Promotor americano tido como herói dos turcos
Um promotor americano, que recebeu grande atenção dos turcos na Internet depois de apresentar um caso contra Reza Zarrab – um empresário iraniano que está no centro de um escândalo de corrupção e propina que se tornou público em 17 de dezembro de 2013 na Turquia – relacionou a atenção à falta de combate anticorrupção e de liberdade de imprensa no país.
Preet Bharara, promotor americano do Distrito do Sul de Nova Iorque, fez um comentário sobre como inesperadamente se tornou tão popular entre os turcos depois que acusou Zarrab de lavagem de dinheiro, fraude bancária e de conspirar por anos “para violar e evitar as sanções dos Estados Unidos contra o Irã e entidades iranianas,” durante um discurso em uma conferência na Convenção de Primavera da Associação da Imprensa de Nova Iorque, na sexta-feira.
O site de notícias Zaman Amerika postou um vídeo que incluía trechos do discurso de Bharara em que o promotor relembrou que no dia em que Zarrab foi preso na Flórida, ele tinha cerca de 8.000 seguidores no Twitter, que decolaram para cerca de 290.000 em dias, com todos os recém-chegados sendo turcos.
“Na data em que nos engajamos na prisão, no dia em que o Sr. Zarrab foi preso na Flórida, eu tinha 8.100 seguidores no Twitter. Em 4 dias, eu tinha conseguido 270.000 seguidores no Twitter, praticamente quase todos da nação da Turquia. E parte da razão para isso foi que, como foi amplamente divulgado, existe uma sensação de que a corrupção não está sendo combatida nesse país. Não vou fazer nenhum comentário sobre isso, mas essa é uma impressão do que estava acontecendo. E a outra razão de isso ter sido amplamente divulgado é que as pessoas não acreditam que exista uma imprensa livre lá e portanto há muitas pessoas focando na liberdade da mídia social,” disse o promotor.
Opromotor americano depois divulgou relatórios sobre a Turquia, em relação à liberdade de imprensa, feitos por respeitadas organizações internacionais, que refletem a deteriorante situação da imprensa na Turquia. Bharara também fez um comentário sobre os relatórios que se direcionavam a ele que apareceram nos meios de comunicação turcos pró-governo.
“Eu aparentemente – e é difícil porque eu não entendo turco muito bem ainda – apareci na capa de jornais na Turquia sugerindo que a razão de eu ter conduzido o caso – Preet Bharara do Punjabe indiano, cresceu em Nova Jérsei, promotor americano em Manhattan – foi porque recebi propina de figuras pró-governo turco que esperavam derrubar o governo na Turquia, ao som de 2,5 milhões de dólares. Portanto aconteceram muitas coisas ridículas escritas a meu respeito durante o período em que fui promotor dos Estados Unidos. Posso confirmar a todos vocês que essa é a mais ridícula,” disse ele.
Vários jornais pró-governo na Turquia recentemente publicaram histórias em que acusavam o promotor americano de ser parte de uma “estrutura paralela,” um termo derrogatório usado contra o Movimento Gülen, que é baseado na fé, depois que o promotor veio à atenção pública no mês passado por conduzir acusações contra Zarrab.
A estrutura paralela ou estado paralelo é um termo inventado para se referir ao Movimento Gülen pelo então Primeiro-Ministro e atual Presidente Recep Tayyip Erdogan logo após a divulgação de uma investigação de corrupção no fim de 2013 em que o círculo interno de Erdogan foi envolvido. O empresário Zarrab, que foi preso nos Estados Unidos na semana passada, era o principal suspeito na investigação de corrupção.
Erdogan rotulou as acusações de corrupção como um golpe de estado para derrubar seu governo e acusou o Movimento Gülen, inspirado pelo intelectual turco-islâmico Fethullah Gülen, de ter arquitetado a investigação, uma alegação fortemente negada pelo Movimento. Desde então, uma guerra generalizada foi lançada contra os indivíduos e organizações que se pensa estarem ligados ao Movimento, com muitas empresas tendo sido assumidas pelo governo e indivíduos enviados à cadeia.
A prisão de Zarrab veio em uma hora em que os tucos quase que perderam a esperança de a justiça ser feita na investigação de corrupção de 2013 porque as acusações contra os suspeitos foram imediatamente retiradas com a nomeação de novos promotores para a investigação. Somando-se a isso, os policiais e alguns promotores e juízes que tomaram parte na investigação foram mandados para a cadeia sob acusações de golpe.
Ao falar sobre milhares de comentários e expressões de amor que recebeu no Twitter de usuários turcos, Bharara disse que lhe ofereceram todos os tipos de deliciosas comidas turcas, incluindo shish kabobs e delícia turca.
“Demonstraram muito amor a mim e ao meu escritório. E poderia dizer que não tenho certeza que um estranho mereça o amor de outro estranho, mas de fato espero que o que nosso escritório representa e o que nossos princípios são, mereçam.”
O promotor enfatizou que seu escritório acredita na força da lei e que ninguém está acima da lei.
“Não nos importamos com quanto dinheiro você tenha, não nos importamos com quanto poder você tenha. Não nos importamos com quanta força você tenha, não nos importamos com quais sejam as suas conexões. Se você quebrou a lei, e esteja no interesse da lei seguir uma investigação e acusação e se podemos provar, então vamos fazer exatamente isso,” disse ele.
“E a única coisa que eu posso oferecer para qualquer um, esteja você na Turquia ou nos EUA ou na Albânia ou Schenectady ou na Cidade de Nova Iorque ou em qualquer lugar, é que fazemos os nossos trabalhos sem sermos intimidados por qualquer um ou espantados por quem quer que seja, apenas de acordo com a lei e com os fatos porque é isso que nossos juramentos requerem.”
Traduzido por: Renato José Lima Trevisan
Fonte: www.turkishminute.com