A Turquia está caminhando para a lei marcial?
Um carro-bomba, supostamente explodido por um grupo militante que surgiu do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), detonado no lado de fora de um tribunal de Esmirna, matando pelo menos duas pessoas. O atentado terrorista é apenas mais um em uma série de atentados demonstrando o colapso da capacidade contraterrorista da Turquia na sequência dos expurgos políticos do Presidente Recep Tayyip Erdogan.
Erdogan ama uma crise. Ele chamou o golpe frustrado de 15 de julho de “um presente de Deus”. Ele desde então chamou e estendeu leis de emergência e expurgou dezenas de milhares de inimigos políticos.
Ele é também alérgico a críticas. Os jornalistas ou culpam o inimigo do dia de Erdogan ou vão parar na prisão. Desde que a campanha de terrorismo começou, Erdogan prendeu mais jornalistas do que terroristas.
Por meses, tem ocorrido uma confrontação iminente entre Erdogan e os militares da Turquia. Dogu Perincek, um maoista que virou ultranacionalista, possui uma base de poder entre oficiais de alta patente. Erdogan aparentemente tentou erodir a influência de Perincek ao devolver islamistas ao poder enquanto construía sua própria milícia pessoal sob o disfarce da SADAT, uma empresa de segurança privada que treina paramilitares cujo chefe, o General Adnan Tanriverdi, Erdogan nomeou ele como seu conselheiro militar.
Erdogan trabalhou com Perincek para expurgar seus inimigos mútuos: liberais, curdos e seguidores de Fethullah Gulen. Onde os dois entraram em conflito mais proeminentemente é quanto a nova constituição que Erdogan quer que confirme seus poderes ditatoriais.
A questão é se os dois podem temporariamente enterrar as rixas ao fecharem um acordo para alinhar a Turquia mais proeminentemente com a Rússia. Perincek por muito tempo denegriu a OTAN e pediu por laços mais próximos entre Ancara e Moscou. A recente aceitação da Rússia feita por Erdogan (“Fechem Incirlik” está nas tendências no momento no Twitter turco e jornais turcos proeminentes culpam os Estados Unidos pelos ataques recentes) entra no jogo do controle russo.
Se Erdogan continuar sua batalha contra Perincek, a Turquia vai rumar para outro golpe, assassinatos políticos ou guerra civil. Se ele propor uma trégua com Perincek, não há impedimentos para Erdogan declarar lei marcial e trazer a força total dos militares para resistir contra qualquer um que ficasse no caminho de Erdogan, Lei marcial, contudo, não é uma bala mágica:
- Erdogan é como Putin. Poder que ambos os líderes acreditem que possam usar ou ultrapassar o outro. Mas Putin é mais esperto que Erdogan. O líder turco deveria perguntar: Ele realmente acredita que possa ultrapassar Putin? Putin poderia usar Perincek contra Erdogan ao apoiar um golpe ou assassinar o líder turco ou seus aliados próximos?
- Perincek declarou sua oposição à nova constituição. Ele cooperaria com uma lei marcial mesmo se isso significasse que Erdogan continuaria a pressionar pelo novo pacto através do parlamento?
- Erdogan retem o apoio de metade do país, muitos deles são muçulmanos conservadores e adotam o Islã político. Tendo incitado ódio e intolerância religiosos por mais de uma década, Erdogan provavelmente não será capaz de controlar esses constituintes mesmo se suas demandas se tornaram inadequadas politicamente.
- A lei marcial e uma alinhada com a Rússia e a China não reviverão a economia da Turquia; essas coisas apenas farão que ela afunde ainda mais.
- Erdogan puxou o gatilho contra os curdos. Ele não apenas foi embora das conversas de paz, mas também prendeu líderes curdos eleitos democraticamente. Muitas cidades curdas hoje em dia se parecem com Alepo; apenas a repressão sobre a mídia tanto estrangeira quanto doméstica causou revolta. A lei marcial não resolverá o problema. Ela apenas transformará a divisão psicológica da Turquia em uma divisão física.
Então o que a Turquia pode fazer para se recuperar? Leis de emergência são viciantes, mas elas não vão trazer mais estabilidade à Turquia do que trouxeram à Síria. Nem é uma censura à imprensa algo sábio de se fazer. Evitar a prestação de contas quase nunca melhora a qualidade da governança. A força militar exacerbará em vez de resolver a polarização social. Os Estados Unidos podem se virar sem a Turquia, e a OTAN, sem contar a União Europeia, estariam melhor sem a Turquia moldada por Erdogan. Se Erdogan quiser dançar com Putin, os turcos sofrerão. A Rússia não é conhecida por trazer liberdade ou prosperidade aos seus clientes – e assim é exatamente com Putin vê seus aliados.
A lei marcial empurrará a Turquia ainda mais para um atoleiro. Dizendo de forma simples, não substitutos para o estado de direito e a democracia, exatamente os ideais para os quais Erdogan acaba de virar as costas.
Michael Rubin
Fonte: www.aei.org