Os curdos, um povo sem Estado e em busca de reconhecimento
Os curdos são um povo sem Estado e com entre 25 e 35 milhões de pessoas presentes no Iraque, Irã, Turquia e Síria.
– Divididos entre quatro países –
Povo de origem indo-europeia, os curdos descendem dos medos da Pérsia antiga, que fundaram um império no século VII a.C.
Em sua maioria muçulmanos sunitas, com minorias não-muçulmanas e muitas vezes formações políticas e laicas, os curdos estão estabelecidos em uma área de cerca de meio milhão de quilômetros quadrados.
Seu número total varia segundo as fontes, de 25 a 35 milhões de pessoas. A maioria vive na Turquia (12 a 15 milhões, 20% da população do país), seguido do Irã (cerca de 6 milhões, menos de 10%), Iraque (4,69 milhões, entre 15% e 20%) e Síria (mais de dois milhões, 15%).
Situados em zonas do interior, os curdos conseguiram preservar seus diferentes dialetos, suas tradições e um modo de organização baseado em clãs.
Existem também importantes comunidades curdas no Azerbaijão, Armênia e Líbano, bem como na Europa, principalmente na Alemanha.
– Um sonho partido –
A queda do Império Otomano ao final da Primeira Guerra Mundial abriu caminho para a criação de um Estado curdo, previsto pelo tratado de Sevres de 1920, que o situava no leste da península turca de Anatolia e na atual província iraquiana de Mossul.
Mas após a vitória de Mustafa Kemal na Turquia, os Aliados modificaram sua decisão e, em 1923, o tratado de Lausanne instaurou o domínio da Turquia, Irã, Grã Bretanha (por Iraque) e França (por Síria) sobre as populações curdas.
– Conflitos com os poderes centrais –
Os curdos, que reivindicam a criação de um Curdistão unificado, são percebidos como uma ameaça à integridade territorial dos países em que estão estabelecidos.
Na Turquia, o conflito entre o governo e o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) foi retomado em 2015, acabando com as esperanças de uma resolução para esta crise que causou mais de 40 mil mortes desde 1984.
No Irã, confrontos esporádicos opõem as forças de segurança aos rebeldes curdos, cujas bases de retaguarda estão no Iraque. Após a revolução islâmica de 1979, ocorreu uma revolta curda que foi duramente reprimida.
No Iraque, os curdos perseguidos pelo regime de Saddam Hussein se rebelaram em 1991 após a derrota do exército iraquiano no Kuwait e estabeleceram uma autonomia de fato, que foi legalizada pela Constituição iraquiana de 2005.
Na Síria, os curdos sofreram décadas de marginalização e opressão pelo regime por reivindicar o reconhecimento de seus direitos. Eles adotaram uma posição de “neutralidade” em relação ao poder e a rebelião no início do conflito em 2011, antes de aproveitar o caos gerado pela guerra para instalar uma administração autônoma nas regiões do norte do país sob seu controle.
– Divisões internas –
Os curdos, que nunca viveram sob um poder centralizado, estão divididos em vários partidos e facções entre os quatro países. Às vezes transfronteiriços, estes movimentos são antagonistas, em função principalmente dos jogos de alianças com os regimes vizinhos.
No Iraque, os dois principais partidos curdos travaram uma guerra que deixou 3.000 mortos entre 1994 e 1998. Finalmente se reconciliaram em 2003.
– Luta contra os extremistas islâmicos –
Na Síria, as forças curdas lideram a aliança das Forças Democráticas Sírias (FDS), que combatem o grupo Estado Islâmico (EI) com o apoio de uma coalizão drigida pelos Estados Unidos.
Esta aliança lançou em novembro de 2016 a batalha para expulsar o grupo extremista de Raqa, sua “capital” de fato no norte do país.
No Iraque, os combatentes curdos peshmergas também participam na luta contra os jihadistas.
Originalmente publicado em: http://istoe.com.br