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Trump pede por cessar-fogo no norte da Síria e impõe sanções à Turquia

Trump pede por cessar-fogo no norte da Síria e impõe sanções à Turquia
outubro 15
16:37 2019

O governo Trump exortou o presidente turco Recep Tayyip Erdogan a implementar um cessar-fogo imediato no norte da Síria e impôs sanções contra a Turquia na segunda-feira em resposta a sua agressão militar, já que a situação na região continuou a deteriorar depois da decisão do Presidente Trump de retirar as forças americanas.

O Vice Presidente Pence anunciou que ele e o conselheiro de segurança nacional Robert C. O’Brien liderariam uma delegação à Turquia no “futuro imediato” em um esforço para se acabar com a violência na região que tem se tornado cada vez mais um problema político para Trump em casa.

Pence disse que Erdogan e Trump se falaram por telefone na segunda-feira e que o presidente “comunicou-lhe muito claramente que os Estados Unidos da América quer que a Turquia pare com a invasão, implemente um cessar-fogo imediato e comece a negociar com as forças curdas na Síria para trazer um fim à violência.”

Trump tem enfrentado críticas intensas, incluindo de republicanos de liderança, por sua decisão de retirar as tropas, e tem estado sob pressão para conseguir que a Turquia recue sua incursão militar, que tem focado nos combatentes curdos que têm auxiliado os Estados Unidos no combate ao Estado Islâmico, também conhecido como ISIS.

“Por anos, os Estados Unidos e os nossos parceiros curdos sírios lutamos heroicamente para encurralarmos o ISIS e destruirmos seu califado físico,” disse o Líder da Maioria no Senado, Mitch McConnell (R-Ky.), na segunda-feira. “Abandonar essa luta agora e retirar as forças americanas da Síria recriaria as mesmíssimas condições que temos trabalhado tão duro para destruir e convidaríamos o ressurgimento do ISIS.”

As sanções têm como alvo os ministérios da Defesa e da Energia da Turquia, e também três altos funcionários turcos. Entre elas estava o ministro do interior, uma posição poderosa responsável pela segurança doméstica.

Apesar das medidas de sanção e de uma retórica dura de funcionários do governo, Trump continuou a defender sua decisão de retirar as tropas americanas da Síria apesar de ter sido alertado com antecedência de que isso resultaria no caos que está ocorrendo agora.

“Depois de derrotar 100% do Califado do ISIS, eu em maior parte retirei nossas tropas da Síria. Que a Síria e Assad protejam os curdos e combatam a Turquia por sua própria terra. Eu disse aos meus Generais, por que deveríamos estar lutando pela Síria e Assad para protegermos a terra de nosso inimigo?” tuitou Trump, referindo-se ao presidente sírio Bashar al-Assad. “Qualquer um que quiser auxiliar a Síria na proteção aos curdos está bom para mim, seja a Rússia, China ou Napoleão Bonaparte. Espero que todos se saiam bem, estamos a uma distância de 11.000 quilômetros!”

Juntamente às sanções, Trump também disse que as tarifas sobre as importações de aço da Turquia seriam aumentadas em 50 por cento e que os Estados Unidos suspendeu as negociações de um acordo comercial de 100 bilhões de dólares com o país.

Ao mesmo tempo que curdos sírios das Forças Democráticas Sírias batalhavam tropas do governo turco e duas milícias aliadas em vários pontos ao longo da fronteira na segunda-feira, forças do governo sírio leais a Assad começaram a entrar em cidades fronteiriças sob convite curdo, sob um acordo intermediado pela Rússia. Temores cresceram pela região de que uma guerra aberta poderia se iniciar entre a Turquia e as tropas sírias que acabaria envolvendo a Rússia e o Irã, os principais apoiadores de Assad.

Pence e o Secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, dirigiram-se aos repórteres no final da tarde e tentaram defender o presidente das críticas que dizem que ele essencialmente deu a Erdogan um sinal verde para invadir o norte da Síria durante uma ligação telefônica em 6 de outubro.

A Casa Branca soltou uma declaração após a ligação que dizia que Erdogan informou o presidente que a Turquia “estará em breve seguindo em frente com sua operação há muito planejada no norte da Síria” e que os Estados Unidos não apoiava a ação. A declaração, contudo, não fez menção do que Trump faria para se opor ou parar a agressão da Turquia.

“O Presidente Trump deixou bem claro que os Estados Unidos vai continuar a tomar ações contra a economia da Turquia até que levem a violência a um fim,” disse Pence sobre a ligação telefônica dos dois líderes na segunda-feira.

Conselheiros contaram a Trump na segunda-feira que sairia caro não fazer alguma coisa, que a ausência dos Estados Unidos na região poderia fortalecer o Irã, e que a situação deteriorante poderia prejudicá-lo politicamente, de acordo com pessoas familiarizadas com as discussões, que falaram sob a condição de anonimato para descreverem as conversas privadas.

“Foi um esforço de dias para pô-lo em uma posição melhor,” disse um funcionário sobre Trump, acrescentando que Pence e o Secretário de Estado, Mike Pompeo, foram essenciais nesse esforço.

As sanções são “feitas para focar a atenção da Turquia na gravidade da situação no norte da Síria,” disse um alto funcionário do governo, um dos vários que informaram os repórteres sobre as ações do dia sob a condição de anonimato imposta pelo governo.

Pence e O’Brien, disse o funcionário, “partiriam para Ancara assim que possível para verem se conseguem alcançar um acordo,” incluindo um cessar-fogo imediato e o início das negociações.

Quando lhe perguntaram se Trump havia provocado a incursão turca antes de tudo ao sinalizar uma retirada inicial de tropas americanas, uma autoridade respondeu bruscamente que “isso era uma coisa causada pela ação do Presidente Erdogan, depois de repetidos alertas de que isso seria uma má ideia, e que os Estados Unidos de forma alguma endossou essa atividade.”

Um pequeno número de tropas americanas na Síria, disse essa autoridade, não estava em uma “posição para parar um exército invasor.” Outra autoridade observou que “em vez de eles estarem cercados, e potencialmente ficarem no fogo cruzado … tivemos que focar na proteção [deles].”

A preocupação de Trump agora, essa autoridade e outras disseram, era o possível mal causado a civis e a fuga de detentos do Estado Islâmico sendo mantidos por curdos que voltaram agora sua atenção à Turquia.

Um funcionário disse que os Estados Unidos possui apenas informações limitadas sobre a atual condição de cerca de 10.000 detentos, aproximadamente 2.000 desses são de outros países. “Não temos uma grande presença na Síria; não podemos estar em todos os lugares e saber tudo,” disse a autoridade. Indicando que a maioria das informações veio de fontes da mídia livre, disse a autoridade, “Nós não podemos fornecer uma confirmação de dados específicos sobre o número de possíveis detentos que podem ter escapado.”

Quando perguntaram se, em sua ligação de segunda-feira, Erdogan havia dado a Trump uma indicação de que estava preparado para conformar-se às demandas por um cessar-fogo e negociações, um alto funcionário disse que “o presidente não estaria disposto  a enviar uma delegação de alto nível em curto prazo dessa forma a menos que estivesse bem confiante que haveria pelo menos uma chance de conseguir um cessar-fogo.”

Na semana passada, quando Trump se ofereceu para mediar entre os curdos sírios e a Turquia, as autoridades turcas recusaram firmemente, dizendo que os Estados Unidos não negociariam com “terroristas” e que não deveriam esperar que a Turquia fizesse isso.

O governo enfrentou uma pressão dos dois partidos do Capitólio para impor sanções contra a Turquia, e a decisão de Trump de retirar as tropas suscitou um clamor incomum entre os deputados do Partido Republicano que haviam de outra forma hesitado em criticar o presidente.

Em um tweet no começo da segunda-feira, o Dep. Adam Kinzinger (R-Ill.) chamou a abordagem de Trump para com a Síria de “fraqueza” e acrescentou: “Os EUA é bem mais honrável do que isso.”

O sentimento de raiva generalizado no Capitólio criou alianças incomuns. A Presidente da Câmara Nancy Palosi (D-Calif.) falou com o Senador Lindsey O. Graham (R-S.C.), um aliado próximo de Trump, no começo da segunda-feira e disse que os dois concordaram em buscarem uma resolução no congresso “para derrubarem a perigosa decisão do presidente na Síria imediatamente.”

O principal objetivo da resolução, de acordo com um assistente familiarizado com a estratégia, é mostrar um “consenso forte e bipartidário de que a decisão do presidente deve ser derrubada” e forçar Trump a assinar ou vetar.

Palosi e Graham também concordaram em trabalhar em uma medida contra as sanções, com a presidente da câmara insistindo em um pacote que era “mais forte” do que havia sido proposto pela Casa Branca. Dizendo que Trump “desencadeou uma escalada de caos e insegurança na Síria,” Palosi disse que o plano revelado pela administração no final da segunda-feira “é muito insuficiente para reverter esse desastre humanitário.”

Graham, que estava na Casa Branca na segunda-feira, contou a Trump que fazer com que Democratas e Republicanos concordem sobre sanções mostrariam que elas eram populares, que é essencial em conseguir que ele assine a legislação.

Os democratas continuam a massacrar Trump por sua decisão e dizem que ele é agora responsável por arrumar uma bagunça que ele criou.

“Enquanto o Congresso trabalha para combater a decisão imprudente do presidente, a única pessoa capaz de impedir imediatamente essa tragédia de se desenrolar é o próprio presidente,” disseram três dos principais senadores democratas — o Líder da Minoria, Charles E. Schumer (N.Y.); Robert Menendez, o democrata no Comitê de Relações Externas; e Jack Reed, o democrata no Comitê das Forças Armadas — em uma declaração conjunta na segunda-feira.

O acordo comercial pendente que Trump disse que seria paralisado era um elemento de um pacote que os Estados Unidos havia oferecido à Turquia antes da incursão começar. Ele foi uma tentativa de impedir a ofensiva e reparar as relações entre os dois países.

O Gabinete do Responsável Comercial dos EUA estimou que o comércio total entre os Estados Unidos e a Turquia foi de 24 bilhões de dólares em 2017. Essa estimativa não está nada perto dos 100 bilhões de dólares referidos por Trump apesar de que em junho o presidente disse na cúpula do Grupo dos 20 no Japão que os Estados Unidos estava buscando quadruplicar seu comércio com o Turquia enquanto se encontrava com Erdogan.

O Secretário do Comércio, Wilbur Ross, passou vários dias em Istambul e Ancara no mês passado fazendo reuniões com autoridades turcas com o objetivo de suivizar as relações comerciais entre os aliados da OTAN. Ele estava acompanhado por representantes da Câmara de Comércio dos EUA e cerca de 15 empresas, incluindo membros da Fortune 100.

Alguns peritos especularam que expandir o comércio com o Turquia nessa magnitude já era irrealista, eliminando alguns obstáculos da ameaça para suspender as negociações comerciais entre os dois países.

“É desonesto então alegar que não faremos o que era impossível de qualquer forma e sentirmos que estamos punindo Erdogan,” disse Michael Rubin, um analista no American Enterprise Institute. “Esse é o equivalente comercial de colocar a Turquia em liberdade condicional.”

Artigo escrito por Seung Min Kim e Karen DeYoung

Josh Dawsey, Dan Lamothe, David J. Lynch, Carol Morello and Felicia Sonmez contribuíram com este artigo.

Fonte: https://www.washingtonpost.com/politics/trump-says-he-will-soon-issue-order-authorizing-sanctions-on-turkey-over-its-incursion-into-syria/2019/10/14/ec0b9746-eea5-11e9-b2da-606ba1ef30e3_story.html

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