Crônica da repressão na Turquia
Julgamento é retomado para jornalistas enfrentando a repressão de múltiplas sentenças de prisão perpétua
O julgamento de Can Dundar e Erdem Gul, editor e diretor da redação de Ancara, respectivamente, do jornal Cumhuriyet, foi retomado sob portas fechadas em Istambul hoje (17/04). O tribunal hoje negou o pedido do promotor de combinar o caso com outro caso direcionado a supostos apoiadores do pregador exilado Fethullah Gülen, que o governo turco acusa de manter uma organização terrorista e uma “estrutura paralela de governo” dentro da Turquia, de acordo com comunicados de imprensa e os advogados dos jornalistas, que postaram novas informações do julgamento no site de mídia social Twitter. Espera-se que o julgamento seja retomado em 6 de maio.
Se condenado, os dois enfrentarão múltiplas sentenças de prisão perpétua por acusações de expor segredos de estado e de ajudarem uma organização terrorista em conexão com um relatório de 2015, que alega que a agência de inteligência turca estava enviando armas aos rebeldes sírios.
[22 de abril de 2016]
Jornalista detido no leste da Turquia
A polícia na cidade Karliova do leste da Turquia deteve hoje Dogan Akdamar, um jornalista da agência pró-curdos DIHA, relatou seu patrão. Policiais à paisana capturaram o jornalista e o trouxeram à Delegacia de Polícia de Karliova, na província Bingol, disse a DIHA. As razões para a detenção de Akdamar não estavam imediatamente claras. A agência de notícias disse que se esperava que ele visse um promotor hoje.
Tribunal ordena censura de artigos de notícia
O Primeiro Tribunal de Paz Penal de Ancara ordenou hoje a censura de um artigo no portal de notícias Haberdar, relatou o site.
O artigo censurado dizia que o governo tinha transferido estudantes para dormitórios gerenciados pela Fundação Ensar, uma instituição de caridade religiosa com conexões com o governo, pois não havia quartos nos dormitórios do estado, e disse que era possível que o estivesse financiando as instituições de caridade, disse o Haberdar em um segundo artigo hoje. A lei turca estipula que dormitórios para estudantes de escola primária devam ser gerenciados pelo estado, de acordo com comunicados de imprensa.
Alegações de que menores nos dormitórios foram sexualmente abusados causaram um escândalo na imprensa turca nas semanas recentes. Um professor de 54 anos foi para julgamento em 20 de abril sob acusações de ter abusado sexualmente de 10 crianças nos dormitórios, de acordo com comunicados de imprensa. A Fundação Ensar contou à BBC que tinha suspendido as operações no dormitório em questão, e que está investigando as alegações, e que tomaria as ações necessárias, se preciso.
[21 de abril de 2016]
Polícia detém jornalistas curdos
A polícia deteve Suheyla Olmez e Mahsum Molak, jornalistas da Agência de Notícias pró-curdos Dicle (DIHA), em Indil, no sudeste da Turquia, perto da fronteira da Síria com o Iraque, relatou a DIHA. Os dois estavam fazendo uma reportagem em uma reunião em homenagem a pessoas mortas em conflitos entre a juventude étnica curda e as forças de segurança turcas na cidade quando a polícia invadiu o encontro no Centro Cultural da Municipalidade de Sirnak e deteve os jornalistas e três outras pessoas, de acordo com a DIHA. A razão para a detenção não estava imediatamente clara.
Um tribunal em Sakarya, a oeste de Istambul, prendeu formalmente hoje Muhammed Dogru, um repórter estagiário da DIHA e um estudante da Universidade Sakarya, relatou a DIHA. A polícia deteve Dogru e 10 outros estudantes da Universidade Sakarya em 15 de abril, que enfrentam acusações de serem membros de uma organização terrorista e de fazerem propaganda para uma organização terrorista ligado à manifestação do Dia da Mulher de março de 2016.
A Turquia classificou o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) com uma organização terrorista.
Jornalista russo negado entrada
Os funcionários da segurança do aeroporto de Istambul na terça-feira à noite detiveram Tural Kerimov, um importante jornalista do site de notícias russo Sputnik, contou o editor turco do site, Mahir Boztepe, à Reuters. Os funcionários da segurança confiscaram a carteira de jornalista e a autorização de residência de Kerimov, e negaram sua entrada no país, disse Boztepe.
O porta-voz do governo turco e Vice Primeiro-Ministro Numan Kurtulmus mencionou “preocupações de segurança”, relatou a Reuters, mas não elaborou sobre o assunto.
Funcionários da segurança do aeroporto negaram ontem a entrada do jornalista da televisão alemã Volker Schwenck, que tinha voado até a Turquia na esperança de entrevistar refugiados sírios.
Kurtulmus disse hoje que Schwenck tinha sido negado a entrada porque ele não credenciado como jornalista na Turquia e não tinha pedido para ser credenciado.
“Essa decisão de deportação é uma decisão tomada devido à segurança”, disse ele em comentários relatados pela CNNTurk, sem elaborar sobre o assunto.
[20 de abril de 2016]
Tribunal absolve casal acusado de insultar Erdogan
Hoje o Segundo Tribunal Criminal de Istambul absolveu Arif Kosar e Vural Nasuhbeyoglu, o dono e o editor de notícias, respectivamente, do jornal Evrensel, sob acusações que tinham insultado o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, relatou o Evrensel.
Os dois enfrentaram até quatro anos na prisão pela conexão com a manchete de primeira página de 21 de janeiro de 2015 do Evrensel, que citava um advogado da família de um manifestante morto durante as manifestações de 2013 que dizia que o presidente era o real assassino da vítima, de acordo com relatos da imprensa.
Erdogan, em 5 de abril, defendeu ter registrado mais de 1845 reclamações criminosas contra pessoas que “insultaram o presidente” desde que tomou o poder em 2014.
Jornalista alemão detido no aeroporto de Istambul
Funcionários da segurança deteram hoje Volker Schwenk, um jornalista da emissora alemã SWR, parte da rede ARD, quando tentava entrar na Turquia, escreveu Schwenk no site de mídia social Twitter.
“Parada final Istambul. Entrada na Turquia negada. Tem uma anotação com meu nome. Sou um jornalista. Problema?” tuitou ele.
A SWR disse que os funcionários não deram ao correspondente que mora no Cairo razão alguma para sua detenção, e que estava sendo mantido na sala de deportação, de acordo com relatos da imprensa. Schwenk havia planejado viajar para a fronteira síria para entrevistar refugiados do conflito sírio, de acordo com matéria na mídia.
Jornalista esportivo detido
A polícia deteve Ekrem Açikel, ex-jornalista da emissora KANAL D TV, no raiar deste dia sob suspeita de ter contribuído com uma suposta conspiração para acusar falsamente o clube esportivo Fenerbahçe de Istambul de arranjar uma partida em uma aposta de 2013 para tomar controle do clube, relatou hoje o jornal pró-governo Daily Sabah.
O jornalista, que fez uma reportagem sobre a suposta partida arranjada, estava entre 38 pessoas presas em conexão com a suposta conspiração. No total, a polícia buscou a prisão de 64 pessoas, incluindo 48 policiais, cinco advogados e três jornalistas, incluindo Açikel, no caso. Promotores também buscam a prisão de Ekrem Dumanli, antigo editor do agora-defunto jornal Zaman, mas continua livre, relatou o Daily Sabah.
Promotores acusam os suspeitos de dirigirem uma organização terrorista, de serem membros em uma organização terrorista e grampo ilegal. As acusações de terrorismo são uma referência à “estrutura de estado paralelo” que o governo turco acusa o pregador exilado Fethullah Gülen de manter na Turquia, de acordo com relatos da imprensa.
O presidente do Fenerbahçe Aziz Yildirim e seis outros foram absolvidos das acusações de arranjarem uma partida no ano passado depois que o governo removeu os promotores do caso como parte de um expurgo de funcionários que ele acusou de pertencer à “estrutura paralela”, relatou o Daily Sabah.
[19 de abril de 2016]
Promotores investigam jornalistas que alegaram falhas de segurança antes do ataque de Ancara
Promotores em Ancara lançaram um a investigação sobre três jornalistas que fizeram uma reportagem sobre supostas falhas de segurança antes de um ataque a bomba em outubro de 2015 na capital, de acordo com relatos da imprensa.
Promotores notificaram Kemal Goktas, do jornal Cumhuriyet, e repórteres do Evrensel Cem Gurbetoglu e Tamer Arda Ersin que estavam sob investigação de suspeita de que fizeram o governador, o promotor-chefe e outros funcionários de segurança alvos de ataque, por publicarem seus nomes e que tinham publicado documentos confidenciais, relataram o Evrensel e o Cumhuriyet. Os jornalistas tinham relatado que agências de segurança não haviam processado uma inteligência que continha avisos avançados do ataque de outubro, incluindo o nome dos agressores.
Gurbetoglu defendeu a decisão de divulgar a história em observações publicadas pelo portal de notícias Bianet hoje.
“Qualquer desenvolvimento em relação ao massacre que tomou a vida de centenas se qualifica como notícia. O relatório dos inspetores estava de fato se qualificando como notícia. Não apontamos a qualquer um como um alvo”, disse ele.
Jornalista detido por cruzar as pernas diz que a polícia destruiu sua casa
Zeki Dara, o jornalista detido em 14 de abril por cruzar as pernas enquanto cobria uma reunião em que participava o governador da província Hakkari do sudeste da Turquia, escreveu no Twitter que a polícia tinha saqueado sua casa durante sua breve detenção.
Dara, editor de notícias do portal Yuksekova Haber, em 15 de abril postou uma fotografia de sua sala de estar em desordem, dizendo que a polícia tinha destruído a casa durante sua breve detenção na Delegacia de Polícia Ataturk de Hakkari.
Dara estava cobrindo um evento organizado pelo Diretório Mufti do Província de Hakkari, uma instituição religiosa quase-oficial com a tarefa de oferecer opiniões religiosas, quando cruzou suas pernas. O Governador Yakup Canbolat, em comentários publicados em 15 de abril, disse que o fato de Dara ter cruzado suas pernas era desrespeitoso a ele e a sua religião. O governador disse que pediu a seus guarda-costas que escoltassem Dara para fora, reportou o Yuksekova Haber.
Tribunal ordena censura sobre site de jornalista cidadão
Otekilerin Postasi, um grupo de jornalistas cidadãos, em 16 de abril escreveu no Twitter que o Tribunal de Paz Penal de Golbasi tinha ordenado que seu site fosse bloqueado na Turquia, mas que continuariam a publicar com um novo endereço na internet.
O mesmo tribunal na semana passada ordenou a censura do portal de notícias russo Sputnik, os sites dos agências pró-curdos DIHA e JINHA, os jornais Azadiya Welat e Ozgur Gundem, e outros, de acordo com relatos da imprensa.
Escrito por Ozgur Ogret/Representativo do CPJ da Turquia
Traduzido por: Renato José Lima Trevisan
Fonte: cpj.org