Onde poderia dar a rivalidade Erdogan-Davutoglu?
A divergência entre o Presidente Erdogan e o Primeiro-Ministro Davutoglu, que não era um segredo antes, tornou-se agora aparente.
O que fez o conflito entre os dois tão claro foi a recente tentativa do Erdogan de acabar com o controle do Davutoglu sobre o conselho de administração do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP em turco).
Devido ao um sistema de partido muito disciplinado e rígido na Turquia, os presidentes de partidos políticos possuem quase controle completo sobre a estrutura do partido.
A recente tentativa de golpe do Erdogan contra o Primeiro-Ministro Davutoglu levou ao fim do controle do Davutoglu sobre seu partido, que provavelmente também pode acabar com seu mandato como primeiro-ministro no Governo turco em breve.
Muitos no AKP acreditam que isso foi uma resposta do Presidente Erdogan ao Davutoglu por conseguir combinar uma reunião com o Presidente Obama durante sua visita oficial aos Estados Unidos que acontecerá no começo de maio depois de um pedido à Casa Branca.
Depois dos recentes desenvolvimentos no AKP, contudo, fontes em Washington dizem que a reunião foi adiada para uma data incerta.
O Primeiro-Ministro Davutoglu na verdade estava ciente do fato que a obsessão do Presidente Erdogan de se tornar o presidente executivo da Turquia provavelmente acabaria com seu mandato como primeiro-ministro no governo.
Apesar de presidentes não poderem intervir nas políticas de partido na Turquia, Erdogan violou a constituição turca muitas vezes no passado, afirmando até que não a reconhece.
Agora o Primeiro-Ministro Davutoglu tem duas opções à sua frente. Primeira, ele pode evitar desafiar Erdogan e deixar o cargo logo. Se fizer isso, Davutoglu perderia todos os seus poderes e permitiria a Erdogan arruinar sua reputação e vida política. Contudo, se resistir e decidir desafiar Erdogan, teria a chance de provar sua liderança não apenas sobre o partido, mas sobre a Turquia também.
Apesar de que seria muito problemático e complicado para Davutoglu enfrentar Erdogan, ele deveria tentar. Mesmo se Davutoglu obedecer a Erdogan depois do novo desenvolvimento no Partido, ele não conseguiria mudar a atitude do Erdogan contra si, devido aos traços de personalidade vingativos e maliciosos do Erdogan. O Presidente provavelmente acabaria com ele, obedecendo ou não.
Desse ponto de vista, o Davutoglu na verdade tem apenas uma chance. Apesar de os militares turcos estarem marginalizados da política turca, existe algumas indicações de não estarem do lado do Erdogan. No sistema político turco, o comandante-chefe do exército turco está sob o comando do Primeiro-Ministro. Nesse caso, existem sinais de que o exército turco iria preferir trabalhar com o Primeiro-Ministro Davutoglu ao invés do Erdogan.
O líder do Serviço de Inteligência Turco, Hakan Fidan também está sob o comando do Primeiro-Ministro Davutoglu. No ano passado, renúncia do poderoso espião Hakan Fidan para concorrer ao parlamento pelo partido governista, o AKP, sem a aprovação do Presidente Erdogan, indicou que sua presumida lealdade ao Erdogan não é absoluta.
Portanto, comparando com o poder dos outros ditadores na região, o poder do Erdogan não está completamente consolidado por enquanto, mas ainda está em formação.
Erdogan possui uma poderosa máquina de mídia, que ele usa como uma máquina de propaganda a para o assassinato de personagens políticos. Davutoglu tem também, por sua vez, dois jornais, o Yeni Yuzyil e o Karar.
Ora, muitos acreditam que os recentes desenvolvimentos no AKP sugerem o fim da vida política do Davutoglu.
Se Davutoglu conseguisse usar os poderosos instrumentos à sua disposição, o Exército Turco e o Serviço de Inteligência Turco (MIT), ele poderia ter a chance de sobreviver. Davutoglu deve encontrar maneiras de cortar a ligação ilegal do Erdogan a vários tribunais que usa contra seus rivais.
Davutoglu está ciente do fato que, em um espectro global, Erdogan tenha irritado os Estados Unidos, a União Europeia e a Federação Russa ao mesmo tempo, indicando que as coisas podem não evoluir conforme Erdogan esperava.
A prisão do cidadão turco nascido no Irã Reza Zarrab no mês passado na Flórida, por autoridades americanas, sob acusações de conspirar em conduzir centenas de milhões de dólares em transações financeiras através de empresas turcas e dos Emirados Árabes que ajudaram o governo iraniano evitar sanções americanas, pode ter algumas consequências inesperadas para Erdogan também.
Durante o acordo de comércio de ouro por petróleo entre o Irã e a Turquia, cerca de 14 bilhões de dólares evaporaram na forma de propina e comissões na Turquia.
Começando em 2009, o Secretário do Tesouro para o Terrorismo e Inteligência Financeira, David Cohen, advertiu o governo turco e bancários muitas vezes acerca das consequências de evitar sanções contra o Irã.
Por exemplo, em 2009, Cohen demonstrou preocupação com o atraso da Turquia para entrar em conformidade com o processo de designação do Conselho de Segurança das Nações Unidas 1267 e 1373 e com o baixo nível de lavagem de dinheiro ou acusações de financiamento do terror.
David S. Cohen tomou posse como vice-diretor da Agência de Inteligência Central em 9 de fevereiro de 2015. Essa designação definitivamente é uma indicação importante de como o Presidente Obama leva a lavagem de dinheiro e os crimes financeiros a sério pelo mundo mesmo se fosse complicar as relações bilaterais com alguns países aliados.
A segunda fraqueza do Erdogan, comparando-se com o Davutoglu, são suas supostas relações com o Estado Islâmico que a Federação Russa em especial traz para a agenda do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Davutoglu pode querer usar esses importantes desenvolvimentos contra Erdogan também.
Por Aydogan Vatandas
Traduzido por: Renato José Lima Trevisan