Erdogan e o presidencialismo
Em seu artigo “Para Transformar a Turquia, Erdogan precisa de Caos”, publicado no Huffington Post, em 05 de novembro de 2016, o jornalista Mahir Zeynalov apontou que a detenção dos parlamentares curdos, em novembro de 2016, tinha a intenção de criar um caos para que presidente Erdogan pudesse transformar a Turquia, principalmente o sistema governamental. Portanto, ninguém duvida disso, realmente, ele quis criar um caos, que já estava presente no sul da Turquia há mais de um ano nas cidades de Sur, Nusaybin e Hakkari. Porém, sob uma perspectiva maior, havia uma outra opinião sua: a separação do território onde os curdos residem. Ou seja, criar a base de um Curdistão na Turquia, o que Erdogan, segundo suas palavras, não permitiria.
Falando da questão da detenção dos políticos curdos, seria melhor esclarecer o caso da seguinte forma: é uma realidade que Erdogan quer transformar o sistema parlamentarista em sistema presidencialista e, através desta mudança, ficar no poder até 2029, talvez nunca deixar outro assumir o poder até sua morte. Neste sentido, a maior oposição era realizada pelos políticos curdos, principalmente por deputados do HDP. Embora existam mais dois partidos de oposição no parlamento, um deles, O Partido do Movimento Nacionalista (MHP), já se aliou a Erdogan em relação a transformação do sistema e da constituição. Outro partido, que é Partido do Povo Republicano fundado por Ataturk, é quase desconsiderado e tem perdido sua força dentro da sociedade turca, apenas por ser um partido kemalista, e igualmente por causa de detenção de políticos curdos, que serviam de apoio para o partido nesta oposição e resistência.
Em várias ocasiões, muitos jornalistas e intelectuais turcos, incluindo alguns jornalistas pró-Erdogan, se expressa a ideia de que o Presidente Erdogan faz parte de um projeto que será motivo de grandes mudanças no Oriente Médio, incluindo a “Redefinição das Fronteiras” dos países orientais. Segundo estas alegações, haverá mudanças como a fundação de um estado curdo, um país árabe sunita, o ramo do islamismo que segue a tradição profética de profeta Muhammad, e um país árabe xiita, que é a contrapartida do estado árabe sunita. Além de ser uma alegação, o próprio Presidente Erdogan, várias vezes, expressou que ele e seu partido AKP, eram copresidentes do Projeto de Grande Oriente Médio. Portanto, o presidente Erdogan nunca se recusa a fazer parte de um projeto e até mesmo sendo aquele para realizar a fase principal deste objetivo.
Após investigações de corrupção de dezembro de 2013, as relações entre Erdogan e alguns grupos terroristas como o Estado Islâmico e a Frente al-Nusra, também foram detectadas e questionadas. Porém, os procuradores, juízes e policiais que abriram as investigações, foram afastados de cargo e em seguido presos. Mas Erdogan não se recusou de ter laços com tais grupos, pelo contrário, ele sempre reiterou que seus telefonemas e ligações foram acompanhados pela polícia, isto ele acrescentou à questão de grupos terroristas e à questão de corrupção. Quer dizer que ele nunca negou ter cometido corrupção e que teve laços com grupos terroristas. Estes, como tentei apontar em um dos artigos publicados no portal Voz da Turquia, eram, na visão dele, as preparações para declarar seu “Califado”. Por isto, estes grupos nunca realizaram ataques na Turquia, até o Estado Islâmico declarar que a Turquia estava aberta para “jihadistas” no final de 2016. Na minha opinião, estes ataques do Estado Islâmico também são realizados para que Erdogan possa justificar a mudança constitucional e a do sistema governamental. Pois ele mesmo sempre disse que a Turquia poderia ser purificada do terrorismo apenas se tivesse um sistema presidencialista.
Como citamos acima, Erdogan, sim, precisa de caos para que possa transformar a Turquia. E os ataques terroristas que a Turquia vem sofrendo fazem parte deste “caos necessário”. E o assassinato do embaixador russo? Este era apenas para difamar o Movimento Hizmet na Rússia e fazer com que Putin fechasse as instituições do movimento na Rússia. Pois já um dia depois do assassinato, os jornais pró-governo publicaram esta ideia nas suas manchetes. É uma realidade, infelizmente, que a Turquia sofrerá ainda mais ataques até o sistema mudar. E assim que Erdogan declarar sua presidência, tentará declarar sua liderança no Oriente Médio também, uma vez que ele tenta mostrar isso em suas práticas interferindo nas relações internas de outros países.
Atilla Kus