Perseguição à imprensa na Turquia deve aumentar
O partido governista turco AK vai conseguir facilmente os votos necessários para mudar a Constituição e estabelecer um presidencialismo que dê amplos poderes ao atual presidente, Recep Tayyip Erdogan –e o resultado será uma perseguição ainda maior a órgãos de imprensa na Turquia.
Essa é a opinião da influente ativista de direitos humanos Istar Gozaydin, chefe do Departamento de Sociologia da Gediz University.
Para ela, a intervenção do governo nos veículos de mídia do grupo Koza-Ipek foi só o começo da perseguição. “Por enquanto, o governo está silenciando órgãos de mídia ligados a Fethullah Gülen, mas em breve qualquer jornal ou TV crítico será fechado”, disse à Folha.
O clérigo Gülen, que tem milhões de seguidores na Turquia e no mundo, é acusado por Erdogan de organizar um Estado paralelo para derrubar o governo, ao infiltrar membros de seu movimento, o Hizmet, no Judiciário e Legislativo do país.
O clérigo era aliado de Erdogan, mas romperam quando um grupo de promotores e policiais ligados ao Hizmet começou a investigar suposta corrupção no círculo íntimo de Erdogan, em 2013. Gülen vive no exílio nos EUA, mas várias empresas ligadas a ele são alvo de perseguição.
Erdogan diz que “é necessário eliminar todos os traidores do Judiciário e do Legislativo”.
O resultado da eleição de domingo, em que o AKP recuperou a maioria no Parlamento que havia perdido no pleito de junho, surpreendeu a maioria dos analistas.
“A eleição mostrou que a maioria dos turcos não liga para violações à liberdade de imprensa ou para direitos humanos; para eles, o que importa é a estabilidade”, diz Gozaydin.
Em julho, o colapso do acordo de cessar-fogo com a facção curda PKK, considerada terrorista pelo governo, abriu caminho para uma série de atentados e confrontos com a polícia. Além disso, dois ataques terroristas, em Ancara e Suruc, mataram mais de 140 pessoas.
“De alguma maneira, o AKP conseguiu convencer a maioria do eleitorado de que é o único partido que pode trazer de volta a estabilidade, ainda que seja o próprio AKP que tenha criado boa parte da atual instabilidade.”
Para Gozaydin, é correta a percepção de que a União Europeia tem evitado criticar Erdogan, pois sua prioridade é negociar a questão da onda de refugiados que chega à Europa com o governo turco.
PATRÍCIA CAMPOS MELLO
Fonte: www.folha.com.br