Turquia expande expurgo massivos de oponentes
As autoridades turcas expandiram uma repressão sobre militares para agora incluírem policiais, juízes, governadores e milhões de servidores civis em um expurgo massivo de oponentes logo após uma tentativa de golpe fracassada.
A ação do Ministério do Interior na segunda-feira de suspender quase 9.000 empregados aumentou o número de burocratas demitidos ou detidos para quase 20.000. Também na segunda-feira, o Primeiro-Ministro Binali Yildirim suspendeu as férias anuais para mais de 3 milhões de servidores civis. Mais de 7.500 pessoas foram detidas.
Uma facção rebelde dos militares da Turquia montaram uma tentativa de derrubar o governo na noite de sexta-feira, sequestrando caças e helicópteros para atacarem instalações chave e forças de segurança.
O Presidente Recep Tayyip Erdogan e seus apoiadores agora dizem que enfrentam uma ameaça sem precedentes e que a campanha para arrancar os traidores pela raiz é necessária para restaurar o Estado de direito. Mas só a enorme escala do expurgo nos dias desde o golpe frustrado alarmou os aliados da Turquia no Ocidente e suscitou temores de que o membro da OTAN esteja em uma descida para um regime cada vez mais autoritário.
“Estamos vendo um movimento direcionado a mais autoritarismo” vindo como consequência do golpe, disse Marc Pierini, um perito em Turquia do think tank (laboratório de ideias) Carnegie Europe, que fica em Bruxelas.
Erdogan – que tem governado a Turquia por 13 anos, primeiramente como primeiro-ministro e agora como presidente – já se tornou cade vez mais autoritário em o que críticos dizem é uma busca para consolidar poder. Ele prendeu jornalistas e oponentes, e até jogou para escanteio rivais dentro de seu próprio partido.
Seu avanço mais recente foi para a Turquia se transformar de um sistema parlamentarista para um presidencialista, uma ação que colocaria ainda mais poder nas mãos do chefe do executivo.
Este, especificamente, “é um momento perigoso para a Turquia”, disse Pierini das consequências da tentativa de golpe. “Existe uma boa quantidade de coisas perturbadoras acontecendo”.
Defensores dos direitos avisaram na segunda-feira que a menção ligeira de tantos burocratas indicava que as prisões foram baseadas em pouca para nenhuma evidência. Uma vasta detenção ou expulsão, como essas, de funcionários de instituições estatais chave pode encorajar ao invés de evitar mais instabilidade, dizem os críticos.
Alguns oficiais da lei que trabalham em delegacias na capital, Ancara, falaram do tratamento desumano dos detentos em sua custódia. Muitos dos detidos não foram fichados nem suas identidades verificadas, disseram os policiais. Ele falou sob a condição de anonimidade por medo de represália dos superiores.
A Anistia Internacional exortou o governo turco a respeitar os direitos humanos, entre relatos de “que detentos em Ancara e Istambul estiveram sujeitos a uma série de abusos”, disse o grupo de direitos.
“Uma recuada dos direitos humanos é a última coisa que a Turquia precisa”, John Dallhuisen, diretor da Anistia Internacional na Europa e Ásia Central, disse em uma declaração.
A Human Rights Watch, de Nova Iorque, disse que o governo “tem pleno direito de responsabilizar os envolvidos no golpe”.
Mas “a velocidade e escala das prisões, incluindo as do alto judiciário, sugere um expurgo em vez de um processo baseado em evidências”, Hugh Williamson, o diretor do grupo na Europa e Ásia Central, disse em uma declaração.
De fato, as autoridades turcas ainda tem que tornar públicas as evidências ligadas aos milhares de pessoas detidas diretamente ao golpe.
O governo acusou os apoiadores do arqui-inimigo de Erdogan, o pregador muçulmano Fethullah Gülen, de orquestrar e executar a tentativa de golpe. Gülen vive em um exílio imposto a si mesmo nos Estados Unidos, mas os que são leais a Erdogan têm acusado há muito tempo os seguidores de Gülen de se infiltrarem nas instituições estatais.
Em uma entrevista com a CNN, Erdogan disse que estava com sua família em um resort costeiro em Marmaris quando os eventos que se desenvolviam rapidamente começaram na sexta-feira. Dois de seus guarda-costas foram mortos em uma operação contra ele, disse Erdogan, e que “se eu tivesse ficado 10 ou 15 minutos a mais lá, eu teria sido morto ou levado”.
Tanto Erdogan quanto Yildirim, o primeiro-ministro, apelaram aos Estados Unidos que extraditassem Gülen para a Turquia. Mas em declarações abertas nas mídias de notícia, o Secretário de Estado americano John F. Kerry disse explicitamente que os Estados Unidos quer evidências, não alegações, do envolvimento de Gülen antes que as autoridades aprovem uma extradição. O governo da Turquia não completou um pedido formal para extraditar o recluso clérigo.
Ainda assim, um oficial sênior turco, falando sob a condição da anonimidade, disse que tinha existido “uma investigação contínua sobre a penetração do movimento Gülen no cumprimento da lei, no judiciário e entre os militares.
Conhecidos membros do movimento entre os militares “estavam sob investigação por algum tempo”, disse o oficial. “Havia uma lista de pessoas que se suspeitava de conspirarem em arquitetar um golpe”.
Tais documentos alarmaram os líderes europeus que tentaram construir melhores relações com a Turquia no ano passado, pois ambos os lados lidam com uma enorme crise de refugiados vindo tanto da Síria quanto do Iraque.
“Parece, ao menos, que algo foi preparado” antes de ordenarem a prisão de tantos funcionários públicos, disse Johannes Hahn, o comissionário da União Europeia responsável por lidar com o pedido de filiação da Turquia. “As listas estão disponíveis”, disse Hahn, de acordo com a agência de notícias Reuters. “O que indica que ela foi preparada e deveria ser usada em um certo momento”.
Também falando em Bruxelas, onde estão a UE e a OTAN, Kerry disse que a aliança miliar ocidental examinaria a Turquia nos próximos dias para assegurar que ela adira aos critérios de democracia e do Estado de direito do bloco.
A comunidade internacional, incluindo o Secretário-Geral da OTAN Jens Stoltenberg, deixou claro que apoia o governo eleito da Turquia.
Mas “o fato que uma tentativa de golpe ocorreu abalou profundamente a confiança de muitos na Turquia”, disse Bulent Aliriza, diretor do Projeto Turquia do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais.
O embaixador americano na Turquia, John Bass, disse em uma declaração na segunda-feira que especulações feitas por algumas figuras públicas de que os Estados Unidos de alguma forma apoiaram o golpe eram “categoricamente falsas”.
“Tal especulação é prejudicial à amizade de décadas entre as duas grandes nações”, disse Bass. “Fomos claros de que os Estados Unidos estariam dispostos a fornecer assistência às autoridades turcas que estão conduzindo suas investigações sobre a tentativa de golpe”.
Erin Cunningham e Hugh Naylor
Fonte: www.washingtonpost.com