A Presidente e o jeito brasileiro de reagir
A Presidente do país, que teve seu Ministério das Relações Exteriores invadido, e suas janelas destruídas pelos manifestantes, fez um discurso de dez minutos na rede nacional de mídia. Tenho certeza de que muitos disseram, “Essa é a Presidente!”.
“O que impede o Brasil se tornar um dos países mais desenvolvidos do mundo até agora?”. Todas as pessoas que conheceram o país por dentro devem ter feito esta pergunta. Porque, ele tem minas cheias de ouro, possui abundância de água, chuva e terra fértil… Não tem inverno forte que cause gastos para aquecer as casas. Nem gasta dezenas de bilhões de dólares para combater o terrorismo, como a Turquia o faz. Não possui inimigo, não acontece terremoto…
Então, apesar destes tantos “não há’s”, o que fez o Brasil se atrasar e foi suficiente para impedir esse destino desejado? Como a resposta resumida desta pergunta, pode-se citar a ditadura na sua história, golpes e controle dos militares no país. A Presidente Dilma Rousseff era uma jovem naquela época, gastou sua juventude na luta pela democracia, uma jovem que passou pelas prisões e pelas salas de tortura. Ela é uma mulher que, com frase própria, “sofreu todos os tipos de tortura existentes”.
A Presidente vê as manifestações dos jovens com essa experiência. Sendo experiente em manifestações, não discursou para “pessoas que surgiram não se sabe de onde”, mas para “jovens Dilma Rousseff’s” e realmente os leva a sério. Porque, ela sabe pela sua própria história que aquelas ruas podem lançar até presidente.
A Presidente disse, “Vocês estão pedindo o fim da corrupção. Sim, eu estou lutando contra isso, mas, vocês têm razão, deve ser feito mais. Estão pedindo educação melhor. Nós já estamos destinando muito dinheiro para a educação, mas, vocês têm razão, precisamos fazer mais. Prometo a vocês, vou destinar toda a renda vinda do petróleo à educação. Vocês estão pedindo melhores serviços de saúde. Vocês têm razão também nisso. Como povo, vocês têm direito a criticar e pedir tudo. Prometo a vocês: vou fazer tudo que está ao meu alcance, se precisar vou trazer milhares de médicos de fora para atender às faltas.”
O que a Presidente Dilma não fez diante das manifestações de mais de um milhão de pessoas em mais de cem cidades do país?
Embora haja eleições presidenciais em 2014, como na Turquia… Embora seja certa, como na Turquia, a reeleição do partido do Governo que está há dez anos no poder, com uma votação ainda maior… Embora, o Brasil também apoia o Irã nos assuntos nucleares, como a Turquia… Embora o Brasil se posicione claramente a favor da Palestina, no problema da Faixa de Gaza e sobre os direitos dos palestinos, como igualmente a Turquia… E, embora alguns dos manifestantes quebrem as janelas e portas e invadam o Ministério das Relações Exteriores… A Presidente não falou sobre “os partidos de oposição, o lobby dos juros e os serviços externos”, sequer com meia boca.
Pelo contrário, olhou aos jovens do seu país como seus interlocutores e falou às suas consciências. “É direito de vocês pedir tudo, como também é criticar tudo. Podem usar esse direito onde quiserem. Porque, vocês merecem o melhor de tudo.” E fez um convite: “Vamos usar essa energia de vocês numa reforma profunda da nossa política para melhorar nossa democracia.”
Depois destacou, “Enquanto desfrutam desse direito, não caiam numa situação que os torna injustos, danificando os bens públicos e privados. Isso tem castigo.”
A Presidente merece um outro parabéns pelo jeito coerente que se expressou. Não convidou outras multidões contra os manifestantes nas praças. Mas, se dirigiu ao “seu povo” através das emissoras de televisão e rádio, “entrando” nos lares de todos. E disse “Eu sou Presidente de todos vocês.” Considerou a energia dos jovens nas manifestações uma força impulsiva da democracia, não como armas dos serviços externos. Não disse “Vocês vão me ensinar como governar?! Eu vim aqui das ruas, das prisões, das salas de torturas!”. Pelo contrário, parabenizou a onda nas ruas, e adicionou sua própria experiência das ruas sobre essa onda. Assim, em dez minutos, deixou muito clara a diferença entre “Brasil dos militares ditadores” e “Brasil de 2014 que quer uma democracia ainda melhor”.
A Presidente que respondeu todos os pedidos dos manifestantes, será que não passou uma mensagem aos provocadores e lobbies, abraçando os jovens? Na minha opinião, sim, ela passou uma mensagem da melhor forma possível.
Dr. Hamdullah Bayram Ozturk
25 de junho de 2013
*Este artigo foi publicado originalmente em turco, no Jornal Zaman, em 25/06/2013