Erdogan inaugura mesquita gigantesca na Turquia
Com seus minaretes que se elevam aos céus, a faraônica mesquita de Çamlica recebe nesta sexta-feira seus primeiros fiéis, concretizando um dos sonhos de grandeza do presidente turco Recep Tayyip Erdogan.
O presidente supervisionou pessoalmente a polêmica construção da mesquita monumental, a maior da Turquia, localizada nas colinas de Çamlica, na zona asiática de Istambul, e visível de qualquer ponto da cidade.
Os primeiros fiéis chegarão para as tarawih, as orações noturnas do mês sagrado do Ramadã, que serão realizadas no pátio, visto que as obras da mesquita ainda não foram concluídas.
Nem as ações judiciais, nem os protestos de arquitetos e ecologistas conseguiram deter a construção do complexo de Çamlica, iniciada em 2013.
A mesquita, com um superfície de 15.000 m2, inclui um pátio com capacidade para receber até 60.000 fiéis, uma enorme biblioteca, salas de conferência, um museu de arte turca islâmica e oficinas de arte.
Quatro dos seus seis minaretes medem 107,1 metros de altura, mais que os da mesquita de Medina, a segunda cidade sagrada do islã.
Com o complexo de Çamlica, o “sultão” Erdogan, como é chamado pelos seus críticos, quer seguir os passos dos grandes construtores do império Otomano.
O edifício é um megaprojeto, assim como o palácio presidencial de Ancara, de 1.150 quartos, o terceiro aeroporto e o canal de Istambul e a nova ponte do Bósforo.
As grandes obras se concentram em Istambul, cidade onde Erdogan foi prefeito e que serviu de trampolim para ele chegar ao cargo político mais alto do país.
Com seus “projetos aloucados”, nas suas próprias palavras, Erdogan pretende edificar uma “nova Turquia” para o centenário da república, em 2023, ano em que espera continuar sendo presidente.
A mesquita de Çamlica ilustra também o sonho do presidente sunita de entrar para a história como um grande líder do mundo muçulmano. Muitos acusam seu partido islamista conservador, AKP, de islamizar a sociedade turca laica.
Ostentação
Duas arquitetas, Bahar Mizrak e Hayriye Gül Totu, ganharam o concurso para esta construção de estilo clássico, criticada pela falta de originalidade.
“Em termos arquitetônicos, não há nada inovador, é uma cópia grosseira da Mesquita Azul”, declarou à AFP o urbanista Tayfun Kahraman. Esta joia de Istambul é obra do arquiteto otomano Mimar Sinan, e até agora era a única com seis minaretes da cidade.
Os opositores ao projeto insistem em que não fazia falta mais uma mesquita, e que os tesouros arquitetônicos do país não são escassos: a Mesquita Azul, a Basílica de Santa Sofia, a Mesquita de Solimão, além do fato de que Istambul conta com 3.317 mesquitas.
Lembram, ainda, que a colina de Çamlica era uma das últimas zonas florestadas que restavam na cidade.
“É uma zona natural protegida que dá identidade ao Bósforo há milhares de anos”, afirma Kahraman.
“Me parte o coração ver um edifício religioso construído sobre a maior beleza que Deus criou, a natureza”, acrescenta o urbanista.
Críticos apresentaram demandas ante a justiça contra os estacionamentos, estradas e túneis de acesso que foram construídos no local.
Erdogan viu na majestosa colina o lugar ideal para seu mega-projeto.
“Dentro de alguns anos, o lugar será mais bonito”, diz à AFP Ergin Külünk, um dos responsáveis pelo projeto.
Os tribunais desestimaram a demanda de anulação do projeto, mas outros processos legais sobre o assunto ainda estão em tramitação. As obras, no entanto, avançam mais rápido que a justiça.
Fonte: zh.clicrbs.com.br