Empresa pró-Erdogan negocia compra de maior grupo midiático turco
O maior grupo de imprensa da Turquia, que inclui o jornal “Hürriyet”, anunciou nesta quinta-feira que iniciou negociações para a aquisição por uma empresa ligada ao presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. O grupo Dogan afirmou em um comunicado que está em negociações com o conglomerado Demiroren Holding, que já possui dois jornais pró-Erdogan.
As negociações consideram o valor da operação de quase 1,1 bilhão de dólares e um valor na Bolsa de 890 milhões de dólares, levando em consideração as dívidas do grupo Dogan, segundo o texto. O grupo de comunicação Dogan Holding tem como principal ativo o jornal “Hürriyet”, considerado o diário de referência na Turquia, além da agência de notícias Dogan, a rede de televisão Kanal D e a emissora de notícias CNN-Türk.
A versão em inglês do “Hurriyet”, Hurriyet Daily News, é muito lida pelos estrangeiros e os diplomatas na Turquia. Se for concretizada, a negociação aumentará a preocupação dos defensores da liberdade de imprensa, que denunciam a pressão crescente contra os meios de comunicação durante a Presidência de Erdogan, sobretudo depois do golpe de Estado frustrado de julho de 2016.
O Hurriyet tem uma circulação de 300 mil exemplares e é um dos poucos grandes jornais da Turquia que não é visto como pró-Erdogan. A maioria dos jornais de oposição são de esquerda e não possuem um grande público de leitores.
— Essa venda significa o fim do pluralismo e do jornalismo independente na mídia turca de grande alcance. O governo agora tem controle completo da mídia nos preparativos para as eleições de 2019. Em uma depreciação sem precedentes da sociedade civil e da oposição política, apenas um punhado de jornais de baixa circulação ainda ofecerem alternativas para a propaganda oficial — disse Erol Onderoglu, representante dos Repórteres sem Fronteiras na Turquia.
A Dogan Holding e seu fundador octogenário, Aydin Dogan, foram acusados por Erdogan de preconceito contra seu Partido AK, de raízes islâmicas. Ambos negam. A empresa foi multada em US$ 2,5 bilhões por impostos não pagos em 2009, no que os opositores do governo viram como uma tentativa de esmagar as críticas da mídia a Erdogan. Após o pagamento da taxa, Aydin Dogan foi forçado a vender os jornais Milliyet e Vatan do grupo – para Demiroren. Ambos os jornais se tornaram firmemente pró-governo.
“Com uma aquisição desse nível, incluindo o ‘Hürriyet’, a indústria dos meios de comunicação na Turquia passa a estar sob o controle político direto do presidente Erdogan”, comentou no Twitter Kadri Gürsel, nome importante da imprensa na Turquia.
Considerado durante muito tempo o representante do poder turco, o grupo Dogan mantém uma relação delicada com Erdogan, marcada por anos de oposição ao atual presidente da Turquia, antes de adotar uma linha mais pró-governo.
Quase todos os meios de comunicação seguem a linha governista, com algumas exceções, como o jornal “Cumhuriyet”. O proprietário, o diretor de redação e vários jornalistas do Cumhuriyet estão sendo julgados por atividades “terroristas”.
Ampliando as preocupações com a liberdade de imprensa, o parlamento da Turquia aprovou um projeto de lei que concedia ao órgão de fiscalização de rádio e televisão a autoridade para regular o conteúdo online.
— A indústria de mídia de massa turca está sob o controle político direto do presidente Erdogan — afirmou Kadri Gursel, colunista do diário Cumhuriyet.
Fonte: https://oglobo.globo.com/