Jornal cipriota turco acusa Erdogan de ordenar ataque às suas instalações
O chefe de redação de um jornal cipriota turco de esquerda alegou hoje que o Presidente da Turquia incitou apoiantes a atacarem os seus escritórios pelo facto de o periódico ter criticado a ofensiva militar de Ancara na Síria.
Sener Levent assegurou que o Presidente turco Recep Tayyip Erdogan exortou os seus apoiantes a “responderem” ao jornal Afrika, pelo facto de a publicação ter sugerido que a ofensiva turca em direção ao enclave sírio controlado por uma milícia curda apoiada pelos EUA é uma forma de ocupar o território do país.
Dezenas de pessoas que agitavam bandeiras da Turquia partiram vidros de janelas e arremessaram pedras, ovos e outros objetos em direção aos escritórios do jornal Afrika, na capital de Chipre, referiu Cinel Husseyin, uma colaboradora do chefe de redação, citada pela agência noticiosa Associated Press (AP). Disse ainda que alguns dos presentes tentaram assaltar o local.
Uma notícia de primeira página da edição de domingo no Afrika relacionava a ação da Turquia à sua “ocupação” militar da parte norte de Chipre, 37% do território da ilha dividida. Desde 1974 que Turquia mantém 35.000 soldados no terreno, na sequência da invasão que se seguiu a um golpe falhado de apoiantes da união com a Grécia.
Apenas a Turquia reconheceu a declaração de independência da autoproclamada República Turca de Chipre do Norte (RTCN). O Governo de Chipre, estabelecido no sul cipriota, é internacionalmente reconhecido.
Levent assegurou que o seu jornal não será silenciado pelo facto de se referir às políticas da Turquia, seja no norte de Chipre ou em outros locais.
“Erdogan enviou os manifestantes. Foi uma ameaça contra nós”, afirmou à AP. “Vamos continuar a dizer a verdade, e o jornal vai circular amanhã”, assegurou.
De acordo com a página digital da presidência turca, Erdogan tinha-se previamente referido ao Afrika como um “jornal barato e desagradável”, com uma linha editorial “impertinente” e convidou os cipriotas turcos a “darem a necessária resposta a isto”.
Através de uma declaração, o líder cipriota turco Mustafa Akinci disse desaprovar a referência do Afrika a “ocupação” e sublinhou que caso a Turquia não tivesse atuado como o fez em 1974, os cipriotas turcos seriam reduzidos a um estatuto de “minoria” num Estado dirigido por gregos.
No entanto, Akinci considerou que a violência não é justificável, por mais “erradas” que sejam as posições do Afrika.
O Governo de Chipre condenou o que definiu como tentativa de Erdogan impor um “poder autoritário” na zona norte de Chipre controlada pela Turquia. E anunciou que vai solicitar às Nações Unidas e instituições europeias que tomem medidas para proteger a liberdade de imprensa e de expressão nesta parte do território.
O Sindicato dos jornalistas cipriotas condenou a violência, ao referir em comunicado que os jornalistas “não são serventuários do poder, por mais poderoso e absoluto que seja esse poder”.
Com informações de: https://www.dn.pt/