Usina nuclear de Akkuyu é uma questão de segurança nacional para a Turquia?
Sob um acordo bilateral assinado entre a Federação Russa e a República da Turquia em maio de 2010, a primeira usina nuclear da Turquia será construída pela Rússia em Mersin-Akkuyu, na costa leste do Mediterrâneo. A primeira unidade da usina nuclear, da qual haverá quatro, estará operacional em 2023. Quando a usina for concluída, ela fornecerá 10% do total das necessidades de eletricidade da Turquia. Entretanto, algumas emendas ao acordo, que o Parlamento turco ainda não aprovou, darão à Rússia concessões no leste do Mediterrâneo. Em que consistem estas concessões? Como esses ganhos russos poderiam levar a uma ameaça de segurança nacional para a Turquia no Mediterrâneo oriental?
A história da usina nuclear de Akkuyu
O plano de construir uma usina nuclear na Turquia remonta aos anos 80. Entretanto, a falta de recursos financeiros e de interesse por parte dos investidores estrangeiros impediu que o plano avançasse na época. O primeiro concurso para a usina nuclear de Akkuyu foi realizado em 2008. Além das empresas ocidentais, a empresa turca Ciner Enerji e a russa Rosatom participaram da licitação como um consórcio. Com exceção do consórcio Ciner-Rosatom, todos os concorrentes se retiraram da licitação, e o consórcio recebeu o contrato. Devido a uma reclamação apresentada pela União Turca de Câmaras de Engenheiros e Arquitetos de que a licitação não foi conduzida em conformidade com a lei pertinente, o Conselho Superior do Estado cancelou a licitação em 2009.
Após o cancelamento da licitação, as negociações entre a Turquia e a Rússia começaram em nível intergovernamental. Em 28 de junho de 2010 foi aprovado pelo Parlamento um acordo sobre a construção da usina nuclear pela Rosatom. Este acordo estabeleceu a Akkuyu Nuclear Santral A.Ş. em 13 de dezembro de 2010 para a construção e operação da usina.
A Rússia quer ter um porto em Akkuyu
Partes do acordo foram emendadas pela diretoria da Akkuyu Nuclear Santral A.Ş. em 12 de março de 2019. De acordo com as mudanças, a empresa tem o direito de construir portos e terminais para transporte marítimo, armazenamento e carregamento e descarregamento. A maioria dos membros da diretoria da empresa é russa, enquanto apenas um membro representa a Turquia. Por esta razão, a decisão favoreceu a Rússia. Esta mudança não é legal desde que o acordo original foi aprovado pelo parlamento turco, portanto o conselho de administração da empresa não tem autoridade para mudá-la.
Mas com a decisão do conselho, a Rússia obteve a aprovação necessária para construir um porto comercial em Akkuyu com o apoio da administração Erdoğan e sem a aprovação do parlamento turco. Em circunstâncias normais, uma usina nuclear precisa de um porto exclusivamente para o transporte de materiais nucleares. Entretanto, o privilégio concedido aos russos aqui vai muito além da construção de um porto para o transporte de materiais nucleares. Inclui também a construção de um porto comercial que possa ser usado como base de expedição para atender às necessidades logísticas dos navios navais russos no Mediterrâneo.
Proteção da usina nuclear de Akkuyu
Outro desenvolvimento significativo em relação à usina nuclear de Akkuyu ocorreu este mês. O único membro da diretoria da Akkuyu Nuclear Santral A.Ş., Cüneyt Zapsu, entrou com uma ação judicial contra a empresa, alegando que algumas decisões da diretoria foram tomadas em reuniões às quais ele não compareceu. A petição apresentada ao tribunal foi primeiramente revelada ao público pelo advogado Salim Şen no canal de TV turco TELE 1. A diretoria da Akkuyu Nuclear A.Ş. decidiu assinar um contrato com uma empresa de segurança russa para instalar um radar aéreo para proteger a usina. Zapsu se opôs a isto, dizendo: “Como acredito que a instalação do radar não é compatível com a política de segurança da República da Turquia, a questão deveria ter sido primeiramente coordenada com as autoridades turcas e depois submetida à diretoria”.
Do ponto de vista militar, não basta instalar apenas um radar de busca aérea para proteger a usina nuclear contra ameaças aéreas. Além do radar, também deveria ser instalado um sistema de mísseis terra-ar capaz de combater as ameaças aéreas. Por esta razão, assume-se que a Rússia pretende estabelecer um radar de busca e um sistema de defesa aérea de alta altitude S-400 na região de Akkuyu. Entretanto, isto não é explicitamente mencionado na decisão da diretoria.
Conclusão
A Turquia está atualmente lutando com uma grave crise econômica. Para o governo Erdoğan, vencer as eleições de 2023 se tornou uma questão de vida ou morte. A OTAN e os países da UE estão impondo sanções à Rússia por sua invasão da Ucrânia. O governo Erdoğan está ajudando a Rússia a contornar as sanções. Em troca, a Rússia fornece apoio financeiro para o alívio da economia turca através da Akkuyu Nuclear Santral A.Ş. A Turquia provavelmente enfrentará um grande problema que ameaça à segurança nacional, que é que a Rússia poderia ter uma base naval no Mediterrâneo oriental usando a usina nuclear Akkuyu, estacionando um radar aéreo lá e implantando o sistema de defesa aérea S-400. Infelizmente, a Rússia está passo a passo se instalando no Mediterrâneo oriental, aproveitando as ambições do Presidente Erdogan de ganhar as próximas eleições.
* Fatih Yurtsever é um ex-oficial naval das Forças Armadas turcas. Ele está usando um pseudônimo por questões de segurança.
Fonte: [ANALYSIS] Is the Akkuyu nuclear power plant a national security issue for Turkey? – Turkish Minute