Em nome do terror
As transformações planetárias, dinâmicas e delicadas, e a complexa rede de interesses globais antagonizam cada vez mais o capital com a democracia
Por Abdul Haikal – do Rio de Janeiro
Definida pelo ex-Ministro da Justiça Tarso Genro como “primeiro passo para instauração de um Estado fascista”, a lei anti-terror brasileira foi uma imposição externa do Grupo de Ação Financeira (GAFI), organismo inter-governamental independente que emite “recomendações” e monitora suas aplicações aos países membros, visando combater o financiamento do terrorismo e do narcotráfico internacional. Nascido com pretensões nobres o GAFI cedeu espaço às hegemônicas opiniões do Banco Mundial e do FMI. Suas “recomendações”, adotadas por mais de 150 países, maquiaram leis supressoras de direitos e garantias individuais e coletivas. Incensaram modelos híbridos de totalitarismo em regimes democráticos.
O presidente da Turquia, Tayyep Erdogan, expôs os efeitos da lei anti-terror quando adequou a interpretação de “organização terrorista” e dar aparência de legalidade às estratégias de seu projeto de poder. Fechou jornais e TV’s, prendeu jornalistas, demitiu milhares de juízes, promotores públicos e professores. Com o DNA das recomendações do GFI a lei antiterror turca foi pretexto para promover o expurgo de mais de 70 mil pessoas, depois de uma polêmica tentativa de golpe militar.
Muitas vezes, recomendações amargas chegam em rótulos politicamente corretos. As intenções do Banco Mundial e FMI sempre vêm no espectro da desconfiança considerando suas práticas históricas. Governavam mais de 80 países, impondo receitas recessivas, desemprego, miséria e fome em países como o Brasil, sob o argumento “solidário” de liberar empréstimos para quitar compromissos financeiros internacionais. Os rentistas destes organismos têm o coração na sola do pé.
As transformações planetárias, dinâmicas e delicadas, e a complexa rede de interesses globais antagonizam cada vez mais o capital com a democracia. Enquanto o primeiro extrai seu poder do mercado o segundo extrai seu poder do voto. Em um contexto de globalização acionária a convergência de interesses das grandes corporações econômicas transnacionais influenciam decisões de organismos internacionais e instrumentalizam governos para proteger seus interesses mercadológicos e o acesso aos recursos naturais.
A tragédia de Mariana, a entrega do pré-sal brasileiro, a imigração forçada de milhões de refugiados de guerra sírios e os atos terroristas apresentam em suas causas, ou consequências, os mesmos beneficiários: o grande capital. Protagonistas poderosos, invisíveis aos olhos da opinião pública internacional, manobram nos bastidores e fora deles para ampliar seus interesses geopolíticos e econômicos às custas de tragédias humanas e ambientais.
Consolidam-se as estruturas do poder global em escala e profundidade jamais vistas. As corporações econômicas, abrigadas em entidades como o Council On Foreign Relations (CFR) o FMI e o Banco Mundial usam entidades, acordos e tratados internacionais para ajustar seus mecanismos de controle e coerção social. É o “poder” transformando governos em meros instrumentos do totalitarismo — de direita ou esquerda — que violam direitos e garantias individuais e violentam instituições democráticas para garantir interesses e privilégios do grande capital. Uma nova arquitetura de governança global se desenha no século XXI articulando o poder corporativo de forma sistêmica na estrutura dos Estados nacionais.
Neste cenário a democracia está definhando.