Embaixador turco no Brasil acusa Hizmet com provas rasas
Na manhã da segunda-feira 22/08 no Consulado Geral da Turquia em São Paulo, o embaixador turco no Brasil Huseyin Dirioz, falou com jornalistas à respeito da situação política do país após a tentativa fracassada de Golpe no dia 15 de Julho.
Husayin Dirioz, embaixador da Turquia no Brasil, afirma que a tentativa de Golpe em 15 de Julho foi coordenada por Fethullah Gulen – clérigo e erudito muçulmano. Gulen nega qualquer envolvimento e solicita uma investigação internacional do caso.
“Quem coordenou foi o FETO”, conta o embaixador turco pela sigla denominada pelo governo turco que representa: Organização Terrorista do Fethullah Gulen. Vale ressaltar que a tentativa fracassada de golpe na Turquia foi orquestrada por militares, que queriam retirar a força do atual presidente do país Recep Tayyip Erdogan. Ou como disse o embaixador: “Queriam matá-lo”.
A afirmação de que Gulen foi a cabeça pensante da tentativa de golpe é embasada no seguinte aspecto, de acordo com o governo turco: a prisão de um militar golpista, que disse aderir ao movimento Gulen. De acordo com as autoridades turcas, essa foi uma evidência muito contundente para chegar a conclusão a respeito do clérigo. Para Gulenistas, esta teoria do governo deve ser discutida à luz da nota divulgada pela Anistia Internacional: Há evidências concretas de tortura nas prisões e os militares foram obrigados a assinar textos prontos.
O parlamento turco, durante o dia 15 de Julho, foi bombardeado por caças F16, tanques de guerra fecharam avenidas importantes no país e mortes de centenas de civis por parte dos golpistas militares foram ocorrendo de maneira corriqueira, até a intervenção e prisão dos mesmos. Pouco mais de 240 mortos foram contabilizados durante a tentativa da tomada do poder.
Como o clérigo conseguiu tamanha ação morando em um retiro na Pensilvânia ou como Fethullah Gulen denomina ‘um autoexílio’?
Segundo o embaixador da Turquia: “Não apenas as Forças Armadas praticaram a tentativa de golpe, Gulen criou uma pequena facção clandestina, presente em todos os setores da sociedade a fim de derrubar o presidente e a democracia”.
Essa facção clandestina na qual o embaixador turco cita, é o Movimento Hizmet ou Movimento Gulen. Hizmet – “serviço” em turco – é um movimento transnacional de indivíduos que visam ao desenvolvimento da educação e do diálogo inter-religioso entre povos. Começou na Turquia e hoje está presente em mais de 170 países, inclusive no Brasil, com mais de 1500 instituições educativas (escolas e universidades), fora projetos de ajuda humanitária em todo o mundo. Tudo que é construído em prol do Hizmet é devido a trabalho voluntário e doações.
Gulen foi idealizador do Movimento Hizmet, contudo não lidera nem toma parte de qualquer ação envolta no movimento por parte de seus voluntários.
O embaixador Dirioz afirma: “Por meio desse movimento inúmeros setores da sociedade são afetados. É como um Iceberg, o que vemos são as boas ações, construção de escolas, ajuda humanitária, entretanto chamar de Hizmet não é possível pelo verdadeiro objetivo que eles almejam, (aquilo que não vemos) que é a tomada do poder contra os princípios democráticos”.
“Eles fraudaram concursos para serviços públicos para poderem chegar a cargos elevados no país, sem contar a exposição de informações confidenciais de Estado, lavagem de dinheiro, destruição e falsificação de documentos”, ressalta o embaixador turco. Por outro lado, o Hizmet já tinha sido acusado de incentivar outros golpes. Por exemplo, logo após um escândalo de corrupção no pais que envolvia ministros e a família do Erdogan. Para seguidores do Gulen, Erdogan usa o Hizmet como um bode expiatório para lavar suas sujeiras.
Diz também ser um culto religioso secreto, e mostrou fotos de uma instalação secreta encontrada em uma universidade construída pelo do movimento, da qual não citou o nome. Nessa instalação secreta, havia uma réplica em gesso de duas mãos, que eles acreditam ser de Gulen, e toda vez que entrevam no recinto, os visitantes deveriam beijar as mãos em símbolo de respeito ao líder do movimento. Para os Gulenistas, estas acusações não possuem fundamentos e são esdrúxulas pois, inclusive, os fanáticos do Erdogan até disseram que ‘Gulen foi clonado pelo CIA e a imagem dele vista na televisão é falsa.’ ou ‘Gulen comandou a tentativa de golpe por meio dos gênios’.
Os diferentes setores da sociedade nos quais o movimento está inserido incluem o das comunicações, mais precisamente dos jornalistas. Muitos desses profissionais foram e estão presos por assumirem a causa que Gulen compartilha. Jornais foram fechados por fazer oposição ao atual governo de Erdogan, o embaixador turco Husayin Diroz disse: “Temos muitos jornais de oposição circulando na Turquia, os jornalistas presos, foram presos por participarem da tentativa do golpe de Estado”, ponderou ainda que: “Tudo que fizemos, essas prisões, não fere princípios da lei turca, muitos menos dos direitos humanos, pois, utilizamos meios legais e somos elogiados por governos de outros países por nossa atitude contra o golpe”.
Os poucos jornais de oposição que ainda existiam na Turquia foram tomados pelo governo, caso do Zaman – jornal que era de maior circulação no país. A Anistia Internacional condenou a prisão de jornalistas sem provas concretas. Muitos países europeus, inclusive potências mundiais, de fato elogiaram a atitude do governo turco na luta contra o golpe em favor da democracia.
Depois de prenderem os golpistas, Erdogan classificou Fethullah Gulen como o idealizador. Muitos veículos independentes na Turquia apontam casos de cassação de passaportes dos integrantes do Hizmet e de tortura contra os presos, que não tem direito a advogados. Recentemente a revista digital Konstantiniyye (Constantinopla em português) do Daesh (Estado Islâmico) elogiou Erdogan pelas atitudes contra os seguidores de Gulen. Segundo o embaixador: “Nada passou de propaganda do Daesh”.
Sobre o Assessor Principal de Erdogan ser uma organização paramilitar – Sadat – que visa ao crescimento de um bloco muçulmano, com treinamento em diversas áreas, desde soldados a maneiras de negociação de petróleo, o embaixador disse não saber sobre a Sadat. E ressaltou diversas vezes que estão agindo de acordo com princípios que estabelecem a democracia, a normalidade que havia antes do golpe.
Terminou dizendo: “A Turquia está mais unida do que nunca. O povo e levantou contra os golpistas, em manifestações pró-governo, e estamos o estabilizando aos poucos”. Se realmente há uma democracia na Turquia, a voz opositora deve ser dita pela oposição, não pelo governo e fechar jornais é um exemplo claro de violação do direito de livre expressão.
Por Evandro Almeida