A Turquia encontra-se em um pântano
Desde 07 de junho de 2015, a Turquia vem sofrendo uma série de ataques terroristas, inclusive em suas cidades metropolitanas. Lembrando que a data indicada é o dia em que ocorreu uma eleição parlamentar na Turquia. Apesar de o Presidente Erdogan dever ser independente do seu antigo partido, ele, através das “aberturas de instituições”, continuou dando seu apoio a essa legenda, AKP, durante a campanha de eleição. Porém, o partido não obteve a quantidade de votos que esperava, já logo após este dia, 07 de junho, os ataques começaram a ser cometidos contra a população civil. Uma vez que Erdogan havia dito em um dos seus discursos: “Deem-nos os 400 deputados que necessitamos e que este negócio se resolva tranquilamente.” Com base neste discurso, uma parte do povo turco considerou estes ataques, arquitetados pelo presidente, como do governo do partido ligado a ele. Esta eleição em 07 de julho foi desconsiderada e a Turquia fez uma reeleição em novembro do mesmo ano. Porém, os ataques não pararam de ocorrer.
No último sábado, 21/08/2016, houve mais um ataque terrorista no meio de uma comunidade curda que comemorava um casamento. Neste atentado, morreram mais de 50 pessoas e mais ainda ficaram feridas, algumas delas gravemente. O governo turco alegou, nos primeiros instantes após o acontecimento, que foi o Estado Islâmico quem cometeu o ataque, pois o incidente aconteceu em um bairro de maioria curda, ressaltou o presidente no seu discurso sobre o caso.
Segundo autoridades turcas, o ISIS (ou Estado Islâmico) cometeu o ataque e logo aconteceram ataques contra o grupo, perpetrados pelo exército turco. E por último, as autoridades decidiram entrar na Síria onde o grupo tem muitas bases militares e também tem mantido muitas cidades sob controle. Na madrugada da última Quarta-feira, 24/07, as Forças Armadas da Turquia deram seu primeiro passo junto à coalizão internacional, contra o grupo terrorista. Porém, embora a Turquia tenha agido da forma necessária, mas bem atrasada, surgiram muitas dúvidas entre a comunidade internacional como a seguinte: “Será que a Turquia está indo atacar o EI ou os curdos? Na maioria dos comentários do público internacional esta dúvida mantém seu espaço firmemente. Além desta, uma das mais destacadas é: esta é uma operação contra o EI ou a favor do EI, para lhe conferir mais força e militantes? Infelizmente, as últimas notícias publicadas mostram que estas duas dúvidas destacadas estão corretas na maioria dos casos.
Os tanques do exército turco se dirigiram à cidade de Jarablus, que é localizada perto da fronteira entre a Turquia e Síria e também estava sob controle do grupo terrorista EI. O exército, ao invés de combater ele mesmo o Estado Islâmico, apoiou os opositores de Presidente Bashar al-Assad a combaterem o EI. Mas, ambos não tiveram quase nenhuma perda e a cidade foi conquistada facilmente pelas forças turcas, relataram os noticiários.
Deixando todos estes casos para os noticiários, iremos dirigir-nos à intenção da Turquia em entrar na Síria:
Desde 2010, o Presidente Erdogan vem substituindo seu discurso democrático por um discurso mais totalitário e autoritário. Inclusive, com os “incentivos” de seus conselheiros, que foram inseridos na sua equipe recentemente, e com a Primavera Árabe que aconteceu em países árabes que foram dominados por ditaduras ao longo do tempo. Seu papel neste acontecimento e o sucesso em alguns países, como Egito e Líbia, tanto quanto a demanda do povo destes países, fizeram com que Erdogan se considerasse como o líder do mundo islâmico. Entretanto, um ano depois de derrota de Hosni Mubarak, os militares derrubaram o presidente Mursi eleito pelo povo, e representante do grupo Irmandade Muçulmana na política. Nesta fase, Erdogan, então Primeiro-Ministro da Turquia, defendeu o presidente eleito e a Irmandade Muçulmana. No mesmo instante, Erdogan mudou seu discurso contra Bashar al-Assad, presidente da Síria, o qual chamara de “Irmão” no passado. Erdogan, neste momento, chamou-o de ditador e injusto que perseguia seu povo. Desde então, a Turquia e Síria vêm tendo disputas políticas entre si.
Conforme estas disputas, sempre existiram discussões através das declarações e discursos, no decorrer do tempo. Além de tudo, a ideia de Erdogan foi entrar no território sírio e resolver o problema de uma vez por todas. Porém, embora ele tenha subordinado todas as instituições governamentais a si, as forças armadas eram um poder a frente dele. Cada vez que Erdogan destacou uma intervenção no território sírio, o exército se recusou a fazer isso e não o fez até o dia 24 de agosto.
Após a tentativa de golpe, em 15/07, Erdogan teve a oportunidade de eliminar seus opositores também dentro do exército e por em pauta novamente a ideia de entrar na Síria. Pois já eliminara a última tutela a sua frente e o poder total pertencia apenas a ele. Ao passo que este ato, a entrada na Síria, parece ter sido parte das operações de coalizão internacional, que realizam-se há muito tempo. Ao ver de muitos, a verdade é que a Turquia fez isso apenas para prevenir a fundação de um estado curdo em sua fronteira, algo que poderá afetar as relações internas da Turquia também. A Turquia declarou esta ação como parte da coalizão contra o EI, cuja primeira operação foi realizada na cidade de Jarablus, logo em sequência foi informado que as forças armadas da Turquia começaram a “bater à porta do YPG”, grupo curdo na Síria, que é considerado terrorista pela Turquia. Talvez, a Turquia, com a razão de defender seu território e fronteira, tente atacar ao grupo curdo para prevenir a fundação de um estado curdo. Pois isto veio sendo declarado pelas autoridades turcas, desde que o grupo começou a atuar na região. Neste instante, é melhor afirmar que, como em todos seus atos, o presidente teve contradições em relação a esse grupo também. O maior exemplo disto é liberação das fronteiras para o “Pashmarga”, forças armadas do Curdistão Iraquiano, para ajudar o grupo YPG contra o EI.
Além destas histórias, há mais um motivo desta intervenção turca no território sírio que muitos não o perceberam ainda. Como indicamos acima, Erdogan se considera Líder do Mundo Islâmico e esta intervenção foi o primeiro passo para declarar seu ‘Califado”. Ou seja, o motivo da intervenção não é o EI, nem grupos curdos. Uma vez que desde o início da intervenção até agora não ocorreu nenhum conflito entre o exército turco e o Estado Islâmico. Portanto, como afirmamos, as forças continuam sem conflito nenhum, mas bombardeando terras vazias onde não há ninguém.
Por último, há mais um fato: o Oriente-Médio será reformado. Erdogan quer aproveitar esta reforma prevista para tornar-se líder da região e tomar sua parte da região. Porém, o mesmo desconsidera, sem saber, as ocorrências internas perpetradas pelo PKK, grupo curdo terrorista. O que se vê no futuro é mais uma divisão étnica incluindo os curdos. Isto é o que Turquia não está vendo.
Por Atilla Kus*
*Cidadão curdo residente no Brasil