Diretor de TV turca e a perseguição do governo turco
Akin Ipek, que se opõe ao governo turco, afirma que controle midiático no país é digno de desprezo
No fim de outubro do ano passado, dias antes das eleições gerais na Turquia, um dos maiores conglomerados de mídia do país se calou. O grupo independente Koza Ipek teve uma transmissão ao vivo interrompida pelo governo, que o acusa de fornecer apoio financeiro e propaganda ao polêmico movimento islâmico Hizmet, o principal opositor ao presidente Recep Tayyip Erdogan. Em entrevista, o diretor da rede de comunicação, Akin Ipek, revelou detalhes sobre a perseguição do poder público, que se estendeu a ameaças a sua família, e o fez decidir deixar o país sem levar “sequer um dólar”.
Cerca de oito meses atrás, o governo designou tutores para controlar a sua empresa. Como isso começou?
O primeiro-ministro se opunha a uma perspectiva imparcial independente (nos meios de comunicação). Ele acredita que as críticas são insultos pessoais. Na verdade elas são boas, porque indicam a doença e fornecem tratamento. Eu não queria entrar em um pool midiático que é ilegalmente estabelecido pelo governo. Primeiro vieram os inspetores fiscais, depois todas as agências estatais pularam em cima de mim. Correram aos bancos para paralisar meu crédito, mas não conseguiram achar problemas em nossa conta. Retornaram de mãos vazias. Cortaram, então, nossa fonte de renda. Não podiam fazer mal, porque nosso grupo era muito forte. Então, começaram a difamar e a mentir sobre mim e minha família. Mas isso só aumentou o poder de nosso grupo, pois neguei todas as acusações no dia seguinte com documentos. Então, alguns dias antes das eleições, apontaram tutores, “ladrões de cavalos”, na liderança de todas as minhas empresas.
Empresários estão em custódia sob acusações de financiarem o Hizmet, considerado terrorista pelo governo. O que o senhor diria?
O Hizmet é um movimento humanitário. Fethullah Gülen (fundador do grupo) está pregando sem parar por mais de 30 anos. Ele escreveu centenas de livros e outras publicações. Eu lhes disse (ao governo): “Mostrem-me apenas uma frase ilegal ou antiética que pertença ao senhor Gülen”. Eles não conseguiram. Se existe um criminoso, quem quer que seja, deve ser encontrado e punido pela lei. Contudo, se existe um crime, ele pertence àquela pessoa. Você não pode queimar a cidade inteira dizendo que existem alguns criminosos nela, porque também está repleta de inocentes. Seria uma atitude insana, e nunca participarei dessa destruição em massa.
Sua família foi alvo de grupos midiáticos favoráveis ao governo. Pode descrever este processo?
Não permitiram que minha mãe entrasse em sua casa, onde viveu por 40 anos, colocando homens com cara de mafiosos na frente da porta. A única razão é porque me recuso a participar desse desprezível pool dos meios de comunicação controlado pelo Estado. Todos têm uma história de vida, e é difícil apagá-la uma vez que é escrita. Tentei mantê-la limpa para a minha família. No entanto, encarei os reflexos da mentalidade do Estado Islâmico, que distorce o Islã com a política e promove a ideia de que tudo pode ser feito para alcançar seus objetivos. Eu disse (ao governo) que o dinheiro não é tão importante para mim. Podemos viver sem ele. Colocaram meu irmão na cadeia, uma pessoa que não cometeu crimes. Nem ao menos leram ou ouviram sua defesa.
O senhor tentou mostrar documentos sobre ações do governo ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos, mas eles foram confiscados no aeroporto.
Estou trilhando o caminho da lei internacional. Ao mesmo tempo, respondo às difamações ao meu respeito nas mídias sociais. Estou trabalhando, tentando manter minha família sadia. A campanha de difamação deles não terá sucesso. As demonstrações financeiras de minhas empresas são auditadas por firmas internacionais e independentes. Veremos o que meu Senhor fará; e será lindo o que quer que faça.
POR YAVUZ UGURTAS
Fonte: oglobo.globo.com