COMO REMEDIAR COM DECRETOS?
Como cientista política, neste exato momento o que mais me preocupa é entender como a reestruturação das instituições políticas será feita na Turquia. O país tem estado em choque após meses de consecutivos ataques do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão, grupo rebelde considerado terrorista) e do Estado Islâmico, e a noite de 15 de julho atingiu a Turquia a partir de seu núcleo. Mas neste momento, temo que nas notícias locais foquem apenas no nível mais “micro”. Não somos capazes de ver o panorama mais amplo. Muito também vem acontecendo em função dos decretos porque vivemos um estado de emergência.
Eu estava em Ancara na noite do golpe fracassado, e, como membro de uma geração que não havia vivido isso, fiquei extremamente assustada. Os mais velhos, que passaram por outros golpes, se chocaram porque ninguém poderia imaginar que soldados atacariam civis com tanta imprudência. Então, todos nos convencemos de que a “Organização Terrorista Fethullah Gülen” deve ser tratada sem misericórdia. Este ataque gerou mais medo nas pessoas do que décadas de terror do PKK e as imagens de horror do Estado Islâmico. Sendo assim, a maioria está disposta a dar carta branca para Erdogan. Acreditam que ele merece.
Meu medo, no entanto, é que quando as deliberações saem do desenho institucional, os resultados podem ser prejudiciais pelos próximos quatro ou cinco anos. Soluções casuais adotadas podem ser úteis numa emergência, mas tentar reconstruir as instituições que constituem o núcleo do Estado (agências de Inteligência, escolas militares, Forças Armadas e outras) sem deliberações podem causar mais males do que benefícios.
Estes decretos de emergência servirão para remediar os profundos problemas de longa data nas instituições estatais turcas? Acredito que não podemos nos debruçar sobre outros temas antes de descobrir como responder a esta questão.
Colunista do site especializado em Oriente Médio Al-Monitor e professora universitária na Califórnia, em depoimento a Breno Salvador