Turquia quer silenciar as vozes contrárias
Sevgi Akarcesme diz que governo turco persegue toda a mídia, independente de posição
A ocupação do jornal de oposição “Zaman”, na última sexta-feira, foi apenas mais uma mostra de como a repressão contra jornalistas vem aumentando na Turquia. Em entrevista por telefone — não o seu próprio, com medo de represálias — Sevgi Akarcesme, editora-chefe do “Today’s Zaman” — versão em inglês da publicação — conta que foi agredida no dia em que a sede do diário foi invadida e denuncia que a publicação se transformou em uma peça do governo.
Dois interventores foram indicados para gerenciar o jornal após o pedido de um promotor de Istambul. Como isso funciona?
Ainda não está funcionando. Mas em menos de 48 horas, a nova administração transformou o “Zaman” numa peça de propaganda. Após a tomada brutal de todo o grupo de mídia, o novo administrador desligou os servidores para tentar destruir os arquivos.
A senhora foi demitida?
Ainda não. Mas não estou lá, estou tirando uns dias de folga.
Imagens mostram a senhora sendo empurrada por policiais na última sexta-feira. O que aconteceu exatamente naquele dia?
Eles tentaram me impedir de entrar. Pedi que eles saíssem do meu caminho, e um policial me pegou pelo braço para tentar me tirar dali. Eu disse que eles não podiam tocar em mim ou me remover dali, não importava se eu era mulher ou não. Então, dois deles me pegaram pelo braço, me empurraram e me ameaçaram. Fisicamente bloquearam todas as pessoas, homens ou mulheres.
A repressão contra jornalistas no país aumentou nos últimos anos?
A verdade é que a Turquia nunca teve uma boa relação com jornalistas, sempre fomos ameaçados. Mas agora se tornou um inferno para jornalistas. A mídia sempre esteve sob pressão, sempre fomos acusados, mas isso nunca foi tão escancarado. Agora estão lutando contra todos os veículos, querem ter controle total de toda a mídia, porque não querem ninguém falando sobre a corrupção e as violações à Constituição que ocorrem neste governo. Eles querem contar sua própria versão para as pessoas. Desde outubro, pelo menos quatro jornais foram tomados. É vergonhoso para a liberdade de imprensa na Turquia, nossas instituições de mídia estão sendo cercadas. Agora, resta apenas um jornal da oposição no país.
A repressão a apoiadores do clérigo Fethullah Gülen aumentou (o jornal era porta-voz do movimento “Hizmet”, fundado pelo pregador)?
Sim, porque o clérigo continua inspirando as pessoas na Turquia, mesmo estando fora desde 1998
Fonte: www.oglobo.com.br