Conforme violações dos direitos humanos na Turquia aumentam, denúncias na mídia diminuem
Apesar de que houve significativamente mais violações dos direitos humanos na Turquia em 2017 do que em 2015, a cobertura das violações caíram na mídia turca, de acordo com um relatório publicado conjuntamente pelo Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo e pela Universidade de Oxford em 26 de junho de 2018.
A pesquisa, intitulada com “Denunciando violações dos direitos humanos na Turquia,” escrito pelo jornalista turco Kemal Goktas, um repórter do jornal Cumhuriyet, mostrou que existe uma autocensura disseminada na mídia turca. Os jornalistas acreditam que violações dos direitos humanos aumentaram nos últimos cinco anos, mas isso não resultou em um aumento na cobertura.
“Apesar de que houve significativamente mais violações dos direitos humanos em 2017, a cobertura das violações caíram em jornais pró-governo, imparciais e da oposição nacionalista,” disse o relatório, e acrescentou: “Os jornalistas como um todo não estão felizes com a qualidade das reportagens sobre os direitos humanos e não confiam na informação que recebem. Os jornalistas também temem serem perseguidos ou perderem seus empregos por denunciarem violações dos direitos humanos, e como um resultado, muitos escolhem não escrever esses artigos.”
“Os jornalistas que trabalham para veículos de mídia pró-governo sentem muito mais medo do que os outros e fazer reportagens sobre direitos humanos pode dificultar para eles encontrarem um novo emprego. Pressão política, ter lojas, pressão judicial e medo de perder o emprego as principais razões porque os jornalistas dizem que evitam denunciar violações dos direitos humanos,” disse o relatório.
Destacando o fato de que jornais pró-governo e imparciais tendem a defender o estado e os perpetradores e colocam menos ênfase nas violações em seus artigos sob o estado de emergência, quando o número de violações sobe, o relatório disse: “Apesar de que o Sozcu, veículo de mídia da oposição nacionalista, enfatizou as violações mais do que em 2015, em 2017 ele não pode denunciar mais do que em 2015.”
“Enquanto que os jornalistas têm mais fé nas vítimas, nos parentes da vítimas ou seus advogados e organizações dos direitos humanos do que fontes oficiais, quando denunciam uma violação, os jornais, em comparação, referem-se a fontes mais oficiais nos artigos sobre as violações.”
Os resultados da análise de conteúdo no relatório demonstram que um aumento em violações dos direitos humanos não causa um aumento na denúncia de violações dos direitos humanos na mídia: “Ao contrário, as violações que aumentaram causaram um declínio no número de artigos sobre violações. Não apenas o número de artigos se reduziram, mas a visibilidade da histórias também decaiu.”
De acordo com o relatório, apenas o Cumhuriyet, o jornal de oposição esquerdista, denunciou mais em 2017 do que em 2015 as violações e deu mais cobertura em termos de centímetros quadrados e número de palavras nos artigos. “O Cumhuriyet se refere a uma fonte abundante nas histórias de violação, e permaneceu imutável sob o estado de emergência. O Cumhuriyet também referiu mais as vítimas, parentes das vítimas e advogados das vítimas do que fontes oficiais antes e durante o estado de emergência.”
A pesquisa também disse que a grande mídia na Turquia, sob a atual situação das coisas e com sua estrutura de posse da mídia e visão nacionalista, nunca pode ser independente e nunca pode denunciar violações livremente. “Pressão judicial e política sobre jornalistas causa autocensura e evita-se fazer reportagens sobre histórias ‘perigosas’. … Para melhorar o jornalismo e denunciar violações dos direitos humanos na Turquia, precisa existir mais jornais independentes. Esforços que tenham o objetivo de acabar com ou reduzir violações dos direitos humanos devem priorizar promover e apoiar veículos de mídia independentes na Turquia.”
O relatório teve o objetivo de mostrar a extensão da cobertura da mídia de violações dos direitos humanos baseando-se em uma comparação de dois períodos, propriamente dito o período antes da tentativa de golpe em 15 de julho de 2016, e o período após isso. Quatro jornais da grande mídia foram escolhidos por Goktas, e a pesquisa foi focada na cobertura deles de violações de direitos. Refletindo a classificação de jornais na Turquia, um pró-governo (Sabah), um imparcial (Hurriyet) e dois jornais de oposição (o esquerdista Cumhuriyet e o nacionalista Sozcu) foram selecionados.
Todas as notícias publicadas nos quatro jornais — 25.436 artigos no total — nesses dois períodos foram escaneadas, e denúncias sobre violações dos direitos humanos foram escolhidas para se ver até onde violações dos direitos humanos foram cobertas. A frequência de denúncias sobre violações dos direitos nas primeiras páginas e quão visíveis as denúncias foram ao público foram examinados. A exposição de diferenças no discurso da cobertura a respeito das vítimas e os perpetradores foi esmiuçada. As fontes e declarações de vítimas e também de autoridades foram igualmente estudadas.
A conclusão primária da examinação é que houve um declínio significativo na denúncia de violações dos direitos humanos entre 2015 e 2017. Três jornais turcos — o pró-governo, o imparcial e o da oposição nacionalista — cobriram violações dos direitos humanos mais em 2015 do que em 2017, apesar de que houve um aumento em violações em 2017. A cobertura encolheu e o número de palavras e o número de denúncias caiu em 2017 em todos os três jornais. Apenas o Cumhuriyet, o jornal de oposição esquerdista, denunciou ligeiramente mais as violações em 2017 do que em 2015.
(Stockholm Center for Freedom [SCF] com o Turkish Minute)