Preso jornalista por revelar entregas de armas
O diretor do jornal turco Cumhuriyet, Can Dundar, e o responsável pela delegação em Ancara, Erdem Gül, foram presos nesta quinta-feira e acusados de “espionagem” e “divulgação de segredos de Estado”, por terem publicado um vídeo em que, afirmavam, os serviços secretos turcos estavam a entregar armas aos islamistas na Síria.
Notícias põem em causa ligações dos serviços secretos com a guerra na Síria.
Este caso aconteceu em Maio, e o Presidente, Recep Tayyip Erdogan, apresentou pessoalmente queixa contra Can Dundar. “Ele vai pagar caro”, assegurou.
O vídeo provocou uma tempestade na vida política turca. Um comboio de camiões dos serviços secretos turcos tinha já sido interceptado no Sul da Turquia em Janeiro de 2014 e este novo vídeo, afirmava o jornal, associado à oposição de esquerda, mostrava armas e munições, escondidas sob caixas de medicamentos.
O director do Cumhuriyet recebeu na semana passada, em Estrasburgo (França), o Prémio para a Liberdade de Imprensa dos Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e da TV5 Monde. Na atribuição do galardão, as duas instituições classificaram Dundar como alvo de “perseguição política”. “Se estes jornalistas foram presos, será uma prova suplementar de que o poder turco está pronto a usar métodos de outros tempos para extinguir o jornalismo independente na Turquia”, afirmava o comunicado da RSF e da TV5 Monde.
A Turquia é frequentemente destacada, por maus motivos, nos relatórios sobre a liberdade de imprensa e dos jornalistas.
Neste momento, no entanto, este país de charneira entre a Europa e a Ásia está a ser tratado com especial cuidado pelos países ocidentais, pelo seu papel fundamental como fronteira da guerra na Síria. A Europa quer a sua ajuda para conter a vaga de refugiados do Médio Oriente – no domingo, o Presidente Erdogan é esperado em Bruxelas para uma cimeira com a União Europeia, para discutir esse tema.
Quanto aos Estados Unidos, querem manter Ancara como um aliado cooperante no seio da NATO para lutar contra a ameaça terrorista representada pelo Estado Islâmico. Erdogan, contudo, tem como besta negra o Presidente sírio, Bashar al-Assad, e receia o crescimento das autonomias curdas na Síria, temendo alimentar o independentismo dos curdos na Turquia.
Fonte: http://www.publico.pt/