentro do país, Ancara enfrenta uma crise diplomática com a União Europeia (UE), depois de Alemanha e Holanda terem barrado comícios a favor do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e de seu referendo de 16 de abril sobre a reforma constitucional que concede maiores poderes à figura presidencial.
Em um comunicado, o ministério do Interior disse que 2.063 pessoas foram detidas para interrogatório na semana passada. Segundo a nota, 999 são suspeitos de ligação com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), considerado uma organização terrorista pelos Estados Unidos, Turquia e Europa.
Outros 966 foram detidos por supostos laços com o clérigo muçulmano Fethullah Gulen, a quem Ancara culpa por orquestrar uma tentativa de golpe em julho passado. Gulen nega qualquer envolvimento e condenou o levante militar.
Ainda de acordo com o ministério, 70 pessoas foram detidas por suposto envolvimento com o Estado Islâmico (EI), enquanto outras 28 por vínculos suspeitos com “grupos terroristas de esquerda”.
Sem dar mais detalhes, o ministério também informou que 24 militantes foram “neutralizados” em operações na semana passada, dos quais 13 foram mortos.
Após o golpe fracassado de 15 de julho, a Turquia intensificou a repressão no país e prendeu mais de 40 mil pessoas, além de demitir ou exonerar mais de 100 mil nas Forças Armadas e nos setores público e privado.
Nos últimos dias, a temperatura subiu entre o governo turco e a UE, após Erdogan ter acusado algumas autoridades europeias de práticas nazistas.
Tudo começou quando o governo holandês barrou dois ministros do presidente turco que fariam comícios em seu favor em Roterdã. Desde então, Ancara investe em fortes ataques verbais contra o país europeu, cujo governo de Erdogan já chamou de nazista e islamófobo, elevando as tensões na Europa. Outro alvo dos ataques turcos é a Alemanha, que também proibiu os comícios.
No domingo, Erdogan acusou pessoalmente a chanceler Angela Merkel de “práticas nazistas”, declaração que foi condenada fortemente por Berlim.
A reação dura do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, à tentativa de golpe em julho gerou um expurgo que hoje alcança mais de 128 mil pessoas demitidas de cargos públicos e de empresas. Segundo Erdogan, elas faziam parte de uma rede ligada ao clérigo Fethullah Gülen, seu inimigo pessoal e a quem acusa pelo golpe.
De acordo com levantamentos do governo e de ONGs independentes (como o site Turkey Purge), houve quase 92,5 mil detidos em conexão com a tentativa do golpe. Mais de 45 mil ficaram presos preventivamente ou provisoriamente.
Pelo menos 2.100 escolas, dormitórios e universidades foram fechados por causa da reação ao golpe frustrado, contabiliza o site Turkey Purge. Grande parte das instituições fazia parte do movimento Hizmet, corrente não partidária e islamista moderada de Gülen. Outros 7 mil acadêmicos perderam seus empregos.
Erdogan acusa o Judiciário de abrigar juízes e procuradores coniventes com o movimento Hizmet. Em reação ao expurgo, pelo menos 4.070 deles já foram exonerados de seus cargos. Muitos acabaram atrás das grades.
A imprensa já era foco de ataques de Erdogan: após ordenar expropriações e mover ações legais contra jornais críticos — alguns ligados a Gülen e outros muitos, não —, o governo forçou o fechamento 149 veículos de mídia até agora. Pelo menos 162 jornalistas já foram presos desde o expurgo, segundo organizações.
Fonte: http://oglobo.globo.com