Médicos Sem Fronteiras: Acordo Europa-Turquia é exemplo de cinismo
SÃO PAULO “Os líderes europeus perderam completamente a noção da realidade, e o acordo atualmente em negociação entre a União Europeia e a Turquia é um dos exemplos mais claros de seu cinismo.”
A ONG internacional Médicos Sem Fronteiras usou um tom duro para se referir ao projeto de acordo sobre migrantes que a União Europeia e a Turquia começaram a desenhar ontem, segunda-feira, em Bruxelas.
O rascunho do acordo prevê reenviar à Turquia todos os migrantes apanhados no mar Egeu – que separa a Turquia da Europa – ou que já chegaram à Grécia mas ainda não fizeram pedido de asilo no país.
Em troca, a UE aceitaria milhares de refugiados sírios, levando-os à Europa por caminhos seguros, sem que precisem fazer travessias em barcos perigosos e sem ficar à mercê de traficantes. Para cada migrante que for apanhado no mar Egeu, a UE se comprometerá a receber um refugiado de acampamentos turcos.
“Este cálculo bruto reduz as pessoas a meros números, negando-lhes um tratamento humano e descartando o seu direito de buscar proteção”, afirma o comunicado emitido nesta terça-feira pela MSF. A nota da MSF cita a cidade grega de Idomeni, na fronteira com a Macedônia, onde cerca de 13 mil migrantes estão bloqueados, sem poder avançar, após o fechamento da fronteira do lado macedônio e a adoção de medidas restritivas por vários países dos Bálcãs contra a entrada de viajantes.
“Em Idomeni, onde nossas equipes vêm substituindo as responsabilidades europeias por quase um ano, vemos as consequências desses cálculos irrealistas e desumanos sobre a vida e a saúde das pessoas. Essas pessoas não são números, mas mulheres, crianças, famílias, 88% das quais fogem de países produtores de refugiados.
” A organização afirma que a Europa, “claramente, está disposta a fazer qualquer coisa, inclusive comprometendo direitos humanos fundamentais e princípios de direito dos refugiados, para conter o fluxo de refugiados e migrantes”. Ao fim do comunicado, a ONG insta os líderes europeus a providenciarem a “única resposta realista e humana [para a crise de migração]: uma passagem legal e segura, assistência humanitária e proteção aos necessitados”.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) também se manifestou sobre o acordo nesta terça e se mostrou preocupado com “o envio indiscriminado de pessoas de um país para outro, sem levar em conta as garantias de proteção aos refugiados previstas no direito internacional”.
Fonte: www.valor.com.br