O Encontro Entre o Papa Francisco e os Yazidis, Grupo Étnico-Religioso Perseguido Pelo Estado Islâmico
Os yazidis constituem uma minoria étnico-religiosa curda antiga, no Oriente Médio, com ligações ao zoroastrismo. A maioria dos membros dessa comunidade vive ou é originária do norte do Iraque. Com a ascensão do Estado Islâmico naquele país e na Síria, esta minoria religiosa passou a ser perseguida e centenas foram mortos e muitas mulheres transformadas em escravas.
Desde que o Estado Islâmico invadiu o Iraque, em 2014, a situação dos yazidis tem se agravado. A barbárie da qual são vítimas, para além dos sequestros, mortes e destruição de templos religiosos, provocou a diáspora desse povo. Hoje, cerca de 60 mil integrantes dessa comunidade encontram-se refugiados na Alemanha, mas acredita-se que esse número possa ser o dobro, formando a maior população yazidi expatriada no mundo. A catástrofe que se abateu sobre os yazidis não é apenas um problema local, mas um assunto humanitário que necessita da ação concreta da comunidade internacional o que, até agora, segundo análises, não aconteceu de fato. A indispensável atuação da comunidade internacional em prol do direito de existir enquanto grupo étnico-religioso minoritário fez com que, na última quarta-feira, 24 de janeiro, o papa Francisco recebesse, no Vaticano, membros da comunidade yazidi residentes na Alemanha. Na ocasião o pontífice se solidarizou com as vítimas yazidis e destacou o fato de, no mundo, ainda haver perseguições motivadas porque alguns grupos religiosos, incluindo os cristãos, não pertencem à religião tolerada, em determinadas partes do planeta.
A defesa dos Direitos Humanos, que é um qualificativo evidente na personalidade e no exercício do pontificado do papa Francisco, lhe confere, enquanto chefe religioso e chefe de Estado, a capacidade de intervir em questões humanitárias mundiais de relevo, sobretudo, aquelas praticamente invisíveis a nível internacional. Foi neste sentido que o vigário de Cristo se referiu aos yazidis, de entre os quais muitos ainda se encontram em mãos de terroristas. Francisco apelou para o fato de que “a comunidade internacional não pode permanecer expectadora muda e inerte diante desse drama. Portanto, encorajo as instituições e as pessoas de boa vontade a contribuírem [para] a reconstrução das casas e dos locais de culto dessa comunidade”. O papa exortou para a necessidade de respeitar o ser humano e o direito dele existir independentemente da confissão religiosa que professa. Ciente da importância do respeito às diferenças para eliminar as perseguições e para a construção da paz, ele afirmou: “Mais uma vez levanto a minha voz a favor dos direitos dos yazidis, antes de tudo o direito a existir como comunidade religiosa: ninguém pode atribuir-se o poder de cancelar um grupo religioso porque não faz parte daqueles ‘tolerados’”.
O agravamento da condição de vida dos yazidis é uma consequência direta do fundamentalismo do Estado Islâmico, mas não só. Atualmente, os yazidis e os cristãos no Oriente Médio estão pedindo a intervenção da comunidade internacional, com a finalidade de salvaguardar as suas vidas. Pode-se afirmar que, no momento, as ameaças a estas minorias na região não são apenas de grupos terroristas, mas também de Estados. Há algum tempo a Turquia, por exemplo, encontra-se em confronto direto com os curdos ante o receio de que a autodeterminação dos mesmos possa levar à criação de um Estado curdo em território considerado turco. À primeira vista, este problema pode parecer ser puramente político e territorial mas, na verdade, não é. Há a tentativa de eliminar a minoria curda e, segundo observadores do Oriente Médio, isto poderá conduzir a novas perseguições contra os yazidis e os cristãos.
Marli Barros Dias
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Imagem:
O papa recebe membros da comunidade yazidi.
(Fonte):
http://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2018-01/papa-comunidade-yazidi.html
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